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Trump mentiu sobre fraudes? Veja checagem de discurso do presidente na Casa Branca

Republicano apontou, sem mostrar evidências, fraudes no processo eleitoral americano

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São Paulo

Nos 15 minutos em que discursou na Casa Branca na noite desta quinta-feira (5), o presidente Donald Trump repetiu alegações de fraudes nas eleições —sem apresentar provas que corroborassem as acusações— e insistiu na cruzada judicial para tentar contestar uma vitória do democrata Joe Biden.

Ao contrário do que costuma fazer em pronunciamentos públicos, o republicano leu a maior parte de sua fala e não respondeu a perguntas dos jornalistas. Veja a seguir a checagem de frases do discurso.

O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa na Casa Branca, em Washington
O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa na Casa Branca, em Washington - Brendan Smialowski - 5.nov.20/AFP

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'Se você contar os votos legais, eu ganhei facilmente. Se você contar os votos ilegais, eles podem tentar roubar a eleição de nós'

Trump não especificou no discurso quais votos considera "ilegais", mas durante a campanha ele repetiu que votos por correspondência recebidos e computados depois de 3 de novembro, dia final da eleição, não são válidos nem deveriam ser reconhecidos.

Votar a distância é permitido pela Justiça americana, inclusive em estados decisivos, como Pensilvânia, Nevada e Carolina do Norte —desde que as cédulas tenham sido postadas até o dia 3 de novembro.

A missão eleitoral da OEA (Organização dos Estados Americanos), que acompanha as eleições nos Estados Unidos como observadora, disse nesta sexta (6) que não "observou diretamente nenhuma irregularidade grave" e pediu aos candidatos que evitem "especulações nocivas".

Na quinta (5), um juiz federal negou um pedido de emergência da campanha de Trump para interromper a contagem dos votos no condado da Filadélfia enquanto representantes do Partido Republicano não estivessem presentes para acompanhar a apuração.

De acordo com a ação do partido, funcionários eleitorais "se recusaram intencionalmente a permitir quaisquer representantes e observadores do presidente Trump" durante o processo.

No tribunal, entretanto, um advogado da campanha de Trump admitiu, com relutância, que havia representantes republicanos durante a apuração na Filadélfia. "Há um número de pessoas diferente de zero na sala", disse, em referência aos enviados pelo partido para monitorar a contagem.

'Há, agora, apenas alguns estados a serem decididos na corrida. Os aparatos de votação nestes estados são todos geridos por democratas'

Quando se referiu aos estados a serem decididos, Trump falava sobre Geórgia, Pensilvânia, Carolina do Norte, Nevada e Arizona. Nem todos são administrados por democratas. Na realidade, o governador da Geórgia, Brian Kemp, é republicano, assim como o secretário de Estado, Brad Raffensperger, uma das autoridades eleitorais. O governador do Arizona, Doug Doucey, também é republicano.

A secretária de Estado de Nevada, Barbara Cegavske, também é membro do partido do presidente.

Além disso, não há evidências, até o momento, de que os estados governados por democratas —como Nevada, Pensilvânia e Carolina do Norte— estejam fraudando a apuração para prejudicar Trump.

'Venho falando sobre votação por correio há muito tempo. Realmente destruiu o nosso sistema. É um sistema corrupto e que corrompe as pessoas'

O presidente desestimulou sua base a votar por correio desde o início da corrida eleitoral, alegando que a prática era fraudulenta e, assim, reforçando um boato que circula há anos entre republicanos.

Devido à pandemia, o voto por correspondência ganhou força inédita e foi a escolha de mais de 65 milhões de americanos para participar das eleições deste ano, segundo o US Elections Project.

Não há evidências de ilegitimidade. De acordo com um estudo da Heritage Foundation, um think tank conservador, desde 1988 cerca de 250 milhões de cédulas foram enviadas dessa forma, das quais apenas 208 eram fraudulentas e resultaram em condenações.

Nos cinco estados que votam quase inteiramente por correio —Havaí, Colorado, Washington, Oregon e Utah—, os índices de fraude são baixíssimos; em Utah, houve apenas um caso de fraude registrado desde 2013, dentre 970 mil cédulas enviadas por correspondência.

A eleição presidencial de 2000, no entanto, disputada entre o republicano George W. Bush e o democrata Al Gore, acabou decidida na Suprema Corte devido à denúncia de fraude em votos na Flórida, parte deles em cédulas por correspondência.

Gore alegou que mesários num condado majoritariamente republicano permitiram que membros do partido completassem formulários de voto por correio que haviam chegado incompletos.

Os democratas queriam que todos os votos por correspondência da Flórida fossem anulados, o que daria a vitória a Gore. A Suprema Corte negou a recontagem de votos, e Bush foi nomeado presidente.

'As pesquisas de intenção de voto erraram intencionalmente'

De fato, as pesquisas eleitorais nos EUA subestimaram a quantidade de votos que Trump recebeu no pleito e traçaram um cenário mais favorável a Biden do que se vê na realidade.

A média das pesquisas nacionais calculada pelo site especializado FiveThirtyEight indicava que Biden venceria com uma vantagem de 8,4 pontos percentuais. Até esta sexta (6), Biden lidera no voto popular com uma margem de pouco menos 3 pontos percentuais.

Entretanto, não há evidências de que os erros tenham sido intencionais e, até o momento, as sondagens acertaram ao prever o favoritismo do candidato democrata.

'É incrível como cédulas enviadas por correio são tão unilaterais também'

Como Trump foi contrário aos votos enviados pelo correio, os eleitores de Biden foram os mais adeptos do voto a distância como medida preventiva durante a pandemia.

Seis dias antes da eleição, segundo o US Elections Project, os democratas representavam 47,4% dos votos depositados —de longe o maior grupo, seguidos pelos que apoiam o Partido Republicano (29,4%) e os sem filiação partidária (22,5%).

'Na Geórgia, um cano rompeu em um lugar distante, não relacionado ao local onde estava acontecendo [a contagem de votos], e eles pararam a apuração durante quatro horas'

O cano estourou na State Farm Arena, em Atlanta, no estado da Geórgia, e afetou uma sala onde votos antecipados estavam sendo tabulados. Segundo uma nota divulgada pelo local, o vazamento ocorreu às 18h07 e, em duas horas, os reparos foram concluídos. Nem cédula nem equipamentos foram afetados.

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