Descrição de chapéu The New York Times

Palco de massacre, escola Columbine pode ser demolida para afastar admiradores

Sobreviventes e alunos são contra plano apresentado pela direção do colégio nos EUA

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Julie Turkewitz Jack Healy
Littleton (Colorado) | The New York Times

Nos 20 anos passados desde o massacre na Columbine High School, a escola virou uma atração turística macabra para curiosos e obcecados. Eles vêm de países como Brasil e Japão na esperança de percorrer os corredores da escola e procurar os armários dos dois atiradores adolescentes. Os visitantes aparecem todos os dias, e o número aumenta a cada ano.

Agora, em um esforço para frear a escalada de ameaças à escola e diminuir a atração perversa exercida pela escola sobre imitadores e chamados “columbiners”, os responsáveis pelo colégio apresentaram uma proposta radical: demolir a escola.​

Estudantes da Columbine High School, em foto de 2018
Estudantes da Columbine High School, em foto de 2018 FILE PHOTO: Students arrive for class at Columbine High School before participating in a National School Walkout to honor the 17 students and staff members killed at Marjory Stoneman Douglas High School in Parkland, Florida, in Littleton, Colorado, U.S., March 14, 2018. REUTERS/Rick Wilking/File Photo ORG XMIT: FW1 - Rick Wilking/Reuters

“O fascínio mórbido por Columbine vem aumentando ao longo dos anos”, escreveu na quinta (6) Jason Glass, superintendente das Escolas Públicas do Condado de Jefferson, em carta aberta intitulada “Uma nova Columbine?”. “Achamos que é hora de nossa comunidade considerar essa possibilidade.”

Líderes da escola disseram que ainda estão na fase inicial de exploração de possibilidades, mas que uma ideia seria demolir boa parte da estrutura existente e reconstruir a escola mais longe da estrada, em um lugar onde a entrada no terreno da escola poderia ser controlada e ônibus turísticos não tivessem acesso tão fácil a ela. O colégio conservaria suas cores, prata e azul, e seu mascote, os Rebels.

Seu nome continuaria a ser Columbine High School.

A ideia divide a comunidade de alunos atuais de Columbine, sobreviventes do massacre de 1999 e familiares das vítimas, que compartilham um amor enorme pela escola. E ainda provocou um debate sobre a possibilidade de escolas, igrejas e outros locais devastados por massacres exorcizarem seu legado, demolindo os prédios em que a violência aconteceu.

“Meu coração fala ‘nem pensar’”, disse Josh Lapp, 36, que estava na biblioteca naquele dia em que dois atiradores adolescentes entraram e começaram a disparar, matando 12 alunos e um professor. “Isso não vai mudar nada.”

Alguns sobreviventes disseram que suas recordações da dor e do processo de superação ainda estão vinculadas às paredes de concreto de Columbine. Para eles, o prédio deve ser preservado. Outros acham improvável que as autoridades escolares consigam acabar com a atração sombria exercida por Columbine se simplesmente reerguerem o colégio no mesmo terreno e mantiverem seu nome.

Na sexta (7), Ana Lemus-Paiz, que se formou recentemente em Columbine, disse que a maioria dos estudantes com quem falou é contra a ideia de demolir o prédio. Ela se incluiu nessa maioria.

Lemus-Paiz ainda não tinha nascido em 1999, quando o massacre aconteceu, mas disse que fez parte de um processo de superação da comunidade, que incluiu retomar a escola. Segundo ela, o mundo pode olhar para o prédio e enxergar nele a Columbine de 1999, um símbolo de tragédia, mas a comunidade já seguiu adiante. “Esse prédio é um símbolo de força”, ela disse. “Nossa comunidade realmente se uniu para mostrar que somos mais fortes do que o que aconteceu.”

Lemus-Paiz acha que a demolição da escola não ajudaria muito a reduzir o fluxo de visitantes. “Enquanto o nome Columbine permanecer, como deve, as pessoas vão continuar a vir.”

O vigésimo aniversário do massacre, em abril, serviu para demonstrá-lo. O plano era que a data fosse lembrada com orações e memoriais, mas, em vez disso, centenas de escolas no Colorado foram fechadas enquanto as autoridades procuravam desesperadamente por Sol Pais, uma mulher armada de 18 anos que, segundo autoridades policiais, era obcecada pelo massacre, havia feito ameaças e tinha viajado da Flórida para o Colorado.

John McDonald, o diretor de segurança das escolas públicas do condado de Jefferson, que inclui Columbine, descreveu o que aconteceu como “uma peregrinação”.

Jason Glass, o superintendente escolar, citou Pais como exemplo do que preocupa Columbine e disse que todos os anos as autoridades de segurança escolar barram centenas de pessoas flagradas invadindo o campus ou tentando entrar na escola. O número de pessoas flagradas este ano foi o maior já visto.

“A maioria vem para satisfazer uma curiosidade ou um interesse macabro, mas inofensivo, pela escola”, ele escreveu. “Um pequeno grupo de outras pessoas pode ter a intenção de fazer o mal.”

Uma nova escola poderia ser construída nas proximidades da atual. Uma das ideias é preservar a biblioteca do colégio, onde dez estudantes foram mortos, e convertê-la num elemento fundamental do novo campus.

O distrito escolar lançou uma pesquisa online para moradores da área, pedindo que deem sua opinião sobre uma medida que seria colocada para votação prevendo a alocação de até US$ 70 milhões (R$ 269,5 milhões) para a construção. Não há prazo para a decisão ou para a possível obra.

Tradução de Clara Allain 

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