Marido aquece campanha de Pete Buttigieg à Presidência dos EUA

Chasten registra nas redes sociais cotidiano com pré-candidato democrata gay e o acompanha em atos

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São Paulo

Quando criança, ele lia Harry Potter e cantava Céline Dion a plenos pulmões enquanto tirava o pó dos armários com a mãe. Enquanto isso, seus dois irmãos, ambos mais velhos, cortavam lenha com o pai.

Durante o ensino médio, notou que sentia algo de estranho. Naqueles anos de adolescência, Chasten sofreu bullying, ouviu palavrões dos colegas e foi empurrado pra lá e pra cá pela sua mochila.

Chasten Glezman Buttigieg (esq.) ao lado de seu marido, Pete Buttigieg
Chasten Glezman Buttigieg (esq.) ao lado de seu marido, Pete Buttigieg - AFP

Até que, no último ano de escola antes de ingressar na universidade, decidiu passar uma temporada de estudos na Alemanha. A vida no exterior lhe deu coragem para contar a seus colegas de intercâmbio o que sentia.

Ao retornar para a minúscula Traverse City, cidade de 15 mil habitantes no interior do estado do Michigan, onde nasceu, Chasten Glezman reuniu seu pai e sua mãe para a revelação.

Por medo de ficar excessivamente nervoso e não conseguir pronunciar as palavras de um fato que definiria sua vida, passou a eles uma carta. Nela, contava que era gay. Ele tinha 18 anos.

Mais de uma década depois daquele momento, Chasten pode se tornar o primeiro "primeiro cavalheiro" a morar na Casa Branca. Ele é marido do pré-candidato democrata à Presidência Pete Buttigieg, com quem se casou há um ano, em uma cerimônia transmitida ao vivo pela internet. Agora, atende por Chasten Buttigieg.

Pete Buttigieg (esq.) beija Chasten ao lançar sua pré-candidatura, em South Bend (Indiana)
Pete Buttigieg (esq.) beija Chasten ao lançar sua pré-candidatura, em South Bend (Indiana) - Scott Olson - 14.abr.19/Getty Images/AFP

Ele está licenciado de seu emprego como professor de humanidades do primeiro ano do ensino médio de uma escola de South Bend, Indiana --onde mora com Pete e dois cães--, para acompanhar a pré-campanha do marido, prefeito da pequena cidade de inclinação conservadora. 

"Ele viaja comigo metade do tempo e definitivamente levou mais do que barganhou", disse Buttigieg, o primeiro candidato abertamente gay da história dos EUA, em entrevista recente à CNN.

 
O improvável casal virou o centro das atenções dos anúncios das pré-candidaturas às eleições presidenciais americanas de 2020

"Pete Buttigieg saiu da quase total obscuridade para a linha de frente dos democratas, estando à frente ou mesmo em igual posição a candidatos mais estabelecidos e atrás somente de Joe Biden e Bernie Sanders", escreveu a revista Time no início de maio. A capa da edição trazia uma foto do casal e o título "Primeira Família".

O próprio Chasten vem impulsionando a publicidade da dupla, ao registrar para seus 156 mil seguidores no Instagram o cotidiano do casal e os atos de campanha de Pete. 

Fotos de Buttigieg cumprimentado a vizinhança de South Bend no feriado que homenageia soldados mortos em combate se alternam com imagens fofas dos cachorros do casal, Truman e Buddy, além de cliques do dia a dia incluindo closes de copos de café e céus azuis.

A saída do armário de Chasten não foi fácil, a começar pela resposta dos pais quando souberam. "Lembro-me da minha mãe chorando, e a primeira coisa que ela me perguntou foi se eu estava doente. Eu acho que ela queria dizer algo como 'você tem Aids'?", disse ao jornal The Washington Post.

Ele também contou que, diante dessa reação, decidiu sair de casa e dormir em seu carro e em sofás de casas de amigos por alguma semanas, até receber uma ligação de sua mãe pedindo que voltasse. 

Um de seus irmãos, Rhyan Glezman, que se define como "seguidor de Jesus Cristo" no Twitter, diz que o ama mas que não suporta "o estilo de vida gay" até hoje.

Não bastasse, Chasten também revelou que, no ano em que se assumiu gay, foi violentado sexualmente por um conhecido em uma festa. 

Talvez seu passado faça com que os direitos da comunidade gay sejam tópico constante de seus posts em redes sociais e de suas falas em eventos públicos. 

"Consegui casar com o homem que amo graças a um [único] voto da Suprema Corte, por trás do qual estão anos de luta", disse, em um jantar da Human Rights Campaign (campanha pelos direitos humanos), maior organização civil americana que advoga pelas minorias sexuais. 

O Supremo americano decidiu em 2015, por cinco votos a favor e quatro contra, que casais do mesmo sexo têm o direito de casar em todo o território americano. 

Mas Chasten lembrou que "a luta não terminou quando o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi legalizado. Americanos transexuais e em particular mulheres negras trans enfrentam altas taxas de homicídio".

Apesar do engajamento, Chasten reconheceu em uma entrevista para o canal de TV CBS que ele não era politizado até encontrar Pete. 

A eventual eleição de seu marido, disse, pode "trazer uma nova perspectiva sobre a Casa Branca e atrair pessoas para a política".

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