Descrição de chapéu The New York Times

Saudado como herói, estudante morreu depois de enfrentar atirador em universidade nos EUA

Ataque a tiros ocorreu em universidade de Charlotte, nos EUA, na terça-feira (30)

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Charlotte (EUA) | The New York Times

Um alerta disparou em telas de computadores e telefones espalhados pelo campus. As instruções eram simples, mas urgentes: “Corra, esconda-se, lute. Proteja-se agora mesmo.”

Mas Riley Howell não podia correr nem se esconder. O atirador já estava em sua sala de aula. Por isso, segundo autoridades, ele se jogou contra o atirador, que já tinha disparado vários tiros, e o imobilizou até a chegada da polícia.

“Não fosse pela ação dele, o atirador talvez não tivesse sido desarmado”, disse o chefe do departamento de polícia de Charlotte-Mecklenberg, Kerr Putney, falando de Howell, uma das seis vítimas de um massacre no campus da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte na noite de terça-feira (30 de abril). “Infelizmente, ele entregou a própria vida. Mas seu sacrifício salvou a vida de outros.”

Estudantes e professores ainda estavam em choque na quarta-feira depois do ataque que deixou dois estudantes mortos, um deles Riley Howell, e quatro feridos. Putney disse que o número de mortos poderia ter sido muito maior não fosse pela intervenção de Howell, que tinha 21 anos e era ex-goleiro de futebol no colégio.

Riley Howell. em foto de formatura do ensino médio - T.C. Roberson High School/The New York Times

“Ele é meu herói”, falou Lauren Westmoreland, namorada de Howell havia quase seis anos. “E agora é também o meu anjo.”

A polícia identificou o atirador como Trystan Andrew Terrell, 22. Ele recebeu duas acusações de homicídio e quatro de tentativa de homicídio. A arma usada no massacre teria sido comprada legalmente.

Putney se negou a comentar a possível motivação do atirador ou se algum estudante na sala de aula tinha sido visado especificamente. Mas disse que Terrell conhecia o prédio e que sua escolha de focar esse local foi intencional.

Estudantes disseram que Terrell assistiu a aulas na UNC Charlotte, mas que não foi visto na universidade nos últimos meses.

Na terça-feira, o último dia de aula, os estudantes se preparavam para os exames finais e a formatura. A aula da disciplina LBST 2213, sobre antropologia e filosofia da ciência, estava prevista para começar às 17h30 no Kennedy Hall.

A aula estava sendo dada por Adam Johnson e os alunos pretendiam fazer apresentações em equipe. Eles tinham passado o semestre analisando questões filosóficas como “o que é a ciência?” e “o que é a evolução?”.

Miranda Finch, 20, estava sentada diante de uma grande mesa circular assistindo a uma apresentação de um trabalho sobre a galáxia. Sua equipe seria a próxima e daria uma palestra sobre lobotomia e choques elétricos.

Ela ouviu três disparos. Contou que não teve certeza do que era o som, porque nunca antes ouvira o som de um tiro.

Finch não tinha ouvido ninguém entrando na sala. Ela não teve certeza se o agressor entrara em silêncio ou se apenas se levantou de uma cadeira diante da mesa mais perto da porta. Mas estava ali, apontando uma arma.

“Olhei para ele e via a arma apontada para minha mesa e para mim”, ela contou.

Tristan Field, 19, estudante do segundo ano, disse que o atirador começou a disparar dez minutos depois de a aula começar. Estava tudo quieto, ele disse, até a violência começar. As pessoas começaram a gritar e fugir.

Field disse que foi o silêncio anterior aos tiros o que mais ficou em sua cabeça. “O único som era o do vídeo da apresentação”, ele disse, “mas então, de repente, soaram tiros e tudo virou um caos.”

Uma bala atingiu de raspão o rosto de uma amiga de Finch. Outro rapaz na mesa deles caiu ao chão.

Então uma bala atingiu uma terceira pessoa. Três dos quatro estudantes feridos no massacre estavam sentados a essa mesa, a uns seis metros da porta. Todos faziam parte do grupo de Finch e estavam esperando o momento de apresentar seu trabalho.

Finch e sua amiga saíram da sala correndo e entraram em um prédio do outro lado da rua. A amiga se sentou e ficou chorando.

“Ela me pediu para olhar para o seu quadril. Quando olhei, percebi que era um ferimento de bala. Foi a primeira vez na vida que vi um ferimento assim”, disse Finch. Ela aplicou pressão sobre a ferida até a chegada de socorristas. Então voltou para casa ensanguentada.

Tristran Field também estava entre os estudantes que fugiram. Em um tuite, mais tarde, ele tentou processar o que acontecera. “Por que aqui?”, escreveu. “Por que hoje? Por que na UNC Charlotte? Por que na minha sala? O que foi que fizemos?”

Os seis mortos ou feridos eram todos estudantes da universidade. Além de Riley Howell, de Waynesville, Carolina do Norte, morreu Ellis R. Parlier, 19, de Midland, Carolina do Norte.

Howell tinha pensado em fazer carreira militar ou no corpo de bombeiros antes de se matricular na universidade, onde estava cursando estudos ambientais. Seus pais disseram que ele era um atleta destemido que curtia desafios, “quer fosse saltar de um penhasco e mergulhar na água ou participar de competições de levantamento de pesos na academia”.

Estudantes participam de cerimônia em homenagem às vítimas em Charlotte - Logan Cyrus - 1.mai.2019/AFP

Eles disseram: “Quando ele resolvia fazer alguma coisa, não desistia nunca, não se entregava e dava tudo de si”.

Parlier, também conhecido como Reed, formou-se em 2017 na Academia Central de Tecnologia e Artes, um colégio altamente conceituado de Monroe, Carolina do Norte, onde estudou computação. Seu sonho era desenvolver videogames. Nas horas livres ele dava aulas particulares a estudantes secundaristas em Charlotte.

A universidade identificou os estudantes feridos como Sean DeHart, 20, e Drew Pescaro, 19, ambos de Apex, Carolina do Norte; Emily Houpt, 23, de  Charlotte, e Rami Alramadhan, 20, de Saihat, na Arábia Saudita. Três deles ainda estavam hospitalizados na noite de quarta-feira.

O ambiente da universidade na quarta-feira, normalmente animado e festivo, estava “parado e sem emoção”, segundo o estudante Devin Chase Martin, 23, que fez um curso de história com Terrell, o atirador, mas não o conhecia pessoalmente. Cerca de 7.500 pessoas, em sua maioria estudantes, lotaram uma arena para uma vigília noturna que teve a presença do governador do estado, Roy Cooper, e outras autoridades estaduais e locais.

Sem saber o que estava acontecendo em relação ao ataque, alguns estudantes passaram horas escondidos em salas de aula na terça-feira antes de perceberem que poderiam sair em segurança.

Também eles passaram a quarta-feira se recuperando.

O reitor Philip L. Dubois disse que a universidade vai seguir adiante com as cerimônias de formatura previstas para começar no fim de semana. Uma das estudantes feridas, Emily Houpt, está entre a turma dos que vão se formar. Dubois disse que ela vai subir ao palco.

Mas os exames finais foram adiados até a próxima segunda-feira pela manhã. O reitor disse que a escola será flexível com os estudantes que ainda não se sentem em condições de estudar e prestar exames.

Tradução de Clara Allain

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