Há 18 anos, estudantes de uma escola pública de Nova York acompanharam das janelas de suas salas de aula as torres do World Trade Center serem atacadas e desmoronarem.
Com idade média de 15 anos, os jovens eram descendentes de coreanos, ucranianos, bengaleses e de imigrantes de outros países que foram fazer a vida nos EUA. Eles cursavam o último ano do ensino secundário no colégio Stuyvesant, a poucos quarteirões do WTC, ao sul de Manhattan.
Hoje adultos e bem-sucedidos profissionalmente, eles rememoram o atentado que inaugurou o século 21 no documentário “A Quatro Quadras das Torres: o 11 de Setembro em Stuyvesant”, que estreia nesta quarta (11) na HBO.
Os depoimentos explicitam a perplexidade com o que viram. Os jovens imaginavam que os ataques dariam fim ao seu sonho americano, por terem herdado dos familiares a idealização de que os Estados Unidos eram o país perfeito.
A diretora Amy Schatz conta que não era sua intenção inicial focar comunidades étnicas que viriam a sofrer represálias após o atentado, mas sim fazer um filme para crianças.
“Estava interessada em falar com ex-alunos da escola porque pensava que a experiência de jovens durante o 11 de Setembro seria interessante para um programa [sobre os ataques] voltado a crianças”, diz. “Foi por acidente que encontrei esses entrevistados.”
Os personagens do filme foram escolhidos por terem participado de uma peça de teatro sobre o 11 de Setembro apresentada na escola Stuyvesant nas semanas seguintes à queda das torres. Era uma forma de os adolescentes lidarem com o horror que vivenciaram.
Enquanto colhia os depoimentos para o documentário, Schatz se deu conta de que o conteúdo valia um filme à parte do projeto voltado para quem não era nascido antes do 11 de Setembro.
Um dos entrevistados relembra a história de uma garota chamada Nazia: ela fugia do local dos atentados e, pelo fato de vestir um hijab (véu usado por algumas mulheres muçulmanas para cobrir a cabeça), foi chamada de “vadia”.
Aquele momento seria um dos primeiros de uma espécie de vingança desencadeada em Manhattan contra comunidades de imigrantes do Oriente Médio e do Sudeste Asiático, então responsabilizadas pelos atentados que deixaram 2.753 mortos.
Nos meses seguintes, muçulmanos e paquistaneses perderam empregos, e mesquitas foram pichadas com palavras de ódio —episódios pouco enfatizados pela imprensa à época, segundo o documentário.
Quase duas décadas mais tarde, não é difícil compreender como tal desprezo ainda persiste nos EUA.
Logo após assumir a Presidência, em janeiro de 2017, Donald Trump baniu temporariamente vistos de cidadãos de sete países, a maioria deles muçulmanos.
Além das conhecidas imagens dos aviões se chocando com os arranha-céus, o documentário de cerca de 30 minutos traz cenas impressionantes da multidão abandonado os prédios ao redor das torres.
Milhares de pessoas corriam desesperadas enquanto os edifícios colapsavam e o céu era engolfado por uma gigantesca nuvem de fumaça.
Jatos de guerra sobrevoavam a região, e o metrô não funcionava, o que só aumentou o caos.
Schatz, documentarista com especialidade em produções para crianças a respeito de temas sensíveis como o Holocausto e as mudanças climáticas, não abandonou a ideia de fazer um filme sobre o atentado para os pequenos.
Seu outro documentário, “O Que Aconteceu em 11 de Setembro”, de tom didático e conteúdo mais leve, também será lançado nesta quarta (11).
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