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Senadores republicanos avisam Casa Branca que bloquearão tarifas ao México

Trump quer taxar importações do país em até 25% caso fluxo migratório para os EUA não seja detido

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Washington Post

Senadores republicanos alertaram representantes da administração Trump na terça-feira (4) de que estão dispostos a bloquear o esforço do presidente para impor tarifas às importações do México, prometendo que será a resistência mais aberta de parlamentares republicanos a Trump desde que ele chegou à Presidência.

Em um almoço a portas fechadas, pelo menos seis senadores manifestaram oposição às tarifas e ninguém expressou apoio, segundo várias pessoas presentes, que pediram anonimato para falar.

Senadores disseram a funcionários da Casa Branca e do Departamento de Justiça que, se Trump levar seu plano adiante, a questão pode ser submetida a um voto de reprovação. E, desta vez, diferentemente de uma resolução anterior de desaprovação, as vozes que se opõem às tarifas de Trump podem ter apoio suficiente para passar por cima de um possível veto do presidente.

“Acho que a administração deveria se preocupar com a possibilidade de outro voto de desaprovação de outra lei de emergência nacional, desta vez para tentar implementar tarifas”, disse o senador republicano Ron Johnson, do Wisconsin, resumindo a mensagem que transmitiu a representantes da administração. “As tarifas não são bem vistas na conferência republicana. Este é um voto diferente.”

O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, confirmou: “Na minha conferência não há muito apoio às tarifas”. Ele disse que os senadores esperam que as negociações com o México sejam frutíferas e que as tarifas não se concretizem.

O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell - Mark Wilson/Getty Images/AFP

A reunião de almoço aconteceu apenas horas depois de Trump, em entrevista coletiva dada em Londres, ter reiterado sua intenção de impor tarifas a partir da próxima semana e dito que seria “uma insensatez” se senadores republicanos tentassem impedi-lo. As tarifas de 5% sobre todos os produtos mexicanos, previstas para subir gradativamente para 25%, visam forçar o México a tomar medidas para barrar a maré de migrantes centro-americanos que tentam entrar nos Estados Unidos.

Os advogados da administração que participaram da reunião não deixaram claro se a Casa Branca vai aproveitar a emergência nacional vigente na fronteira que Trump declarou anteriormente este ano para justificar a imposição de tarifas –ou se vai emitir uma nova declaração de emergência nacional.

Mas alguns republicanos disseram que a oposição às tarifas que Trump pretende impor ao México é tão profunda que um número suficiente de senadores republicanos vai se dispor a desafiar o presidente em qualquer voto de desaprovação que envolva as taxas.

“Eu sou totalmente contra as tarifas”, disse o senador republicano Kevin Cramer, do Dakota do Norte, quando perguntado se achava que haveria pelo menos 20 votos republicanos contra as tarifas de Trump sobre o México. Somados aos votos democratas, formariam uma margem à prova de qualquer veto do presidente. “Em vista de tudo que está em jogo, o USMCA (o novo acordo comercial entre EUA, México e Canadá), a China –em vista de tudo isso e considerando que as tarifas arriscariam sufocar o tremendo crescimento econômico do qual agora podemos nos gabar, especialmente no ciclo descendente das commodities agrícolas, há um cansaço com o fato de tarifas serem a única ferramenta que é usada.”

São necessários dois terços dos votos na Câmara e no Senado para derrubar um veto presidencial.

“Não ouvi muitos senadores, ou mesmo nenhum, dizendo que queriam tarifas”, comentou o senador Mike Braun, de Indiana.

Na coletiva de imprensa em Londres, Trump disse que as negociações com o México vão continuar ao mesmo tempo em que ele segue adiante com as tarifas.

“É mais provável que as tarifas continuem, e provavelmente vamos negociar enquanto as tarifas estão vigentes”, disse o presidente na entrevista coletiva conjunta com a primeira-ministra britânica Theresa May.

Funcionários da Casa Branca se preparavam na terça-feira para implementar as tarifas na próxima semana. O secretário de Estado Mike Pompeo e outros altos funcionários da administração pretendem se reunir com líderes mexicanos nesta quarta-feira (5), mas funcionários da Casa Branca fizeram questão de não detalhar ações específicas que preveem que o México possa adotar para fugir das tarifas. Alguns assessores de Trump acham que o presidente gosta de negociar a partir de uma posição de força e acha que terá mais poder de influir sobre o México se as tarifas estiverem em vigor.

