Descrição de chapéu Financial Times Eleições EUA 2020

Trump ameaça ir à Justiça questionar votos de estados indecisos

Presidente alegou potencial de fraude na contagem da Pensilvânia e de Nevada

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Washington e Nova York | Financial Times

Donald Trump ameaçou lançar uma ação legal preventiva contra o resultado da eleição nos EUA. Faltando 48 horas para o fechamento das urnas, as pesquisas de opinião indicam que o presidente está perdendo para o candidato democrata Joe Biden.

A jornalistas na noite do domingo (1º), Trump negou que estaria se preparando para declarar vitória na noite da eleição, antes mesmo de o país receber a contagem oficial dos votos. Mas alegou que há potencial para “fraude” e “manipulação” na contagem dos votos da Pensilvânia e de Nevada, dois estados indecisos que têm governadores democratas.

O presidente Donald Trump durante comício na Flórida, na reta final da eleição
O presidente Donald Trump durante comício na Flórida, na reta final da eleição - Brendan Smialowski/AFP

“Acho terrível que as cédulas possam ser recebidas após uma eleição”, disse Trump a repórteres, aludindo a uma decisão da Suprema Corte que permite que os votos na Pensilvânia sejam contabilizados por até três dias após o dia da eleição.

“Na noite do dia 3 –assim que a eleição terminar— vamos entrar com nossos advogados.”

Mais de 93 milhões de cédulas já haviam sido depositadas na eleição até a tarde do domingo, segundo o US Elections Project, banco de dados compilado por Michael McDonald, professor da Universidade da Flórida. Esse número representa mais de dois terços do total de votos registrados em 2016, assinalando uma participação maciça dos eleitores.

“A enxurrada de eleitores que estamos testemunhando é algo que só ocorre uma vez a cada cem anos”, comentou Nate Persily, professor da Escola de Direito de Stanford e ex-diretor sênior de pesquisas da Comissão Presidencial sobre a Administração de Eleições, falando à NBC News no domingo. Ele previu que até 160 milhões de americanos vão votar na eleição. Em 2016, 136,5 milhões de pessoas votaram.

Trump iniciou uma sequência frenética de comícios no Meio-Oeste e no Sul do país. Uma nova pesquisa da NBC News-Wall Street Journal o mostrou dez pontos atrás de Biden entre eleitores registrados em todo o país e cinco pontos atrás entre os eleitores registrados nos 12 estados indecisos cruciais.

Numa programação intensa que começou com um comício às 11h em Washington e terminaria em Miami com um comício marcado para as 23h, Trump viajou primeiro para Michigan e Iowa antes de se dirigir a Carolina do Norte, Geórgia e Flórida.

O presidente venceu nesses cinco estados em 2016, mas algumas pesquisas sugerem que sua trajetória será mais difícil este ano. Uma análise feita pelo Financial Times da média de pesquisas da RealClearPolitics dá a Biden a vantagem em quatro desses estados.

Enquanto isso, uma pesquisa do Des Moines Register divulgada no sábado deu a Trump uma dianteira de sete pontos percentuais no Iowa –um de seus melhores resultados das últimas semanas em pesquisas.

“A próxima onda vermelha está chegando... Será uma onda como ninguém jamais viu. A terça-feira será linda”, disse Trump no domingo, num comício em Michigan, debaixo de neve. “Supostamente estamos perdendo feio, mas então nos equiparamos e vencemos.”

Num evento no modelo drive-thru na Filadélfia que visou mobilizar o eleitorado cristão negro, Biden sugeriu que Trump está tentando impossibilitar eleitores de exercer seu direito de voto.

No domingo, a Suprema Corte do Texas bloqueou um esforço de republicanos para invalidar mais de 120 mil votos depositados em dez locais de voto drive-thru no condado de Harris, de maioria democrata.

Os republicanos haviam argumentado que as estações de voto drive-thru são ilegais no estado e que sua localização favorece eleitores democratas. A expectativa é que um tribunal distrital federal anuncie uma decisão emergencial sobre o assunto nesta segunda-feira.

