Polícia invade universidade com ativistas em Hong Kong

Em outro confronto, agente foi atingido na panturrilha por uma flecha lançada por manifestantes

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Hong Kong | Reuters e AFP

A polícia de Hong Kong cercou e invadiu a Universidade Politécnica (PolyU) por volta de 5h30 desta segunda (18), domingo à noite no Brasil, depois de uma das mais violentas semanas no território desde que os protestos ganharam força, no início de junho.

Cerca de 200 manifestantes estavam dentro do prédio no momento em que as forças de segurança entraram.

À medida em que as tropas avançavam, os ativistas atearam fogo em uma das entradas, e explosões de coquetéis molotov foram ouvidas.

Segundo comunicado divulgado pela União dos Estudantes da PolyU, diversas prisões foram feitas, dentre as quais manifestantes socorristas, que prestam primeiros atendimentos a quem é atingido pela polícia.

Manifestantes que tentavam deixar a universidade eram bloqueados pelas forças de segurança, que jogava bombas de gás lacrimogêneo.

Relatos de estudantes que estavam dentro do campus, divulgados por grupos do aplicativo de mensagens Telegram, afirmam que todas as saídas da universidade foram bloqueadas pela polícia.

Este é um dos mais graves episódios a atingir a universidade desde que ela foi fundada, há 80 anos.

A invasão aconteceu horas depois de a polícia ameaçar usar balas de verdade caso os manifestantes também recorram a armas letais nos protestos.

Até agora, os policiais usaram armas de fogo em casos isolados, como em 11 de novembro, quando atiraram contra um jovem.

No domingo (17), um policial foi ferido na perna por uma flecha disparada por um ativista. As imagens mostram que o agente foi atingido na panturrilha enquanto participava de operação na região da PolyU.

Ele foi socorrido e levado para o hospital.

A área próxima ao campus se tornou um dos principais palcos de manifestações, por sua localização estratégica. 

As forças de segurança usaram jatos de água e bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes do campus. Alguns ativistas se despiram e ficaram de roupa íntima, pois disseram que jatos de água de cor azul estavam misturados com spray de pimenta.

A declaração da polícia foi seguida de novos confrontos em frente à universidade. Os manifestantes se agacharam atrás de escudos improvisados e lançaram bolas de metal e coquetéis molotov contras os agentes de segurança.

Soldados chineses em uma base próxima à universidade foram vistos no domingo monitorando a evolução com binóculos —alguns estavam vestidos com equipamento de proteção, de acordo com relatos de testemunhas.

A crise entrou em uma nova fase, mais radical, nos últimos dias, com a adoção pelos manifestantes da estratégia batizada como "Blossom Everywhere" (florescer em toda parte), que consiste em multiplicar os bloqueios e atos, de maneira simultânea, com o objetivo de testar a capacidade da polícia e asfixiar Hong Kong economicamente.

A tática tem surtido efeito. Após cinco meses de protestos, o território entrou em recessão pela primeira vez em dez anos. O PIB local recuou 2,9% nos últimos três meses em relação ao mesmo período de 2018, a maior queda registrada na década.

O que de início foram manifestações contra um projeto de lei específico —que possibilitaria a extradição de cidadãos honcongueses ao continente para julgamento—  tornou-se um movimento mais amplo, que assumiu um forte caráter antiChina.

Os manifestantes da ex-colônia britânica reivindicam autonomia política e jurídica em relação a Pequim.

Entre suas exigências estão a renúncia da líder local, Carrie Lam, o sufrágio universal e a convocação de eleições diretas para o Poder Executivo. 

Os protestos dividem a população do território. Neste domingo, apoiadores de Lam, favoráveis a uma maior aproximação com a China, reuniram-se para tentar desbloquear o túnel de Cross Harbour, próximo à PolyU. 

O túnel é importante por ser um dos três que permitem acesso à ilha de Hong Kong e está fechado desde terça-feira (12) por barricadas improvisadas pelos manifestantes. 

Manifestante estica o arco e a flecha
Manifestante contra o governo usa arco e flecha durante confronto com a polícia, nos arredores da Universidade Politécnica de Hong Kong - Athit Perawongmetha/Reuters

Pouco depois, no entanto, ativistas pró-democracia reconstruíram as barreiras. 

De acordo com a imprensa local, os moradores que tentaram desbloquear a via foram alvo de tijolos e entraram em confronto com os ativistas.

A polícia dispersou a multidão utilizando gás lacrimogêneo.

No sábado (16), soldados do Exército Popular de Libertação (EPL) da China foram às ruas de Hong Kong para ajudar na limpeza de escombros deixados nas vias públicas pelos protestos dos últimos dias.

Essa foi a primeira vez que o Exército do Partido Comunista interveio nos protestos.

A aparição do Exército chinês é excepcional, dando ao fato de um caráter simbólico que levanta novas questões sobre a autonomia do território.

Desde que Hong Kong voltou ao domínio chinês, em 1997, tropas chinesas apareceram nas ruas do território apenas uma vez, para ajudar a limpar as vias após a passagem de um tufão.

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