Descrição de chapéu Governo Trump

Polêmica com Ucrânia é mais uma na vida de filho de Biden

Procurador de país europeu não encontrou indícios de corrupção na atuação de Hunter

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São Paulo

Filho do meio do ex-vice presidente Joe Biden, Hunter Biden, 49, tornou-se nesta semana o pivô de um escândalo que pode levar ao impeachment do presidente dos EUA, Donald Trump.

Advogado com mestrado em direito pela Universidade Yale, Hunter entrou para a diretoria da Burisma Holdings, a maior empresa privada de gás da Ucrânia, em abril de 2014.

Ele foi contratado um mês após a Rússia anexar a Crimeia, onde a Burisma tinha operações de extração de gás.

os três desembarcam de avião
Joe Biden, quando era vice-presidente dos Estados Unidos, ao lado da neta Finnegan e do filho Hunter, ao desembarcarem em Pequim  - Ng Han Guan - 4.dez.13/Reuters

Nesta época, seu pai ia à Ucrânia com frequência: ele era o encarregado de representar os Estados Unidos frente à crise internacional gerada pela anexação. Biden pai era também a interface dos Estados Unidos com o vizinho russo: ele foi ao menos 12 vezes para Kiev entre 2009 e 2017.

Hunter entrou para a diretoria da empresa após começar a procurar oportunidades de negócios fora dos EUA, valendo-se da influência do pai. 

Na mesma época de sua contratação, a Burisma passava por uma crise. Seu fundador, o magnata Mikola Zlochevski, era investigado pelo procurador Viktor Shokin por supostos abuso de poder e desvio de dinheiro público.

O inquérito era relativo ao período em que Zlochevski serviu como ministro do Ambiente sob o governo de Viktor Ianukovich, deposto um mês antes da anexação da Crimeia.

Ainda que Zlochevski e a empresa que fundou tenham negado qualquer irregularidade, Hunter foi contratado para ajudar a Burisma a melhorar suas práticas corporativas. Ele aconselharia em “transparência, governança corporativa e responsabilidade”, afirmou a companhia.

De acordo com informações da Bloomberg, Hunter não era pago diretamente pela Burisma. Seu salário, em torno de US$ 50 mil (cerca de R$ 208 mil) mensais, aterrissava em sua conta corrente via Rosemont Seneca Bohai LLC, empresa americana de um parceiro comercial seu, Devon Archer, que também fazia parte do corpo diretor da firma de gás ucraniana. 

Não está claro por que o pagamento era roteado.

Mas as investigações de Shokin contra a Burisma não avançaram, e o governo americano forçou a Ucrânia a demitir o procurador. Biden pai levou a mensagem a Kiev: se Shokin não fosse retirado do cargo, US$ 1 bilhão (R$ 4,1 bilhões) em ajuda americana à Ucrânia não seriam liberados.

Shokin foi demitido em março de 2016, e o empréstimo, aprovado poucas semanas mais tarde. Ainda que as investigações contra a Burisma andassem a passos lentos antes de Shokin deixar o cargo, a questão que ficou foi: por que Biden teria forçado o governo ucraniano a demitir o procurador que investigou supostas ilegalidades da firma onde seu filho trabalhava?

Com a sombra de Biden ou não, lideranças ocidentais esperavam que Shokin processasse agressivamente a extensa corrupção no país —totalizando dezenas de bilhões de dólares— que autoridades descobriram entre Ianukovich e seus associados.

A opinião pública então rapidamente se voltou contra ele. Shokin era visto como alguém que processou insuficientemente e, certas vezes, ocultou casos contra os funcionários da era Ianukovich.

Hunter Biden, filho do pré-candidato democrata Joe Biden, participa de evento filantrópico em Nova York
Hunter Biden, filho do pré-candidato democrata Joe Biden, participa de evento filantrópico em Nova York - Astrid Stawiarz/Getty Images North America/AFP

Até o momento não há qualquer evidência de que Hunter esteja implicado em irregularidades ou crimes na Ucrânia.

Ele foi inocentado por Iuri Lutsenko, procurador que sucedeu Shokin. “Do ponto de vista da legislação ucraniana, ele não violou nada”, afirmou o investigador ao jornal The Washington Post.

O testemunho de Lutsenko é relevante, pois Trump e seu advogado pessoal e ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, tentam levantar suspeitas sobre a conduta de Hunter e seu pai na Ucrânia.

Em entrevista à revista New Yorker, em julho, Hunter diz não que falava sobre seus negócios na Ucrânia com seu pai. Eles teriam tocado no assunto apenas uma vez, lateralmente.

O atual escândalo envolvendo o filho do pré-candidato democrata à Presidência é mais um numa vida marcada por episódios conturbados.

Em 1972, quando tinha apenas dois anos, sofreu um grave acidente de carro no qual morreram sua mãe e sua irmã mais nova. Ele e seu outro irmão, Beau, sobreviveram.

Beau morreu de câncer há quatro anos, e a viúva começou a namorar Hunter. O romance foi aprovado pelo pai e sua mulher, Jill: “Temos sorte de Hunter e Hallie se reencontrarem no momento em que voltavam a reconstruir suas vidas após tanta tristeza. Eles têm nosso apoio total e completo e estamos felizes por eles”, afirmaram em 2017.

Hallie foi a segunda mulher de Hunter, após Kathleen Buhle, com quem tem três filhos: Naomi, Finnegan e Maisey.

Ele se casou neste ano pela terceira vez, com a cineasta sul-africana Melissa Cohen, 32, a quem pediu em casamento apenas uma semana depois de tê-la conhecido.

Hunter tem também um histórico de abuso de álcool e drogas, conforme contou à revista New Yorker. Ele começou a beber adolescente e usou cocaína e crack durante a graduação em história na Universidade de Georgetown.

No início dos anos 2000, tentou ficar sóbrio: entrou para a reabilitação em 2003 e ficou limpo pelos sete anos seguintes, quando bebeu durante uma viagem de negócios.

Em 2013, foi selecionado para ser oficial reserva da Marinha, mas foi dispensado após ter testado positivo para cocaína. Meses mais tarde, se internou em uma clínica no México para lidar com alcoolismo.

Nos últimos anos, teve diversos episódios de idas e vindas com as drogas, acentuados pela morte do irmão em 2015. Seu pai sempre esteve a seu lado: “Hunter tem passado por momentos difíceis, mas ele está lutando.” 

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