Policial atira em manifestante em Hong Kong durante transmissão ao vivo

Chefe-executiva sobe tom e diz que manifestantes são 'inimigos do povo'

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Hong Kong | AFP

A segunda-feira (11) em Hong Kong foi marcada por terríveis cenas de violência, com um manifestante atingido por um tiro à queima-roupa, outro ao qual foi ateado fogo e um terceiro que foi atacado com um martelo e um guarda-chuva.

Ao menos 99 pessoas ficaram feridas, segundo o governo, em um dos mais agressivos dias de protesto desde que as atuais manifestações pró-democracia tomaram fôlego, há 24 semanas. Mais de 260 pessoas foram presas apenas nesta segunda, informou a polícia.

Um policial atirou contra um manifestante durante um protesto que era transmitido ao vivo pelo Facebook. As imagens mostram um agente de segurança tentando controlar uma pessoa com uma jaqueta branca no bairro de Sai Wan Ho, em um cruzamento bloqueado pelos ativistas.

Policial atira em manifestante durante protesto em Hong Kong
Policial atira em manifestante durante protesto em Hong Kong - Laurent Fievet/AFP

Outro homem, encapuzado, aproxima-se, e o policial então atira. O manifestante cai imediatamente e leva as mãos ao lado esquerdo de seu corpo. A vítima foi identificada como um jovem de 21 anos, que está em condição crítica.

"O uso de munição letal pela polícia é uma evidência clara do uso imprudente da força", disse a Anistia Internacional de Hong Kong. "Essas não são medidas policiais, são agentes fora de controle com intenção de retaliar."

Um segundo vídeo mostra um homem jogando gasolina em outro, que questionava os manifestantes, e depois ateando fogo. Envolto pelas chamas, o homem consegue tirar a camisa e conter o incêndio. Ele sofreu queimaduras de segundo grau e está em estado grave.

Por fim, um homem teve sua cabeça atacada com um martelo e um guarda-chuva por um rapaz vestido todo de preto e com uma balaclava que cobria seu rosto, impedindo a identificação. A agressão aconteceu no distrito de Mong Kok.

A onda de protestos desta segunda teve uma clara escalada na violência de ambos os lados.

Manifestantes atiraram coquetéis molotov contra policiais, e os agentes dispararam bombas de gás lacrimogêneo nas ruas estreitas do distrito financeiro onde manifestantes se protegiam atrás de guarda-chuvas. Os ativistas também fizeram barricadas nas ruas.

Embora haja protestos quase diários em Hong Kong, é raro que bombas de gás sejam lançadas durante o horário comercial no distrito financeiro, que é sede de diversos bancos e lojas de grifes.

A chefe-executiva de Hong Kong, Carrie Lam, em um discurso na TV, subiu o tom e afirmou que a "violência tem excedido muito o pedido por democracia". Em seguida, chamou os manifestantes de "inimigos do povo".

"Se ainda há algum desejo de que ao escalar a violência, o governo de Hong Kong irá ceder à pressão, deixo claro: isso não irá acontecer", afirmou.

​Os ativistas afirmam que seguirão com os protestos na terça (11), o que fez com que diversas universidades anunciassem o cancelamento das aulas.

Os EUA condenaram "o uso injustificado de força mortal" e imploraram à polícia e aos manifestantes que baixem o tom e evitem confrontos violentos, disse um alto oficial que não quis ser identificado.

A tensão aumentou ainda mais depois da morte de Alex Chow, 22, que caiu de um estacionamento de vários andares em 4 de novembro. As circunstâncias do caso permanecem indeterminadas, mas ele foi o primeiro estudante a morrer desde o início das manifestações na ex-colônia britânica.

A onda de revolta em Hong Kong dura mais de 20 semanas. Ela foi desencadeada por um projeto de lei que facilitaria a extradição de suspeitos para serem julgados na China continental.

O governo retirou a proposta, mas mesmo assim os protestos seguiram, com uma série de demandas que incluem a investigação das ações da polícia durante os protestos e maior proteção às liberdades civis.

Hong Kong possui leis diferentes do resto da China, que permitem maior liberdade naquela região. Os ativistas temem que o governo de Pequim amplie o controle sobre o território.

As manifestações minaram a reputação do território como centro financeiro internacional e estão afetando sua economia. No fim de outubro, dados do governo confirmaram que Hong Kong entrou em recessão pela primeira vez desde a crise global de 2008. 

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