EUA acusam hackers chineses de roubar dados de pesquisa para vacina contra Covid-19

De acordo com autoridade de Segurança Nacional americana, eles trabalhavam para ministério do regime chinês

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Washington | AFP

Dois hackers chineses foram acusados de roubar informações sobre projetos de vacina contra a Covid-19 e de violar a propriedade intelectual de empresas nos Estados Unidos e em outros países, informou o Departamento de Justiça americano nesta terça-feira (21).

Li Xiaoyu, 34, e Dong Jiazhi, 33, também foram acusados de ataques a ativistas de direitos humanos dos EUA e de Hong Kong, segundo o assistente do procurador-geral para a Segurança Nacional, John Demers.

Ambos trabalhavam para o ministério da Segurança de Estado da China, afirmou ele.

Frasco com potencial vacina para coronavírus em laboratório da empresa Novavax em Gaithersburg, no estado de Maryland
Frasco com potencial vacina para coronavírus em laboratório da empresa Novavax em Gaithersburg, no estado de Maryland - Andrew Caballero-Reynolds - 7.jul.20/AFP

Os hackers, que supostamente estão na China e, portanto, fora do alcance da polícia americana, agiram em algumas ocasiões "para ganho pessoal", mas também para o ministério chinês, segundo o assistente.

"Os crimes cibernéticos dirigidos pelos serviços de inteligência do governo chinês ameaçam não apenas os Estados Unidos, mas também o resto dos países que apoiam o jogo limpo, as normas internacionais e o Estado de Direito", declarou, por sua vez, o sub-diretor do FBI, David Bowdich.

"Os sistemas de tecnologia de muitas empresas, indivíduos e agências nos EUA e em todo o mundo foram invadidos e comprometidos, e há uma grande quantidade de segredos comerciais, de tecnologias, de dados e de informações pessoais que foram roubados", denunciou o procurador federal William Hyslop.

O Departamento de Justiça afirmou que os ataques visaram "centenas de empresas, governos, organizações não governamentais e dissidentes, clérigos e ativistas democráticos e de direitos humanos nos Estados Unidos e no exterior, incluindo Hong Kong e China".

A pandemia do novo coronavírus acirrou ainda mais a Guerra Fria 2.0 entre China e Estados Unidos.

Os americanos, com Donald Trump à frente, passaram meses insinuando que os chineses haviam liberado o novo coronavírus, acidentalmente ou não, de um laboratório em Wuhan.

Já autoridades de Pequim chegaram a afirmar que uma delegação militar americana havia dispersado o patógeno durante competição esportiva na cidade onde a Covid-19 surgiu.

A promessa chinesa de destinar mais dinheiro à Organização Mundial da Saúde (OMS), para compensar a retaliação americana, que anunciou a saída formal do órgão, apenas colore o quadro.

Hoje os EUA são o principal país afetado pela pandemia, com quase 4 milhões de casos, enquanto a China estacionou e conta pouco mais de 85 mil infecções.

Atualmente, há 165 vacinas contra a Covid-19 em estudo, 24 das quais em testes clínicos, segundo a OMS. No entanto, somente quatro se encontram na fase mais avançada —a 3—, com testes em larga escala. Três delas são de laborátorios chineses, e a outra, do Reino Unido.

As vacinas da empresa chinesa Sinovac e da parceria britânica entre a farmacêutica Astra-Zeneca e a Universidade Oxford estão sendo testadas no Brasil.

Acusações à Rússia

Na última semana, EUA, Reino Unido e Canadá acusaram hackers ligados ao governo russo de tentar roubar dados de pesquisas para a vacina contra a Covid-19 feitas em diversos laboratórios pelo mundo.

Os países culparam o grupo APT29, também conhecido como Cozy Bear, pelas tentativas de invasão a sistemas de instituições acadêmicas e de empresas farmacêuticas e afirmaram que os hackers, "quase certamente", operam como parte dos serviços de inteligência da Rússia.

Para tentar acessar os dados, os hackers teriam usado táticas como phishing (emails com pedidos falsos de dados que tentam parecer mensagens oficiais) e malwares (programas que se infiltram nas máquinas sem que os usuários percebam).

O governo russo rejeitou as acusações e disse que elas não são baseadas em evidências.

A espionagem digital internacional é uma prática recorrente de governos pelo mundo, embora seja pouco conhecida do público em geral.

Em 2013, o ex-funcionário da NSA (agência de segurança nacional, na sigla em inglês) Edward Snowden denunciou a existência de uma ampla estrutura criada pelos EUA para captar dados de celulares no país e no exterior.

Essa rede também teria sido usada para espionar líderes estrangeiros, incluindo alvos na China, da União Europeia e os então presidentes Enrique Peña Nieto, do México, e Dilma Rousseff, do Brasil.

A denúncia de que seus ministros haviam sido grampeados pelos EUA levou a petista a adiar uma visita oficial a Washington para encontrar o então presidente Barack Obama.

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