Desigualdade na África do Sul cresceu até entre negros após apartheid

Concentração de terras nas mãos de fazendeiros brancos também contribuiu para disparidades

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São Paulo

Exceção no continente em relação a estatísticas confiáveis sobre renda, a África do Sul é considerada o país mais desigual do mundo. 

Apesar do fim do apartheid, em 1994, a disparidade entre pobres e ricos no país continuou subindo e se desdobrou em diferenças colossais mesmo entre sua população negra.

Didimatso Makgoka, 18, lava roupa em bacia do lado de fora de sua casa
Didimatso Makgoka, 18, lava roupa em bacia do lado de fora de sua casa - Guillem Sartorio/AFP

Na África do Sul, os 10% mais ricos capturam quase 70% da renda nacional. Como comparação, em países muito desiguais como Índia e Brasil, essa apropriação é pouco superior a 50%.

Enquanto metade dos sul-africanos vive com menos de US$ 5 (R$ 20) ao dia, os 10% mais ricos ganham o equivalente a US$ 290 (R$ 1.160). Em termos anualizados, é praticamente o mesmo que recebem os franceses dessa mesma faixa da elite.

Embora pareça contraintuitivo que o fim da segregação em 1994 tenha aumentado a desigualdade, o novo regime multirracial e sua Constituição provocaram um novo tipo de disparidade.

De fato a renda per capita dos negros sul-africanos aumentou nos últimos 25 anos, reduzindo um pouco a diferença com os brancos. 

Mas como os negros representam cerca de 80% da população e a desigualdade entre eles cresceu muito, os ganhos com a redução das diferenças entre negros e brancos acabaram sobrepujados. 

Especialistas em desigualdade concordam que as mudanças introduzidas no mercado de trabalho no pós-apartheid contribuíram para isso, especialmente a maior oferta de empregos mais bem remunerados no setor público para uma elite de negros educados.

Ao longo dos anos, essa elite negra pôde prosperar, educar melhor os filhos e abrir uma série de negócios bem sucedidos que surgiram com o fim dos boicotes internacionais que vigoraram contra o regime segregacionista até 1993.

Além disso, a distribuição da terra na África do Sul seguiu extremamente concentrada no pós-apartheid.

Apesar de algumas políticas no sentido contrário, até recentemente cerca de 70 mil fazendeiros brancos possuíam 85% da terra para a agricultura.

Durante o boom mundial das commodities nos anos 2000, essa elite agrícola branca multiplicou seus ganhos, barrando uma diminuição maior da diferença entre brancos e negros.

No período, ganhou mais sobretudo o 1% mais rico, que chegou a se apropriar de 21% da renda nacional.

Desde o fim do apartheid, em 1994, várias políticas de redistribuição de renda têm sido implementadas, algumas parecidas com o Bolsa Família, no sentido de melhorar as chances futuras dos jovens.

Ao mesmo tempo, o país tem mantido uma taxação elevada (de até 45%) sobre alguns tipos de renda dos mais ricos

Mas tudo isso tem sido insuficiente para quebrar a preponderância histórica dos brancos na apropriação da renda nacional.

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