Descrição de chapéu Venezuela

Maduro cruzou fronteira ao prender vice-presidente do Parlamento, diz opositor

Para deputado Juan Andrés Mejía, comunidade internacional deveria reconhecer que diálogo com chavista já não é mais possível

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Buenos Aires

"A ditadura cruzou uma fronteira ao prender Edgar Zambrano. Nunca tinham prendido um parlamentar de cargo alto no exercício de seu mandato de forma tão grotesca, ilegal e inconstitucional", disse, em entrevista à Folha, o deputado oposicionista venezuelano Juan Andrés Mejía, 32.

Ele preside a comissão do Plano País e da Operação Liberdade, como foram batizadas as operações dos opositores liderados por Juan Guaidó para pressionar a ditadura de Nicolás Maduro.

Mejía se referiu à prisão, na noite de quarta-feira (8), do vice-presidente da Assembleia Nacional, Edgar Zambrano, que foi guinchado dentro de seu veículo por agentes do Sebin (Serviço de Inteligência Bolivariana).

Segundo informações de assessores da oposição, Zambrano foi levado ao Helicoide, obra arquitetônica icônica de Caracas, transformada atualmente em prisão política.

O deputado Juan Andrés Mejía, durante discurso em Caracas, em fevereiro - Federico Parra/AFP

"A prisão de Zambrano é um indicativo, entre outros, de que não há vontade de dialogar por parte de Maduro, muito menos de reestabelecer a democracia. Isso deveria ser reconhecido pela comunidade internacional, que o diálogo já não é mais possível", disse.

O deputado, que também tem uma sentença já emitida pelo Superior Tribunal de Justiça, diz não temer ser preso. "Não deixaremos de atuar mesmo que alguns de nós sejam presos. Maduro só vai poder diluir a Assembleia Nacional se prender a todos nós. Creio que a comunidade internacional deve levar essa possibilidade muito a sério e atuar."

O deputado afirmou ainda que Maduro cometeu um erro ao prender Zambrano, "porque isso une ainda mais a oposição, apaga as diferenças entre nós em busca de um objetivo comum".

Estendendo o assunto para a América Latina, ele crê que o que está em jogo hoje na Venezuela é "como as nossas democracias lidam com ditadores no século 21". "Se não conseguirmos tirar Maduro, abriremos as portas para que qualquer outro ditador na região possa fazer a mesma coisa. A responsabilidade é de todos os países."

Para ele, ainda, os eventos do dia 30 de abril, quando os líderes opositores Juan Guaidó e Leopoldo López, junto a um grupo de militares dissidentes, convocaram as pessoas às ruas na tentativa de depor o regime atual, mostrou que "Maduro não está tão fortalecido como parece, e o descontentamento das Forças Armadas é cada vez maior. Vai chegar a um ponto em que a permanência no poder de Maduro se mostrará insustentável."

Reação internacional

Os EUA e a União Europeia (UE) exigiram a libertação de Zambrano.

“A detenção arbitrária de Zambrano é ilegal e indesculpável. Maduro e seus cúmplices são responsáveis diretos pela segurança de Zambrano. Se não for liberado de imediato, haverá consequências”, alertou a Embaixada dos EUA na Venezuela.

“A detenção (...) constitui outra flagrante violação da Constituição do país”, denunciou a porta-voz de Relações Exteriores da UE, Maja Kocijancic. “É um ato que obedece a motivos políticos para silenciar a Assembleia Nacional.”

A UE fez uma advertência a Maduro: “A UE seguirá reagindo, por meio de diferentes instrumentos políticos, contra a continuidade da erosão das instituições democráticas, do estado de direito e dos direitos humanos”.

O Grupo de Lima, que reúne o Brasil e mais 13 países das Américas, condenou a prisão, que “representa um ato nulo e inconstitucional, uma vez que, de acordo com a Constituição venezuelana, o único órgão que pode retirar a imunidade parlamentar é a Assembleia Nacional”.

O presidente Jair Bolsonaro classificou a detenção como "ilegal e arbitrária" em uma publicação nas redes sociais.

Refúgio em embaixadas

Dois deputados da Assembleia Nacional buscaram refúgio em embaixadas em Caracas nesta quinta. 

Americo de Grazia entrou na representação diplomática da Itália no fim da tarde. Ele se junta à parlamentar Mariela Magallanes, que fez o mesmo na noite de quarta (8), horas após a prisão de Zambrano —ela é casada com um italiano e está em vias de obter sua cidadania. 

"Tenho de tomar precauções porque estamos falando não de um governo, mas de uma corporação criminosa", disse Grazia na quarta. Em uma rede social, ele agradeceu na quinta ao país pela recepção mas não confirmou que teria pedido asilo. 

O deputado Richard Blanco, por sua vez, se refugiou na embaixada da Argentina.

Membro do partido Aliança do Povo Corajoso, ele teria entrado na representação diplomática durante a manhã. Autoridades argentinas confirmam sua presença "como convidado". 

Blanco e de Grazia estão entre os parlamentares contra quem há uma ordem de prisão emitida pela Justiça venezuelana, ligada ao regime de Nicolás Maduro.

Os dois, assim como Magallanes, tiveram suas imunidades retiradas pela Suprema Corte, igualmente controlada pelo chavismo, na última semana. 

Outros membros da Assembleia Nacional começaram a buscar proteção e a evitar atividades públicas depois da prisão de Zambrano.

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