Quanto à discussão republicana sobre um voto de resolução de desaprovação para bloquear as tarifas, Trump disse “acho que eles não farão isso, acho que se o fizessem seria burrice”.

Ele acrescentou: “Nada é mais importante que as fronteiras. Venho tendo apoio republicano tremendo.”

Na semana passada Trump chocou parlamentares americanos e líderes mexicanos ao anunciar que a partir de 10 de junho vai impor uma tarifa de 5% sobre todos os bens importados do México. A tarifa será elevada a cada mês se a fronteira mexicana com os EUA não for fechada a migrantes.

Parlamentares republicanos avisaram a Casa Branca que as tarifas podem colocar em risco a aprovação de uma versão revista do Acordo Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta), de 1994, mas Trump não mudou de posição.

Na terça-feira ele sugeriu que o México pode tomar medidas para evitar as tarifas. Representantes mexicanos manifestaram otimismo quanto às chances de chegarem a um acordo para evitar as penalidades.

“O México não deveria deixar milhões de pessoas tentarem entrar em nosso país. Ele poderia acabar com isso muito rapidamente, e acho que vai”, disse Trump. “E se não acabar, vamos impor tarifas. E a cada mês essas tarifas vão subir, de 5% para 10%, depois 15%, 20% e até 25%.”

O tom de Trump ao falar com jornalistas em Londres formou um contraste com o do chanceler mexicano Marcelo Ebrard, que, em coletiva de imprensa em Washington na terça-feira, disse que seu país tem 80% de chances de fechar um acordo.

O México lançou uma ofensiva vigorosa para evitar as tarifas americanas.

Os ministros mexicanos da Economia, da Agricultura e outros estão se reunindo com seus colegas americanos, e delegações de parlamentares e empresários mexicanos estão viajando a Washington para argumentar contra as tarifas. As penalidades podem afetar gravemente o México, 80% de cujas exportações são feitas aos Estados Unidos, seu maior parceiro comercial.

Numa coletiva de imprensa no México na terça-feira, o presidente Andrés Manuel López Obrador disse que confia que as duas partes cheguem a um acordo antes de 10 de junho.

Trump disse a repórteres que seus assessores principais vão se reunir com representantes mexicanos nesta quarta-feira e que “vamos ver se podemos fazer alguma coisa, mas acho mais provável que as tarifas entrem em vigor”.

Organizações republicanas tradicionais do empresariado também anunciaram oposição forte às tarifas. Algumas estão pedindo ao Congresso que tome medidas. A organização Americanos pela Prosperidade, apoiada pelos irmãos Koch, enviou uma carta a líderes do Congresso na terça-feira descrevendo as taxas propostas como “a maior alta de impostos na história moderna” e dizendo que “é hora de o Congresso fazer seu trabalho”.

“Em vista do dano potencial à nossa economia e a nossos interesses nacionais, pensamos que é hora de o Congresso retomar sua autoridade prevista na Constituição de impor tarifas e impedir mais aumentos unilaterais de tarifas decretados pelo presidente”, diz a carta.

Autoridades mexicanas indicaram que estão dispostas a tomar novas medidas para limitar o movimento de migrantes para a fronteira dos EUA, mas não descreveram publicamente as medidas.

A administração Trump fez uma lista de três ações que quer da parte do México: fortalecer sua fronteira sul com a Guatemala; intensificar a interdição de ônibus cheios de migrantes que atravessam seu território de modo irregular; concordar em receber candidatos a asilo, em lugar de permitir que avancem até a fronteira dos EUA.

As autoridades mexicanas descartaram a possibilidade de atender à terceira exigência.

Nos últimos dois meses as autoridades americanas detiveram mais de 100 mil migrantes na fronteira mexicana. Desde o início do ano o México quase triplicou as deportações que realiza mensalmente, mas ainda assim está tendo dificuldade em lidar com o fluxo crescente de migrantes.

Erica Werner , Seung Min Kim , Damian Paletta e Mary Beth
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