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Casal de brasileiros se alista na Marinha americana para tentar ficar nos EUA

Triatletas do Rio estão entre os 1.073 recrutas formados na turma de janeiro de 2020

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Washington

campeonato mundial de Ironman em 2015 terminou com um pedido de casamento.

Silvia se posicionou perto da linha de chegada e, depois de quase 4 km de natação, 180 km de ciclismo e 42 km de corrida, estendeu o anel de compromisso a Rafael, que terminava o percurso no Havaí quase sem fôlego.

Ex-jogadora profissional de vôlei e também triatleta, Silvia Ribeiro conheceu Rafael Gonçalves, hoje seu marido, há sete anos, quando começou a praticar no Brasil para competir nas exaustivas provas famosas pelo mundo. 

Silvia Ribeiro e o marido, Rafael Gonçalves, após o pedido de casamento no fim do Ironman
Silvia Ribeiro e o marido, Rafael Gonçalves, após o pedido de casamento no fim do Ironman - Arquivo pessoal - 10.out.2015

Após um período treinando juntos, decidiram se mudar para os Estados Unidos em 2015 e, desde 2017, vivem em Los Angeles, na Califórnia.

Mas a adaptação do casal à vida americana não foi fácil, seguindo um roteiro bastante comum aos imigrantes que buscam melhores oportunidades no país mais rico do globo.

"Chegamos literalmente com duas malas, duas bicicletas e US$ 2.000 ou US$ 3.000 no bolso", conta Ribeiro.

Cientes de que a carreira como atletas de alta performance não duraria muito tempo —ela tem 40 anos, ele, 39—, decidiram se alistar na Marinha americana, como alternativa de trabalho e permanência nos EUA.

"Triatlo não é muito lucrativo em termos de grana. Dá para sobreviver, mas não para sempre. Como estamos mais velhos, não podíamos esperar muito. Então começamos a procurar outro emprego", explica Gonçalves.

O casal de brasileiros está entre os 1.073 recrutas formados na turma de janeiro de 2020 da U.S. Navy, a Marinha dos EUA

Com experiência em esportes de alto desempenho, ganharam também prêmios por excelência após dois meses de treinamento em que não podiam se ver nem conversar por telefone.

Antes de chegarem às Forças Armadas, os dois já haviam passado por Miami, na Flórida, onde Ribeiro trabalhava como modelo, e por Boulder, no Colorado, onde Gonçalves competia por uma equipe de triatlo. 

Em Los Angeles há três anos, ele estava trabalhando como salva-vidas e ela atuava como paramédica quando se informaram sobre a possibilidade de entrar para a Marinha.

Nos EUA, o alistamento militar dos cidadãos ocorre entre os 18 e 25 anos, mas o serviço é voluntário.

Ao oferecer salário e outros benefícios, como auxílio-moradia e bolsas de estudo, a atividade costuma atrair a população mais pobre do país.

Um oficial em início de carreira na Marinha, por exemplo, recebe salário mensal de pouco menos de US$ 3.000 (R$ 12,9 mil), mais auxílio-moradia e adicionais de acordo com funções e capacidades.

O programa no qual o casal de brasileiros se inscreveu em 2019 tem procura de 35 mil pessoas por ano, segundo dados da U.S. Navy.

Durante pouco mais de oito semanas, os recrutas passam por treinos de condicionamento físico, testes com armas de fogo, combate a incêndios e controle de danos a bordo de navios, entre outros.

Nascidos no Rio de Janeiro, Ribeiro e Gonçalves não têm cidadania americana, mas podem dar entrada no pedido após seis meses de serviço militar.

Para o alistamento, é preciso ter o green card, visto que garante residência no país. Somente depois de cinco anos com esse documento é possível solicitar a cidadania americana.

Nas Forças Armadas, porém, o período cai para 180 dias —e esse é o plano do casal que, por sua vez, lembra da contrapartida sacrificante.

"No momento em que você entra ali, não existe mais o seu tempo, só o tempo da Marinha. Você não pode cochilar, dormir ou degustar sua comida com calma. É sentar, comer e sair correndo", afirma Ribeiro.

Depois de quase dois meses separados —eles só se viram durante a formatura de suas turmas—, os dois vão enfrentar mais um longo período de relacionamento à distância.

Como última fase do treinamento, Gonçalves passará dois meses em Illinois, onde vai receber aulas específicas de combate a incêndios, enquanto Ribeiro ficará quatro meses no Texas, como paramédica.

Em maio, saberão onde devem passar os próximos cinco anos, período do primeiro contrato da Marinha.

"A gente quer continuar morando nos EUA, e as Forças Armadas, sem dúvida, são uma opção para isso. Mas não dá para entrar só pelos benefícios. Esse é um erro que muita gente comete, só que a conta não fecha. Aqui você coloca literalmente sua vida em risco", completa Gonçalves.

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