Aeroporto de Hong Kong tem voos cancelados pelo 2º dia e disparo de bombas de gás

Milhares de manifestantes antigoverno protestam no local; assista a vídeo

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Hong Kong e São Paulo | AFP e Reuters

Hong Kong voltou a viver um dia de caos nesta terça-feira (13), com novos confrontos entre manifestantes pró-democracia e forças de segurança dentro do aeroporto internacional.

Com isso, todos os voos do território foram cancelados pelo segundo dia consecutivo. Esta é a décima semana consecutiva de protestos contra o governo e os atos têm se tornado cada vez mais violentos

 
Os voos só foram retomados na manhã desta quarta (14, noite de terça no Brasil), após os manifestantes deixarem o local.  

As tensões aumentaram ainda mais após o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmar nesta terça que a inteligência americana detectou que a China está movendo tropas para a fronteira de Hong Kong —ele não apresentou provas da afirmação. 

Viajante tenta entrar em portão de embarque durante protesto no aeroporto de Hong Kong - Philip Fong/AFP

"Espero que se resolva pacificamente e que ninguém se machuque. Espero que ninguém seja morto", afirmou sobre a situação no país.  

Na segunda, o jornal estatal Global Times, ligado a Pequim, já tinha afirmado que tropas chinesas estavam se deslocando para a região de Shenzhen, cidade que faz fronteira com Hong Kong. Segundo a publicação, elas realizariam exercícios militares no local.   ​

Desde que o Reino Unido devolveu o território a Pequim em 1997, as tropas chinesas nunca invadiram Hong Kong, que tem sua segurança feita apenas pelas próprias forças locais.

Sem citar a declaração do americano, a chefe-executiva de Hong Kong, Carrie Lam, afirmou que o território corre o risco de ser "esmagado" caso a situação não se resolva. 

"A violência levará Hong Kong a um caminho sem retorno e afundará sua sociedade em uma situação muito preocupante e perigosa", disse ela, quem tem o apoio de Pequim, mas que enfrenta pedidos de renúncia por parte dos manifestantes.  

Desde o início da manhã desta terça (madrugada no Brasil), milhares de manifestantes usando máscaras e cartazes com críticas ao regime chinês ocuparam o saguão do aeroporto internacional, repetindo assim o protesto de segunda (12), que também tinha levado a suspensão de todos os voos  

Usando armas e armaduras, tropas policiais cercaram o local ainda pela manhã, mas inicialmente permaneceram do lado de fora, enquanto os manifestantes criaram barricadas para impedir sua entrada.     

Os ativistas também fizeram bloqueios na entrada da área de embarque, usando carrinhos de bagagem, o que gerou confrontos com passageiros que tentavam embarcar, segundo a CNN. Com a confusão, o aeroporto acabou cancelando todas as decolagens.  

Apesar disso, muitos passageiros seguiram dentro do terminal, pois aguardam orientações para remarcar a viagem. Desembarques também continuaram ocorrendo, apesar da presença dos manifestantes.  

A companhia aérea Cathay Pacific, a principal do território, recomendou a seus clientes que se mantenham longe do aeroporto até quarta-feira (14).

De tarde, um pequeno grupo de agentes entrou no aeroporto, mas foi encurralado e atacado pelos manifestantes. 

Os policiais afirmaram que entraram no local para resgatar uma pessoa que estava ferida e que os manifestantes acusavam de ser um agente infiltrado —sua identidade não foi confirmada. 

Houve brigas entre os próprios manifestantes, com pessoas que defendiam que o homem ferido ele fosse levado e outros que queriam mantê-lo ali. 

O impasse durou mais de uma hora e um novo grupo de agentes, dessa vez usando cassetetes, spray de pimenta e bombas de gás, entrou no local e entrou em confronto com os ativistas. Ao menos cinco pessoas foram detidas —já são mais de 600 desde o início de junho.    

Um outro homem também foi amarrado por manifestantes, que o acusaram de fingir ser um jornalista. Mas o editor do jornal Global Times, Hu Xijin, afirmou em uma rede social que o homem era um repórter da publicação e ele acabou sendo retirado do local pouco depois. 

A situação se acalmou depois de algumas horas conforme os ativistas deixaram o local. Isso ocorreu após o governo conseguir uma liminar na Justiça ordenando a retirada dos manifestantes do aeroporto. 

​O fechamento do oitavo aeroporto mais movimentado do mundo, conhecido por sua eficácia, foi anunciado no momento em que o governo chinês afirmou observar "sinais de terrorismo" nos protestos realizados no território semiautônomo. 

A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu na terça-feira às autoridades de Hong Kong que exerçam moderação e investiguem evidências de que suas forças de segurança disparam gás lacrimogêneo contra manifestantes de maneira proibida pela lei internacional.

"Autoridades podem ser vistas atirando bombas de gás lacrimogêneo em áreas fechadas e lotadas e diretamente em manifestantes em várias ocasiões, criando risco considerável de morte ou ferimentos graves", disse Bachelet em um comunicado.

A missão da China para a ONU, em Genebra, por sua vez, rejeitou a "injusta declaração de Bachelet". Os chineses afirmam que a fala da comissária interfere em assuntos domésticos do país e envia um sinal errado a agressores criminosos e violentos.

Ex-colônia britânica, Hong Kong passou ao domínio chinês em 1997. No entanto, a região possui sistemas políticos e judiciais diferentes do resto da China. Os ativistas acusam o governo de Pequim de tentar restringir essas liberdades . 

A atual onda de protestos surgiu após o projeto de uma polêmica lei de extradições que permitiria o envio de condenados para a China para serem julgados por tribunais controlados por Pequim, considerados menos justos do que os de Hong Kong.

O projeto foi suspenso, mas os manifestantes continuam exigindo sua retirada final, bem como a renúncia de Lam. 

Na semana passada, uma greve geral paralisou parte dos transportes, levou ao cancelamento de mais de 200 voos e gerou reflexos no mercado financeiro.

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