Ao receber o prêmio de Pessoa do Ano da Câmara de Comércio Brasil-EUA, nesta quinta-feira (16), em Dallas, o presidente Jair Bolsonaro disse lamentar o cancelamento da viagem a Nova York para receber a homenagem. "Não posso ir na casa de uma pessoa onde alguém de sua família não me queira bem."
Mas completou que, apesar disso, continuará respeitando os nova-iorquinos, e que receber o prêmio era "um momento de felicidade ímpar".
Em discurso de pouco mais de dez minutos a uma plateia de empresários e investidores, Bolsonaro manteve sua postura de alinhamento ideológico com os EUA e a retórica de adoração ao país comandado por Donald Trump, mesmo após ter sido alvo de protestos de ativistas e políticos americanos nas últimas semanas.
Inicialmente, a homenagem a Bolsonaro seria entregue durante um jantar de gala no Museu de História Natural de Nova York. No entanto, ativistas e políticos fizeram campanha contra a presença de Bolsonaro na cidade, devido a declarações consideradas homofóbicas e críticas à política ambiental de seu governo.
A pressão, feita inclusive pelo prefeito Bill de Blasio, levou o governo a articular as pressas a mudança de destino, para que o prêmio fosse então entregue em Dallas. Há pelo menos duas semanas, o Itamaraty trabalha para montar uma agenda para Bolsonaro no Texas, mas não conseguiu compromissos que levassem a resultados concretos.
Além do prêmio nesta quinta, o presidente jantou com investidores e fez uma visita de cortesia ao ex-presidente dos EUA George W. Bush, na quarta (15).
Em seu discurso em Dallas, Bolsonaro repetiu que "o Brasil de hoje é amigo dos EUA" e que quer "o povo e os empresários americanos ao nosso lado". Disse que prestou continência à bandeira americana "em sinal de profundo respeito" ao país. Segundo ele, o Brasil tinha até há pouco "uma política de antagonismo" aos americanos, que eram "tratados como inimigos". Ele não citou nomes nem definiu quais políticas eram essas.
Disse esperar que a Argentina não siga o mesmo caminho da Venezuela e que o presidente Mauricio Macri está enfrentando dificuldades com a possibilidade de Cristina Kirchner ("amiga do PT") voltar ao poder.
Bolsonaro fechou o discurso errando o próprio bordão: "Brasil e Estados Unidos acima de tudo, Brasil acima de todos." A frase que costuma dizer, na verdade, é "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".
Antes de Bolsonaro falar, houve discursos dos ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores), almirante Bento Albuquerque (Minas e Energia) e Paulo Guedes (Economia).
Araújo voltou a apontar Bolsonaro como “o cara que vai salvar o Brasil” e que fará mudanças radicais no país. “O pensamento do presidente não é procurar controlar a máquina, mas acabar com a máquina e perder a chave dela. Essa máquina produziu desemprego e estagnação no Brasil”, afirmou.
Albuquerque falou sobre os futuros leilões nos setores de petróleo e gás no Brasil e disse que o governo trabalha para que mais empresas invistam em negócios nestas áreas. Também falou sobre possibilidades de investimento no setor de mineração.
Guedes disse esperar que a reforma da Previdência seja aprovada em 60 dias. Ele também falou sobre planos para desregulamentar o setor de petróleo e gás, o que levaria à queda no preço ao consumidor. “No segundo semestre, falaremos sobre voltar a crescer, quebrando o monopólio da exportação e distribuição de gás e petróleo. Isso vai reduzir os preços em 50%, e procuraremos com isso a reindustrialização do país, com base em combustível acessível”, afirmou.
Pouco antes do início do evento de premiação, que começou com um almoço promovido pelo World Affairs Council, cerca de 30 pessoas protestavam contra Bolsonaro. Eram grupos, principalmente, ligados às causas LGBT. Do outro lado da rua, aproximadamente 15 pessoas, parte delas vestida com camisetas da Seleção Brasileira de futebol, gritavam palavras de ordem a favor do presidente. Ambos os grupos deixaram o local antes do término do evento, que durou cerca de duas horas.
A mudança do local da premiação frustrou empresários e líderes que pretendiam se encontrar com Bolsonaro em Nova York, o que levou a um esvaziamento de sua agenda na visita a Dallas.
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