Quem brinca com fogo morre queimado, adverte China a manifestantes de Hong Kong

Território vive onda de fortes protestos há dois meses contra autoridades

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Pequim | AFP

Pequim fez nesta terça-feira (6) a advertência mais dura até agora aos manifestantes de Hong Kong, que desafiam há dois meses o regime comunista, e afirmou que não devem subestimar o "imenso poder" do governo central da China.

"Deve ficar muito claro para o pequeno grupo de criminosos violentos e sem escrúpulos: quem brinca com fogo morre queimado", afirmou Yang Guang, porta-voz do Escritório de Assuntos de Hong Kong e Macau.

Manifestantes mascarados dão entrevista coletiva em Hong Kong nesta terça (6) - Vanessa Yung/AFP

Um dia depois de uma jornada de caos na megalópole do sul da China, com greve geral e perturbações nos meios de transporte que acabou com 148 detidos, o governo de Pequim elevou o tom com a esperança de convencer os manifestantes pró-democracia a voltar para casa.

"Nunca subestimem a firme determinação e o imenso poder do governo central", declarou Yang, que voltou a acusar os militantes pelos distúrbios. "No fim serão punidos", insistiu.

Quase ao mesmo tempo, os manifestantes falaram pela primeira vez à imprensa em Hong Kong para, segundo eles, "apresentar um contrapeso ao monopólio do governo sobre o discurso político a respeito do tema".

Três membros do movimento vieram com máscaras no rosto e vestidos com camisa preta e um capacete amarelo de operário, traje emblemático dos protestos, que não tem nenhum líder designado pelo temor de represálias. 

"Pedimos ao governo que devolva o poder ao povo e responda aos pedidos dos cidadãos de Hong Kong", declararam, lendo comunicados em inglês e em cantonês.

A advertência de Pequim foi a mais contundente feita desde o início dos protestos, em junho, contra um projeto de lei que permitiria a extradição de habitantes de Hong Kong para a China.

O projeto foi suspenso, mas os manifestantes exigem a retirada definitiva do texto e a renúncia da chefe do Executivo local, Carrie Lam.

Yang reiterou o apoio de Pequim a Carrie Lam e à polícia de Hong Kong na repressão aos protestos. O governo chinês, que não tolera protestos na China continental, negou-se até o momento a intervir em Hong Kong.

Na semana passada, no entanto, o Exército chinês divulgou um vídeo que mostrava cenas de soldados reprimindo um protesto em Hong Kong.

Em virtude do acordo assinado com o Reino Unido em 1984, a ex-colônia britânica continua gozando de liberdades inexistentes no continente. Mas os manifestantes afirmam que temem uma erosão das liberdades ante a crescente influência do poder chinês na metrópole de 7 milhões de habitantes.

Em tese, o Exército chinês, que tem uma guarnição de milhares de soldados em Hong Kong, não deve interferir nos assuntos do território. Mas o comandante desse setor recordou na semana passada que a lei autoriza uma intervenção para restabelecer a ordem, a pedido das autoridades locais.

Tal intervenção reavivaria o fantasma da repressão das manifestações da chamada Primavera de Pequim de 1989, cujo número de mortos nunca foi confirmado, mas pode ter chegado a milhares. E também poderia provocar uma catástrofe financeira em um dos maiores mercados da Ásia.

Na segunda-feira (6) à tarde, após a greve geral, foram organizadas sete manifestações simultâneas. Um desafio para as forças de segurança após dois meses de protestos. A polícia usou gás lacrimogêneo em pelo menos quatro pontos da cidade, especialmente nas proximidades do Parlamento local.

Após os distúrbios do fim de semana, os manifestantes bloquearam na segunda-feira no horário de pico diversas estações de metrô para impedir a saída dos trens.

As autoridades anunciaram que usaram mais de mil cilindros de gás lacrimogêneo e 160 balas de borracha desde o início do movimento, em 9 de junho. 

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