Descrição de chapéu Governo Trump

Peça busca atingir Donald Trump pelo riso

Leitura baseada na investigação do procurador especial Robert Mueller é agitação e propaganda política

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The Investigation: a Search for the Truth in Ten Acts

  • Elenco John Lithgow, Joel Grey e outros
  • Direção Scott Ellis
  • Disponível em lawworksaction.org

“The Investigation” é teatro “agitprop” no que este tem de melhor, não só como agitação e propaganda política, mas como demolição derrisória, como moralização ou desmoralização pelo riso.

Foi apresentada na segunda-feira (24) em leitura pública com transmissão online, na neogótica igreja batista de Riverside, em Nova York, e disponibilizada em seguida no site da organização Law Works.

É uma adaptação do relatório de 448 páginas apresentado em março pelo procurador especial Robert Mueller, concentrada no que pode, quem sabe, levar ao impeachment de Donald Trump: sua aparente tentativa de obstrução da própria investigação.

John Lithgow, ao centro, como Trump, em cena da montagem The Investigation
John Lithgow, ao centro, como Trump, em cena da montagem The Investigation - Jenny Anderson/Divulgação

Em 75 minutos, passa por cima do motivo original do inquérito, que era levantar interferências russas na eleição americana de 2016, para focar o que talvez ainda tenha consequência político-judicial. Ou seja, é arte utilitária.

O texto foi adaptado por Robert Schenkkan, autor de “All the Way”, retrato do ex-presidente Lyndon Johnson que levou o Tony de melhor peça há cinco anos. E traz como protagonista John Lithgow, que até uma semana atrás interpretava Bill Clinton na peça “Hillary & Clinton” —e que já venceu duas vezes o Tony de melhor ator.

Apesar de amontoar celebridades de Broadway e Hollywood, “The Investigation” é Teatro Documentário na linhagem estabelecida há quase um século pelo diretor e teórico alemão Erwin Piscator e que aportou ao Brasil com Augusto Boal.

A adaptação é dividida em dez “atos”, que visam momentos como aquele em que Trump pressiona seu então secretário de Justiça, Jeff Sessions, a interferir na investigação de Mueller —que havia sido indicado por Sessions.

A personalidade agigantada do presidente americano conduz a apresentação, com diálogos e “one-liners” (tiradas) coletados por Mueller e destacados para efeito cômico por Schenkkan. São frases como “my God, this is the end of my presidency, I’m fucked” (Meu Deus, este é o fim da minha presidência, estou fodido).

Lithgow parodia Trump, incorpora e esgarça seus gestos, o tom de voz, os esgares, cortando os demais antes de terminarem de falar, compondo um personagem amoral e quase infantil que rouba a cena, tirando gargalhadas a cada nova intervenção.

É secundado, nos diálogos de humor próximo do cabaré que inspirou Piscator, por Joel Grey (de “Cabaret”, musical e depois filme) como um Jeff Sessions desorientado, de olhar baixo e temeroso como o original.

Também por Jason Alexander (da série “Seinfeld”) como um irônico Chris Christie e por Michael Shannon (do filme “A Forma da Água”) como um sério e profissional Don McGahn, que contrastam com o exuberante Trump.

Também contrastam e realçam assim o desempenho cômico de Lithgow os dois narradores de “The Investigation”, feitos por Annette Bening, que dá voz às opiniões pontuais do próprio Schenkkan, e Kevin Kline, que lê compassadamente como se fosse Mueller.

Não faltam participações menos expressivas do amplo elenco, inclusive um momento de desatenção amadora, mas trata-se afinal de propaganda política, em que algumas das celebridades entram com seu apoio nominal, não o talento.

E nada garante que tenha o efeito buscado, pelo contrário, embora a leitura talvez deva ser compreendida como parte de campanha maior, que deve culminar com o depoimento do próprio Mueller ao Congresso dos Estados Unidos, no próximo dia 17.

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