“Não interessa quanto Donald Trump tenta”, declarou Biden na Filadélfia. “Não há nada, nada que ele vai fazer que impeça esta nação de votar, por mais que ele se esforce para isso.”

Alguns estados competitivos, como a Carolina do Norte e a Flórida, já começaram a contar as cédulas, e a previsão é que anunciem os resultados em algum momento da noite do dia 3 ou no dia seguinte.

Mas outros, como Michigan e Pensilvânia, não estão autorizados a começar a contabilizar os votos até o prazo final da eleição. Isso significa que pode levar vários dias para os estados anunciarem seus totais de votos, dado o volume previsto de votos enviados pelo correio.

“O volume de eleitores que estão participando é algo que nunca antes vimos. Vai levar tempo para contar esses votos”, disse à CNN no domingo a governadora de Michigan, a democrata Gretchen Whitmer. “É mais importante termos uma contagem exata do que uma contagem que seja rápida.”

Uma pesquisa da CBS News divulgada no domingo indicou que 66% dos votos depositados antecipadamente foram para Joe Biden. A expectativa é que Trump se saia melhor no próprio dia da eleição, ficando com 69% dos votos depositados pessoalmente nesse dia.

Por isso, pode parecer inicialmente que Trump está se saindo melhor que Biden em estados como Michigan e Pensilvânia, antes de serem contabilizados os votos antecipados.

O presidente e funcionários de sua campanha estão criticando a demora prevista nos resultados e acusando democratas antecipadamente de tentarem “roubar” a eleição.

“Se você conversar com muitos democratas inteligentes, eles acreditam que o presidente Trump estará ganhando na noite da eleição... E então vão tentar roubar essa dianteira de volta depois da eleição”, disse à ABC News no domingo um assessor sênior da campanha de Trump, Jason Miller.

“Acreditamos que teremos mais que o número necessário de votos no Colégio Eleitoral já na noite da eleição, de modo que, não importa o que eles tentem fazer, não importa que tipo de truques, ações judiciais ou qualquer outro tipo de besteira que tentarem fazer, ainda teremos votos suficientes no Colégio Eleitoral para reeleger o presidente Trump.”

Comboios de partidários de Trump bloquearam o trânsito com seus carros em duas das rodovias mais movimentadas de Nova York e Nova Jersey no domingo. No Texas, representantes democratas disseram que um ônibus da campanha de Biden foi empurrado para fora da estrada por motoristas agitando bandeiras e faixas de Trump, forçando a campanha democrata a cancelar alguns de seus eventos locais.

Trump vem lançando avisos agourentos sobre resultados atrasados, levantando a perspectiva de fraude eleitoral no estado indeciso chave da Pensilvânia.

“Vamos ficar esperando. O dia 3 de novembro vai chegar e vai ficar para trás, e não vamos saber o resultado, e haverá caos em nosso país”, disse Trump em Newtown, Pensilvânia, no sábado. Ele avisou mais tarde que a única possibilidade de ele perder na Pensilvânia será “se alguém jogar sujo”.

Nos dias finais da campanha, Biden vem concentrando seus ataques sobre o que afirma ser a má gestão absoluta feita por Trump da pandemia de coronavírus –uma área na qual, indicam as pesquisas, a maioria dos americanos acha que o presidente deixou a desejar.

Houve 90 mil novos casos de Covid-19 no sábado. Apesar de ser menos que o aumento recorde de 97 mil novos casos registrado na sexta-feira, o total de casos desde o início da pandemia já passa de 9 milhões, segundo o Projeto de Rastreamento da Covid.

Mais de 40% dos novos casos ocorreram nos estados do Meio-Oeste. Onze desses 12 estados tiveram médias de sete dias que alcançaram um pico recorde no sábado. Oito deles registraram o nível mais alto de hospitalizações por coronavírus.

A campanha de Biden circulou no sábado os resultados de um estudo da Universidade Stanford que estimou que 18% dos muitos comícios realizados por Trump entre junho e setembro levaram a 30 mil casos adicionais de Covid e 700 mortes.

Tradução de Clara Allain

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