Descrição de chapéu The Washington Post Governo Trump

Elogiado por Trump, procurador da Ucrânia foi acusado de fazer vista grossa à corrupção

Viktor Shokin renunciou em 2016 após pressão popular e sanção do governo Obama

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David L. Stern
Kiev (Ucrânia) | The Washington Post

No universo político polarizado do presidente Donald Trump, de um lado havia um ex-procurador da Ucrânia "muito bom" e, do outro, pessoas "muito ruins".

Mas, como costuma ser o caso, não é assim tão simples.

O ex-procurador em questão é Viktor Shokin, 66, que se tornou procurador-geral da Ucrânia em 2015 com promessas de travar uma batalha inflexível contra a corrupção depois que uma agitação política derrubou um presidente pró-Rússia e trouxe uma liderança de aparência ocidental.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump - Nicholas Kamm/AFP

Na época, foi uma mensagem bem recebida por grandes doadores, como Estados Unidos, União Europeia e Fundo Monetário Internacional.

Entre as empresas na mira de Shokin, estava a companhia ucraniana de gás natural Burisma Holdings.

Um ano antes, o filho do então vice-presidente americano Joe Biden, Hunter Biden, havia ingressado no conselho da Burisma e estava em um escritório de advocacia contratado pelo proprietário da Burisma, ex-membro do governo ucraniano, Mikola Zlochevski.

Shokin, no entanto, rapidamente se viu envolvido em suas próprias questões. Críticos reclamaram que ele não cumpriu suas promessas de investigar profundamente a Ucrânia.

No final de seu mandato de 13 meses, Shokin foi desprezado pelo governo Obama e outros que antes elogiaram sua nomeação.

"Ouvi dizer que você tinha um promotor muito bom e que ele foi desligado, isso é muito injusto", disse Trump ao presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, em um telefonema em 25 de julho, de acordo com transcrição divulgada na quarta (25) pela Casa Branca.

"Muitas pessoas estão falando sobre isso, sobre a forma como eles desligaram seu promotor [que era] muito bom e que havia algumas pessoas muito más envolvidas [nisso]", disse o presidente americano.

Trump afirmou que em 2015 Joe Biden pressionou o governo ucraniano a demitir Shokin porque ele estava investigando a Burisma.

Mas, quando Biden agiu, a investigação andava a passos lentos no gabinete do procurador. Yuri Lutsenko, o sucessor de Shokin, disse à Bloomberg News que não havia evidências de irregularidades cometidas por Joe ou Hunter Biden.

Ucranianos cantam hino nacional durante manifestação em Kiev por renúncia de procurador-geral
Ucranianos cantam hino nacional durante manifestação em Kiev por renúncia de procurador-geral - Sergei Supinsky - 28.mar.16/AFP

Líderes ocidentais esperavam que Shokin processasse agressivamente a extensa corrupção —totalizando dezenas de bilhões de dólares— que as autoridades descobriram entre Ianukovich e seus associados.

A opinião pública, então, rapidamente se voltou contra ele. Shokin era visto como alguém que processou insuficientemente e, em alguns casos, ocultou casos contra os funcionários da era Ianukovich.

Entre eles havia uma investigação sobre Zlochevski, ministro de Ecologia e Recursos Naturais de Ianukovich.

Em 2014, as autoridades britânicas congelaram US$ 23 milhões vinculados a Zlochevski como parte de um processo contra ele por suposta lavagem de dinheiro.

O antecessor de Shokin, Vitali Iarema, não apresentou documentos solicitados pelas autoridades britânicas. O dinheiro foi liberado no início de 2015.

Em setembro de 2015, o então embaixador dos EUA na Ucrânia, Geoffrey Pyatt, fez um discurso no qual criticou Shokin por não combater ativamente a corrupção.

Os pedidos pela destituição de Shokin ganharam força durante 2015, mas enfrentaram resistência do então presidente Petro Poroshenko, que havia indicado Shokin e com quem mantinha um relacionamento próximo.

Para pressionar Poroshenko a demitir Shokin, o governo Obama reteve US$ 1 bilhão em garantias de empréstimos. Em março de 2016, Shokin anunciou sua renúncia.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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