Com demissão de gerente horas antes, Biden deu de cara com porta fechada na Casa Branca

Novo governo dispensou administrador que havia trabalhado em hotel de Trump

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Washington | The New York Times

Foi o momento culminante da transferência de poder: o presidente Joe Biden e a primeira-dama Jill Biden percorreram o caminho de acesso à sua nova residência na noite da quarta-feira (20), subiram os degraus da Casa Branca para chegar ao Pórtico Norte, acenaram para a multidão enquanto uma banda militar tocava “Hail the Chief”, voltaram-se para entrar —e deram de cara com uma porta fechada.

Sob os olhares atentos do mundo e enquanto um grupo de familiares dos Biden se aproximava atrás deles, o primeiro casal esperou. O presidente deveria abrir ele próprio as duas grandes metades da porta? Teria o ex-presidente Donald Trump, que deixara a Casa Branca oito horas antes, o trancado para fora?

O presidente Joe Biden e a primeira-dama Jill Biden aguardam abertura do Pórtico Norte da Casa Branca
O presidente Joe Biden e a primeira-dama Jill Biden aguardam abertura do Pórtico Norte da Casa Branca - Alex Brandon - 20.jan.21/AFP

A porta foi aberta logo depois, e os Biden entraram. O momento embaraçoso durou apenas alguns segundos —cerca de dez—, mas não passou despercebido em Washington. “Houve uma quebra do protocolo quando as portas não foram abertas para a primeira família em sua chegada ao Pórtico Norte”, disse Lea Berman, que foi secretária social do presidente George W. Bush na Casa Branca.

“A demora em abrir a porta me deixou um pouco perplexa”, disse Betty Monkman, que foi curadora da Casa Branca por 30 anos e ajudou a supervisionar as trocas da guarda entre administrações passadas.

A quebra de protocolo foi um elemento pequeno, mas curioso, de confusão nos caóticos dois meses e meio passados entre o dia da eleição e o da posse de Biden. Nada foi normal na transição de Trump para Biden, e a entrega da Casa Branca a seus novos ocupantes não foi exceção.

Um fato notável foi a falta de um “chief usher” (algo como um gerente ou administrador da Casa Branca) para saudar os Biden em sua chegada. Embora não esteja claro o que causou a demora com as portas —que normalmente são abertas por Marines—, o chief usher da Casa Branca, que administra a residência, havia sido demitido menos de cinco horas antes.

Timothy Harleth, chief usher do casal Trump e ex-gerente de quartos do Hotel Trump em Washington, estava mudando móveis de lugar no dia da posse presidencial quando, às 11h30, foi informado que não havia mais necessidade de seus serviços, segundo pessoas que acompanharam a situação.

O advogado do presidente que assumiria em breve ligou para o advogado da Casa Branca na quarta-feira (20), segundo uma pessoa que acompanhou o processo, e disse que os Biden pretendiam trazer alguém de sua própria escolha para cumprir a função. A saída de Harleth foi noticiada primeiramente pela CNN.

Harleth foi escolhido por Melania em 2017, quando ela era primeira-dama. Seus deveres incluíam cuidar de questões de pessoal e administrar os orçamentos da residência da família do presidente. “Ele foi escolhido devido a seu histórico profissional impressionante e habilidade administrativa”, disse ela.

O cargo de chief usher é tradicionalmente isento de ligações com política, mas a decisão de Melania de contratar um funcionário da Organização Trump politizou o posto, apesar de Harleth ter tentado caracterizar o trabalho como nada mais que uma escala em sua longa carreira no setor da hospitalidade.

O trabalho para a Casa Branca era bem pago —alguns chief ushers disseram que o salário gira em torno de US$ 200 mil (R$ 1,08 milhão) por ano—, mas a carga horária de trabalho é grande, especialmente se o presidente for alguém que habitualmente acorda cedo ou se deita tarde. Trump era as duas coisas (Biden, segundo quem conhece seus hábitos, não costuma ser especialmente ativo pela manhã).

Desde o dia da eleição, Harleth ficou em posição insustentável: tentando iniciar os preparativos para a chegada de um novo residente à Casa Branca, ao mesmo tempo que o ocupante se recusava a admitir que iria deixá-la. Trump em nenhum momento recebeu Biden na Casa Branca, como manda a tradição. E Melania não convidou Jill Biden a conhecer a residência antes do dia de sua mudança.

Mark Meadows, ex-chefe de gabinete da Casa Branca, estava insatisfeito com Harleth por este ter tentado enviar materiais informativos sobre a residência à equipe de transição de Biden em novembro, disseram pessoas familiarizadas com o processo. Um porta-voz de Meadows não respondeu a um pedido de declarações. Um porta-voz de Jill Biden, tampouco.

Não está claro quem Jill Biden vai convidar para tomar o lugar de Harleth, mas consta que há vários vice-chief ushers que ainda estão exercendo seus papéis.

“Foi uma honra servir como chief usher, um cargo cuja lealdade não é a um presidente específico, mas à instituição da Presidência”, disse Harleth em comunicado. “Sinto orgulho por ter tido a oportunidade de liderar a equipe da residência para receber a nova primeira família com o maior respeito e dignidade, não apenas por esta administração, mas pelo sucesso futuro do gabinete do presidente."

Tradução de Clara Allain 

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