Exceção no continente em relação a estatísticas confiáveis sobre renda, a África do Sul é considerada o país mais desigual do mundo.
Apesar do fim do apartheid, em 1994, a disparidade entre pobres e ricos no país continuou subindo e se desdobrou em diferenças colossais mesmo entre sua população negra.
Na África do Sul, os 10% mais ricos capturam quase 70% da renda nacional. Como comparação, em países muito desiguais como Índia e Brasil, essa apropriação é pouco superior a 50%.
Enquanto metade dos sul-africanos vive com menos de US$ 5 (R$ 20) ao dia, os 10% mais ricos ganham o equivalente a US$ 290 (R$ 1.160). Em termos anualizados, é praticamente o mesmo que recebem os franceses dessa mesma faixa da elite.
Embora pareça contraintuitivo que o fim da segregação em 1994 tenha aumentado a desigualdade, o novo regime multirracial e sua Constituição provocaram um novo tipo de disparidade.
De fato a renda per capita dos negros sul-africanos aumentou nos últimos 25 anos, reduzindo um pouco a diferença com os brancos.
Mas como os negros representam cerca de 80% da população e a desigualdade entre eles cresceu muito, os ganhos com a redução das diferenças entre negros e brancos acabaram sobrepujados.
Especialistas em desigualdade concordam que as mudanças introduzidas no mercado de trabalho no pós-apartheid contribuíram para isso, especialmente a maior oferta de empregos mais bem remunerados no setor público para uma elite de negros educados.
Ao longo dos anos, essa elite negra pôde prosperar, educar melhor os filhos e abrir uma série de negócios bem sucedidos que surgiram com o fim dos boicotes internacionais que vigoraram contra o regime segregacionista até 1993.
Além disso, a distribuição da terra na África do Sul seguiu extremamente concentrada no pós-apartheid.
Apesar de algumas políticas no sentido contrário, até recentemente cerca de 70 mil fazendeiros brancos possuíam 85% da terra para a agricultura.
Durante o boom mundial das commodities nos anos 2000, essa elite agrícola branca multiplicou seus ganhos, barrando uma diminuição maior da diferença entre brancos e negros.
No período, ganhou mais sobretudo o 1% mais rico, que chegou a se apropriar de 21% da renda nacional.
Desde o fim do apartheid, em 1994, várias políticas de redistribuição de renda têm sido implementadas, algumas parecidas com o Bolsa Família, no sentido de melhorar as chances futuras dos jovens.
Ao mesmo tempo, o país tem mantido uma taxação elevada (de até 45%) sobre alguns tipos de renda dos mais ricos.
Mas tudo isso tem sido insuficiente para quebrar a preponderância histórica dos brancos na apropriação da renda nacional.
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