Manifestantes pedem saída de Netanyahu após ele ser indiciado por corrupção

Premiê partiu para confronto e acusou promotores de ameaçar testemunhas

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Tel Aviv

Aos gritos de “Bibi, renuncie!” e “Bibi, vá para casa!”, cerca de 200 manifestantes protestaram em Tel Aviv na manhã desta sexta-feira (22) em frente ao famoso edifício Fortaleza de Zeev, batizado em homenagem a Zeev Jabotinsky, fundador do movimento que deu origem ao partido direitista Likud.

Foi o primeiro protesto pedindo a renúncia imediata do primeiro-ministro Binyamin “Bibi” Netanyahu após o anúncio de seu indiciamento, na quinta (21), por suborno, fraude e quebra de confiança pelo procurador-geral Avichai Mandelblit. 

Militantes ligados ao Partido Trabalhista protestam pela renúncia de Netanyahu em Tel Aviv
Militantes ligados ao Partido Trabalhista protestam pela renúncia de Netanyahu em Tel Aviv - Jack Guez/AFP

Outras manifestações, contra ou a favor do primeiro-ministro, são esperadas para os próximos dias em meio à maior crise política da história de Israel.

Após as eleições de 17 de setembro, o segundo pleito em menos de seis meses, nenhum candidato conseguiu formar uma coalizão de governo e é possível que sejam convocadas novas eleições para fevereiro ou março de 2020. 

 

“Viemos aqui para exigir que o primeiro-ministro respeite a lei e a promotoria pública”, disse Richard Peres, organizador do evento —convocado às pressas na noite anterior— e diretor da sede nacional do Partido Trabalhista. “Netanyahu passou de todos os limites ao ameaçar juízes.” 

Peres se referiu ao pronunciamento à nação feito pelo primeiro-ministro logo após o indiciamento, no qual ele exigiu a abertura de uma investigação oficial contra a polícia e a Justiça, especificamente o promotor de Estado, Shai Nitzan, que, segundo ele, forjaram provas contra ele e ameaçaram testemunhas.

“É uma tentativa de golpe. Eles não estão atrás da verdade e sim atrás de mim", afirmou Netanyahu. "É preciso ser cego para não ver que algo ruim está acontecendo no sistema legal", disse o premiê, afirmando que vai se manter no cargo.

Segundo a lei israelense, ele só é obrigado a renunciar caso seja condenado.

Netanyahu foi indiciado por suborno, fraude e quebra de confiança em três investigações. 

“Tenho certeza de que Netanyahu vai acabar na prisão. Israel ainda é um país onde a lei impera. Temos instituições fortes”, afirmou Tomer Pines, presidente da Jovem Guarda do Partido Trabalhista.

“Ninguém acreditava que o ex-presidente Moshe Katzav seria preso e ele foi, bem como outras autoridades, como ex-ministros e até um ex-premiê, Ehud Olmert.” 

Pines, que é filho de mãe brasileira, afirmou que o país está dividido entre esquerda e direita, como ocorre no Brasil. E expressou temor de que haja algum tipo de violência política pelo que chamou de “incitamento de Netanyahu contra o sistema judicial”. 

Já houve um assassinato político em Israel, há 25 anos, quando um ativista de direita matou o então primeiro-ministro Yitzhak Rabin.

Pines diz não acreditar que ativistas de esquerda sejam capazes disso, mas aponta para a possibilidade de que algum apoiador de Netanyahu cometa algum ato violento contra um policial, promotor ou juiz. 

Do outro lado da rua, cerca de dez manifestantes pró-Netanyahu usavam megafones para gritar contra os participantes do protesto palavras como “terroristas!” ou “Bibi, rei de Israel!”.

“Eles são cegos! Querem sacrificar a pátria por meio de Netanyahu, nosso grande líder!”, disse Ran Carmi, que subiu em uma árvore e teve que ser retirado por policiais.

“Vamos continuar defendendo Bibi até que ele seja considerado inocente.” 

Em editorial nesta sexta-feira, o jornal Haaretz, identificado com a esquerda, também pediu a renúncia de Netanyahu: “Ele não pode travar uma batalha legal para limpar seu nome e administrar o país ao mesmo tempo. Netanyahu deve ir para casa. Agora”. 

O partido de centro-esquerda Azul e Branco, do maior rival político atual de Netanyahu, Benny Gantz, exigiu que o primeiro-ministro pelo menos deixe as pastas da Saúde, da Diáspora, do Bem-Estar Social e da Agricultura, que ele acumula como ministro.

Se um premiê pode continuar no cargo até ser condenado, o mesmo não acontece no caso de ministros.

Do outro lado do leque político, o ministro dos Transportes, Bezalel Smotrich, do partido de extrema-direita Casa Judaica, pediu ao público que saia às ruas em manifestações pró-Netanyahu.

“Se o povo de Israel não der o poder político àqueles que se comprometem a evitar essa crise constitucional, isso rapidamente despertará uma ditadura legal devastadora, violenta e perigosa", escreveu Smotrich em uma rede social.

Netanyahu também recebeu apoio de outros ministros, como o da Educação, Rafi Peretz (partido Casa Judaica), e o das Relações Exteriores, Israel Katz (Likud).

“Ele é inocente até que o tribunal decida de outra forma", disse Peretz.  

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