Descrição de chapéu Venezuela

Chavistas tomam posse na Assembleia da Venezuela e ameaçam oposição

Novo presidente da Casa fala em exorcismo de críticos de Maduro e acusa Guaidó de desviar dinheiro

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Buenos Aires

O dia da posse da nova Assembleia Nacional da Venezuela, nesta terça-feira (5), começou tenso, com o regime de Nicolás Maduro e a oposição promovendo duas sessões simultâneas do órgão.

Os novos congressistas assumiram oficialmente seus cargos durante sessão na sede do Legislativo, em Caracas, em um evento marcado por ataques de chavistas aos líderes do movimento contra o ditador.

Já os oposicionistas, que comandavam o órgão até então, realizaram uma sessão online para reeleger Juan Guaidó ao comando da Casa, numa tentativa de ampliar o prazo de seus mandatos até a realização de eleições consideradas livres.

Deputados alinhados ao regime de Maduro seguram retratos de Simón Bolívar e Hugo Chávez durante sessão da nova Assembleia Nacional
Deputados alinhados ao regime de Maduro seguram retratos de Simón Bolívar e Hugo Chávez durante sessão da nova Assembleia Nacional - Fausto Torrealba/Reuters

Logo após ser reconduzido ao cargo, de maneira simbólica, uma vez que grande parte da oposição boicotou as últimas eleições, Guaidó defendeu a legitimidade da Assembleia Nacional e afirmou que a Casa "continuará de pé, representando os venezuelanos e apoiado pela comunidade internacional".

Após fazer um balanço de sua atuação nos últimos dois anos, ele também afirmou que seu objetivo é a realização de eleições livres no país. "Nós queremos reconstruir a transição e não vamos desistir antes."
Guaidó também convocou outros líderes oposicionistas que não estão no órgão, como Henrique Capriles, Maria Corina Machado, Leopoldo López e Julio Borges, a participar da luta e pediu à população que saia às ruas para defender uma transição democrática.

Já na posse da nova Assembleia Nacional, agora alinhada ao regime, o eleito para comandar a Casa foi o deputado Jorge Rodríguez, ex-vice-presidente, ex-ministro das Comunicações e um dos homens mais poderosos do chavismo. Em seu discurso, não poupou ataques a Guaidó e acusou o opositor de desviar verbas doadas pelos Estados Unidos.

"Há dinheiro dado pela comunidade internacional para a Venezuela e que está em nome de Guaidó, Leopoldo López e Julio Borges em contas fora do país. Eles gastaram em bebida e em prostitutas. Também roubaram empresas estatais e dinheiro da Venezuela que estava no exterior", afirmou Rodríguez.

Exaltado, ele disse que fará uma investigação sobre a atuação de Guaidó e do resto da liderança da Assembleia Nacional nos últimos cinco anos, quando ela estava sob comando da oposição.

Ao final de sua fala, Rodríguez afimou ainda que, sob seu comando, a Casa fará um "exorcismo" do que aconteceu sob Guaidó. "Haverá concórdia e democracia, mas há crimes que não podem ser perdoados. Foram crimes contra os mais humildes e os trabalhadores. Não podemos esquecer o que ocorreu nos últimos cinco anos e vamos ter de revisar todas essas decisões."

O número dois do chavismo, Diosdado Cabello, por sua vez, afirmou que a oposição "cometeu vários delitos e causou muitos danos à pátria" e que a Assembleia agora é formada por patriotas. Lideranças da oposição também puderam discursar, mas não apresentaram um candidato para liderar a Casa.

As falas de chavistas foram recebidas com gritos de "viva a Revolução Bolivariana" pelos deputados. O local também ganhou nova decoração, com quadros de Hugo Chávez e Simón Bolívar.

Oficialmente, os mandatos dos agora ex-deputados terminaram nesta segunda, mas a oposição, que era maioria na Casa, defende a extensão do prazo por mais um ano, até que sejam realizadas eleições livres.

Juan Guaidó, de terno, segura microfone na frente de um púlpito, com duas bandeiras da Venezuela ao fundo
Juan Guaidó discursa após ser reeleito como presidente da Assembleia Nacional - Divulgação

Os opositores não reconhecem o resultado do pleito legislativo realizado em 6 de dezembro, recheado de denúncias de fraudes —a maioria dos partidos críticos ao regime se recusou a participar da votação.

Grande parte da comunidade internacional também se negou a reconhecer o resultado da votação. Além disso, o Conselho Nacional Eleitoral cometeu, segundo a oposição, uma série de irregularidades durante o processo. O órgão foi responsável por ampliar o tamanho da Assembleia, de 167 deputados para 277.

Com o boicote, o chavismo venceu com folga e conquistou 256 cadeiras, retomando assim seu poder no órgão. Foi essa nova Assembleia, reconhecida pelo regime, que tomou posse nesta terça.

Para a oposição, porém, Guaidó continua sendo o presidente da Casa.

Em meio a este cenário, há relatos de que a residência do líder opositor foi cercada pela manhã por agentes do Sebin, o serviço de inteligência do regime.

Como oficialmente a Assembleia conduzida por Guaidó era considerada em desacato e agora os congressistas perderam imunidade parlamentar, oposicionistas temem que ex-deputados sejam presos.

"Este é o método que a ditadura usa", afirmou Guaidó em uma rede social. "Temos enfrentado obstáculos e continuaremos adiante. Enquanto a ditadura tenta gerar terror e militarizar o Parlamento, instalaremos um novo período da Assembleia Nacional legítima", completou.

Guaidó havia convocado para esta terça uma manifestação para defender a continuidade do mandato da Assembleia opositora. Na segunda, porém, a número 2 do regime, Delcy Rodríguez, anunciou o início de uma "quarentena radical" até domingo (10), devido à pandemia do coronavírus, o que inviabilizou o ato.

Também na segunda, o Departamento do Tesouro dos EUA emitiu uma declaração afirmando que mantém seu reconhecimento à Assembleia Nacional eleita em 2015, liderada por Guaidó. Avisou, ainda, que não vai autorizar transações financeiras ou outras atividades que envolvam a "Assembleia Nacional ilegítima programada para começar em 5 de janeiro de 2021, incluídos seus respectivos membros e funcionários".

O governo brasileiro também já tinha decidido que seguirá reconhecendo Guaidó como líder venezuelano.

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