Como o protagonista do filme “Feitiço do Tempo” (1993), os deputados e a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, parecem presos a um dia que se repete indefinidamente quando se trata do brexit, a saída do país da União Europeia (UE).
A sensação de estar diante de um “dia da marmota” como o do longa-metragem, ou seja, de um presente eterno, em que pouco ou nada avança, foi reforçada nesta terça-feira (2), quando May anunciou que vai pedir à UE um novo adiamento do desligamento britânico do bloco.
É mais uma tentativa de ganhar tempo para tentar solucionar o impasse entre Executivo e Legislativo em torno do assunto.
“Este debate, esta discordância não podem se estender muito mais”, disse ela. “Isso está colocando deputados e todo mundo sob enorme pressão e é nocivo à política.”
May não estabeleceu uma nova data para o Dia D do brexit, mas sublinhou esperar que a separação aconteça antes de 22 de maio, para evitar que o Reino Unido tenha de participar das eleições para o Parlamento Europeu, que começam nesse dia.
Pelos termos acordados com o Conselho Europeu (colegiado de presidentes e primeiros-ministros do continente) em 21 de março, Londres teria até 22 de maio para se desligar da UE, desde que o acordo de “divórcio” fosse aprovado pelo Parlamento britânico até 29 de março (data original do adeus), o que não aconteceu.
Diante disso, a nova data-limite passou a ser 12 de abril, o que May tentará agora rever. O Conselho Europeu realizará uma cúpula de emergência no próximo dia 10.
No pronunciamento desta terça, a chefe de governo afirmou que irá convocar o principal líder da oposição, Jeremy Corbyn (Partido Trabalhista), para rodadas de negociação com vistas a desenhar uma proposta que seja palatável para além da bancada governista (ela mesma rachada em relação ao brexit).
Mas o texto-base, enfatizou a líder conservadora, seguirá sendo o pacto que ela fechou com a UE em novembro de 2018, depois de 19 meses de tratativas.
Segundo ela, se as conversas com Corbyn não resultarem em um único plano, várias opções serão submetidas à Câmara dos Comuns, que decidirá o itinerário do brexit.
Corbyn se disse muito contente com a perspectiva de debater com May a condução do processo.
“Reconhecemos [os trabalhistas] que ela fez um aceno, e reconheço minha responsabilidade em representar quem apoiou o partido nas últimas eleições e também quem, mesmo não o tendo feito, quer clareza e segurança em relação a seu próprio futuro.”
Também na terça, ao receber em Paris o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, o presidente da França, Emmanuel Macron, disse que Londres não deve dar como favas contadas que a UE conceda a postergação da data de saída do consórcio.
Segundo o francês, May precisará embasar o pedido com uma justificativa plausível e um plano de ação claro.
Na segunda (1º), os deputados britânicos rejeitaram quatro propostas alternativas elaboradas por colegas.
Foi a segunda vez em menos de uma semana que o Legislativo fracassou em apontar uma trilha para o brexit. Antes disso, o pacto de May já havia sido rechaçado três vezes.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.