Descrição de chapéu The New York Times

Empresa dos EUA vai lançar pela 1ª vez versão feminina de soldadinhos de chumbo

Brinquedo, que nasceu a partir de pergunta de menina de 6 anos, mostrará mulheres das Forças Armadas

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Mihir Zaveri
The New York Times

Desde sua estreia nos anos 1930, os soldadinhos de brinquedo pouco mudaram. Eles têm entre cinco e oito centímetros de altura. São feitos de plástico. Portam armas letais. E todos, praticamente sem exceção, sempre foram homens.

Mas isso está prestes a mudar, graças em parte a uma menina indignada de seis anos de idade de Little Rock, Arkansas, chamada Vivian Lord.

Depois que a queixa de Vivian ganhou ampla cobertura da mídia neste ano, uma empresa de brinquedos vai lançar pela primeira vez, em 2020, soldadinhos de brinquedo que mostrarão mulheres das Forças Armadas americanas em papéis de combate.

Imagem mostra protótipos de soldados mulheres da empresa BMC Toys - Jeff Imel/BMC Toys via The New York Times

“Há meninas no Exército, mas não fazem homens do Exército que sejam meninas”, explicou Vivian, entrevistada recentemente. “Eu queria saber por quê.”

Vivian fez essa descoberta em julho, quando, depois de um passeio muito produtivo a um fliperama quando passava férias no Alabama, trocou os bilhetes que ganhou por uma cesta de soldadinhos de brinquedo.

Ela estava acostumada a brincar com os soldadinhos de seus irmãos mais velhos, mas agora tinha os seus próprios. Quando dispôs todos sobre a mesa, com os soldados “do bem” posicionados de frente para os “inimigos”, Vivian percebeu que todos eram homens.

Aquilo a incomodou. Ela foi falar com seus pais. Sua mãe, Brittany Lord, sugeriu que Vivian escrevesse uma carta se queixando diretamente às empresas de brinquedos que fabricam e vendem os soldadinhos. Vivian aceitou a sugestão.

“Por que vocês não fazem homens do Exército que sejam meninas? A amiga da minha mãe também é do Exército!”, escreveu Vivian na carta, que Brittany Lord enviou a três empresas de brinquedos. “Por que vocês não fazem soldados meninas também!”

Vivian escreveu que tinha encontrado pacotinhos de soldados homens cor-de-rosa, produzidos presumivelmente para agradar a meninas, mas ainda assim dava para ver que eram homens. Ela queria que “as meninas tivessem cara de mulheres”.

Brittany Lord não imaginava que a carta de sua filha fosse respondida. Mas uma cópia da carta chegou às mãos de Jeff Imel, dono da BMC Toys, de Scranton, Pensilvânia.

Imel trabalha com artigos que ele descreve como nostálgicos, “produtos perenes da cultura pop”. Ele vende cerca de 80 produtos relacionados a soldadinhos de brinquedo, incluindo sacolas e caixas de soldadinhos.

A maioria dos outros fabricantes dos soldadinhos nos EUA saiu do mercado ao longo das décadas, à medida que as operações militares foram deslocadas para o exterior e que os brinquedos de combate perderam popularidade.

Não era a primeira vez que Imel ouvira queixas como a de Vivian.

Carta enviada a um fabricante de soldadinhos de brinquedo para questionar por que não havia versão feminina dos bonecos
Carta enviada a um fabricante de soldadinhos de brinquedo para questionar por que não havia versão feminina dos bonecos - Houston Cofield/The New York Times

Em junho passado, uma das queixas foi feita por uma militar aposentada, ex-chefe de frota da Marinha americana, para a qual soldadinhos mulheres de brinquedo poderiam ajudar a fazer com que as mulheres das Forças Armadas fossem vistas em pé de igualdade com os homens.

“Cresci brincando com os soldadinhos verdes de plástico do meu irmão”, escreveu a militar aposentada, JoAnn Ortloff, que serviu 33 anos na Marinha, em email a Jeff Imel. “Minhas três netas são pequenas. Quero que elas também possam brincar com soldadinhos, mas não há soldados de brinquedo mulheres.”

Ortloff, que tem 56 anos e ainda faz parte do comitê do Departamento de Defesa de assessoria para mulheres nas Forças Armadas, disse que frequentemente trabalha como voluntária em eventos em homenagem a mulheres nas Forças Armadas.

Os soldadinhos de brinquedo cor-de-rosa às vezes são expostos nesses eventos.

“Os homens e as mulheres que os pegam nas mãos dizem que são versões de soldados homens feitos para meninas”, disse Ortloff. “Percebi que essa é a mensagem totalmente errada. Não é a mensagem que as mulheres nas Forças Armadas querem passar.”

Imel se mostrou aberto à ideia. Em suas pesquisas, ele já havia visto alguns exemplos: um conjunto de figurinhas femininas do Japão, de salto alto, e enfermeiras de plástico do Exército, dos anos 1950.

Ele prometeu a Ortloff que estudaria a ideia, mas disse que criar produtos novos tem um custo alto. A resposta que ele mandou à carta de Vivian, um ano mais tarde, foi semelhante. “Talvez façamos isso algum dia”, ele disse à mãe dela.

Foi quando a imprensa tomou nota do assunto.

Vivian Lord, 6, segura um soldadinho de brinquedo em sua casa em Little Rock, Arkansas
Vivian Lord, 6, segura um soldadinho de brinquedo em sua casa em Little Rock, Arkansas - Houston Cofield/The New York Times

Começou com veículos locais em Little Rock, depois de um repórter ver uma cópia da carta de Vivian que Brittany Lord postara no Facebook. Em uma das reportagens, Lord mencionou sua troca de ideias com Imel.

A CNN e uma publicação de militares veteranos fizeram reportagens. Em pouco tempo Imel começou a receber convites para dar entrevistas a redes de televisão nacionais como a CBS.

Imel disse que percebeu então que cometera um “erro enorme” ao fazer pouco caso de queixas como a de Vivian e Ortloff.

“A situação com a mídia explodiu, e desde então eu mal tive tempo de recuperar meu fôlego”, disse.

Imel encomendou desenhos e criou um modelo preliminar de soldado mulher de resina, que expôs numa feira de brinquedos em Chicago em setembro. Três outros modelos estão sendo desenvolvidos.

Imel disse que o primeiro grupo de brinquedos deve incluir 24 figuras em cinco posições: uma soldado em pé, segurando uma arma de mão e binóculos; uma soldado em pé, disparando um fuzil; uma soldado ajoelhada, disparando um fuzil; uma soldado deitada no chão com fuzil e uma soldado ajoelhada, disparando uma bazuca.

Ele pretende lançar uma campanha de financiamento coletivo em novembro com a qual as pessoas poderão fazer encomendas prévias das soldados. Haverá pacotes completos à venda antes de outubro de 2020.

Imel recebeu outra carta de Vivian.

“Vivian me mandou uma carta muito simpática para me agradecer, escrita sobre papel colorido para trabalhos escolares”, disse Imel. “Dá para saber que uma criança está dando importância a algo quando ela usa seu papel colorido.”

Vivian disse que pulou de alegria quando soube que Imel vai fabricar as soldados mulheres.

“Quando eu crescer, vou poder dar algumas delas aos meus filhos”, ela disse.

Quanto a Ortloff, ela comentou que o projeto “é muito importante para mim e para muitas outras mulheres, porque oferece opções iguais para nossos filhos brincarem.”

“Não somos versões bonitinhas de soldados homens”, concluiu.

 
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