Na sexta-feira (25), último dia útil antes da realização das eleições argentinas, as casas de câmbio de Buenos Aires estavam cheias de gente comprando dólar, mas ninguém vendendo.
No dia, a cotação da moeda americana deu um salto, e fechou a 65 pesos. A expectativa é de que esta alta continue caso se confirme a vitória do peronista Alberto Fernández no domingo (27) —a previsão é que ela chegue a 70 pesos.
Controlar o preço da moeda americana é apenas um dos vários desafios de quem assumir a presidência do país.
O Banco Central tem feito grandes desembolsos para que o câmbio não se descontrole de uma vez, e isso significa queimar as reservas do país, que estão se esgotando.
O dilema que o atual governo, de Mauricio Macri, tem enfrentado é decidir o que é mais importante: segurar as reservas ou manter o dólar estável?
A política econômica do atual presidente já é conhecida. Recentemente, ele até tomou medidas para amenizar a inflação, e, caso surpreenda e consiga conquistar a reeleição, a tendência é que retorne com os ajustes.
Afinal, foi esse o compromisso que Macri firmou com o FMI ( Fundo Monetário Internacional) em troca de um pacote de ajuda. Também estavam em sua agenda levar adiante uma reforma trabalhista e outra previdenciária.
Já a política econômica que adotaria o provável novo governo peronista ainda não está clara. Mas Fernández acenou com a possibilidade de voltar a colocar restrições à compra e à venda de dólares, como ocorreu durante quase toda a gestão de Cristina Kirchner (2007-2015) —candidata a vice na chapa.
O principal assessor econômico de Fernández e cotado como próximo ministro da Economia, Matías Kulfas, defende um plano um tanto evasivo para controlar a inflação, cujo índice chegou a 50% nos últimos 12 meses.
Ele propõe um “grande acordo social” que incluiria o compromisso de empresários, produtores, comerciantes e sindicatos para que não aumentem os preços. A ideia parece bonita no papel, mas desde as primárias (quando o favoritismo de Fernández ficou mais claro) a inflação, que no começo do ano havia baixado, voltou a subir.
Se o kirchnerista de fato sair vencedor das eleições, a linha de crédito que a Argentina pediu ao FMI (Fundo Monetário Internacional) será um outro problema. Fernández já disse que honrará a dívida, mas que prazos e contrapartidas devem ser revistas.
Outro tema que está no ar é o acordo entre Mercosul e União Europeia. Se o eleito for Macri, o país seguirá insistindo para que ele seja implementado. Já Fernández tem outra visão e defende que o acordo prejudica produtores argentinos. Assim, já afirmou que, se eleito, irá revê-lo ou propor que a Argentina se retire dele.
82%
dos argentinos estão descontentes com os rumos do país
61%
dos entrevistados estão insatisfeito com a democracia
77%
não consideram que o Estado atue para beneficiar todas as pessoas
Fonte: Pew Research Center; a pesquisa foi realizada entre 22 de maio e 10 de julho de 2019
Entenda a eleição
O que está em jogo? Além do presidente, os argentinos vão escolher 130 dos 257 deputados, 24 dos 72 senadores e a maior parte dos governos regionais
Como funciona a eleição para presidente? Vence em 1º turno quem obtiver mais de 45% dos votos ou mais de 40% e pelo menos dez pontos percentuais para o segundo colocado. Caso seja necessário, o 2º turno está marcado para 24 de novembro
O que as pesquisas indicam? Uma vitória do oposicionista de centro-esquerda Alberto Fernández (que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como vice). Prejudicado pela crise econômica, o presidente Mauricio Macri (de centro-direita) aparece em 2º lugar
E a votação para o Congresso? Na Câmara, a votação é no sistema de lista fechada (o eleitor vota no partido e as cadeiras são divididas de acordo com a porcentagem recebida). No Senado, o voto também é nas agremiações, mas a sigla mais votada elege dois senadores e a segunda colocada, um
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