Descrição de chapéu Coronavírus

Até 132 milhões de pessoas podem passar fome por causa da pandemia, diz ONU

Relatório mostra que número de pessoas com desnutrição no mundo tem aumentado nos últimos anos

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São Paulo e Paris | AFP

Quase uma em cada nove pessoas no mundo sofreu de desnutrição crônica em 2019, número que deve aumentar nos próximos anos em decorrência da pandemia de coronavírus.

Os dados fazem parte de um novo relatório da ONU divulgado nesta segunda-feira (13) que avalia a situação da fome em todo o planeta.

Segundo o documento, o choque econômico e de saúde provocado pela Covid-19 causou perda de renda, aumento dos preços dos alimentos e interrupção das cadeias de suprimentos, entre outros problemas.

Em meio à pandemia de coronavírus, multidão aguarda em fila para receber comida em assentamento próximo a Pretória, na África do Sul
Em meio à pandemia de coronavírus, multidão aguarda em fila para receber comida em assentamento próximo a Pretória, na África do Sul - Siphiwe Sibeko - 20.mai.20/Reuters

Assim, é provável que a recessão global causada pelo coronavírus leve à fome entre 83 e 132 milhões de pessoas a mais nos próximos anos —a depender do tamanho da queda da economia e da demora na recuperação, o número pode aumentar ou diminuir.

"Essas ainda são hipóteses relativamente conservadoras, a situação está evoluindo", disse à agência de notícias AFP Thibault Meilland, analista de políticas da FAO, braço da ONU responsável por alimentação e agricultura e órgão responsável pelo relatório.

De acordo com as últimas estimativas presentes no documento elaborado em parceria com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e com a OMS (Organização Mundial da Saúde), no ano passado a fome afetava quase 690 milhões de pessoas, ou seja, 8,9% da população mundial.

Isso representa 10 milhões de pessoas a mais do que em 2018 e 60 milhões a mais do que em 2014.

"Se a tendência continuar, estimamos que, até 2030, esse número excederá 840 milhões de pessoas. Isso significa claramente que o objetivo [de erradicar a fome até 2030, estabelecido pela ONU em 2015] não está no caminho certo", disse Meilland.

A ONU informou que graças a novos dados disponíveis, principalmente na China, teve que rever todos os números divulgados neste século —o relatório é anual.

"Como a China representa um quinto da população mundial, esta atualização tem consequências importantes para os números globais", aponta o analista da FAO. "Tudo foi recalculado com base nesses novos números."

O relatório de 2019, por exemplo, estimava que 820 milhões de pessoas sofriam com subnutrição no mundo em 2018. Segundo a nova revisão, o número diminuiu para 678 milhões.

Apesar disso, diz Meilland, o documento deste ano constatou a mesma tendência dos anos anteriores: a quantidade de pessoas que sofrem com desnutrição tem aumentado.

Antes da pandemia, a ONU estimava que o número de pessoas com desnutrição no mundo continuaria a crescer e chegaria a 840 milhões até 2030. Com o coronavírus, esse movimento deve acelerar, e a previsão é que ele pode ultrapassar os 900 milhões na próxima década.

Entre os pontos de melhoria apontados no relatório, o atraso de crescimento entre crianças de cinco anos caiu um terço entre 2000 e 2019. Atualmente cerca de 21% das crianças no mundo são afetadas pelo problema —mais de 90% delas vivem na Ásia ou na África.

Além da desnutrição, o relatório aponta que um número crescente de pessoas "teve que reduzir a quantidade e a qualidade dos alimentos que consome".

Assim, 2 bilhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar, ou seja, não têm acesso regular a alimentos nutritivos em qualidade e quantidade suficientes, indica o relatório.

Já o número de pessoas que não tem meios para manter uma dieta considerada equilibrada —em especial, com ingestão suficiente de frutas e legumes— é de 3 bilhões de pessoas.

"Em média, uma dieta saudável custa cinco vezes mais do que uma dieta que só atende às necessidades de energia com alimentos ricos em amido", diz Meilland.

Desta forma, a obesidade está aumentando tanto em adultos quanto em crianças.

O documento estima ainda que, se os padrões de consumo de alimentos não mudarem, seu impacto nos custos diretos de assistência médica e na perda de produtividade econômica deve atingir US$ 1,3 trilhão por ano até 2030.

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