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Com entrevista a Oprah, Harry e Meghan mostram que não conseguem se afastar do circo midiático

Relação de amor e ódio com a imprensa faz parte do esquema de marketing da monarquia britânica

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São Paulo

Meghan Markle tinha 35 anos quando conheceu o príncipe Harry. Àquela altura, já se divorciara de seu primeiro marido, o cineasta Trevor Engelson. Também era dona de uma sólida carreira como atriz em Hollywood, com um papel fixo na série “Suits”.

Ou seja: não era uma garotinha inexperiente. Bem diferente da sogra que não chegou a conhecer, Diana Spencer, lançada ao olho do furacão ainda adolescente.

Meghan e Harry namoraram por dois anos antes de se casarem, em 2018. Nesse meio tempo, a futura duquesa de Sussex frequentou inúmeros eventos ao lado do noivo e foi apresentada a todos os membros da família real britânica. Por tudo isto, soou um pouco estranha a declaração de que não fazia ideia do que iria enfrentar, dada à apresentadora Oprah Winfrey na já histórica entrevista de domingo passado (7).

O príncipe Harry e sua esposa, Meghan Markle, durante entrevista concedida à apresentadora Oprah Winfrey nos EUA
O príncipe Harry e sua esposa, Meghan Markle, durante entrevista concedida à apresentadora Oprah Winfrey nos EUA - Joe Pugliese/Harpo Productions

Como assim? Meghan jamais se interessou em conhecer os protocolos da realeza antes de se casar com um príncipe? Nunca leu uma linha da cobertura obsessiva que a casa de Windsor recebe dos tabloides?

Talvez não. Por um lado, ela faz parte de uma geração que acredita que tradições e rapapés não cabem mais no mundo moderno. Por outro, os códigos da realeza são mesmo difíceis de serem decifrados. Diana, quando criança, chamava a rainha Elizabeth 2ª de tia Lilibeth, e mesmo assim pagou um dobrado. Imagine então uma americana divorciada e birracial.

Entre esses códigos está a complexa relação que a Coroa mantém com a imprensa. Nenhuma outra casa real vive sob tamanho escrutínio, 24 horas por dia. Mal ouvimos falar dos reis da Dinamarca, mas sabemos os pratos favoritos dos Windsors, os nomes de seus cães, a marca de sua pasta de dentes.

É uma relação de amor e ódio, em que um lado depende do outro. Também é parte indispensável do marketing real. Afinal, a monarquia custa milhões aos cofres públicos do Reino Unido, mas atrai bilhões em turismo e venda de lembrancinhas.

Volta e meia, a imprensa exagera. Revela, por exemplo, que o príncipe Charles disse que queria ser o absorvente íntimo de Camilla Parker Bowles, quando os dois ainda eram amantes. O incidente mais grave, é claro, foi a morte de Diana em Paris, quando seu carro era perseguido por paparazzi.

Mas a rainha não diz uma palavra que não tenha sido cuidadosamente calibrada, sempre de olho na reação de seus súditos —e é a imprensa quem faz esta mediação. Elizabeth não foi treinada para o cargo desde que nasceu, mas aprendeu rápido. E se tornou uma monarca profissional, desempenhando suas funções com discrição e elegância. O resultado é que sua popularidade se mantém estável há quase 70 anos.

Mas o preço é alto, como deixa patente a série “The Crown”, da Netflix. Até mesmo para alguém como Harry, que é apenas o 6º na linha de sucessão, e de quem não se exige uma vida absolutamente impecável —ao contrário de seu irmão, William, o herdeiro aparente, alvo de uma pressão bem maior.

A pressão acabou se provando demasiada para Meghan, que ainda teve que suportar a pergunta que toda mulher negra casada com um homem branco ouve em algum momento: “Qual será a cor do seu filho?”. Traumatizado pela morte da mãe, Harry achou melhor cair fora. Preferiu se afastar do circo montado em volta dos Windsors.

Só que nem eles conseguiram ficar longe muito tempo, como ficou óbvio ao darem uma entrevista a Oprah.

Erramos: o texto foi alterado

O sobrenome de Camilla Parker Bowles foi grafado incorretamente. O texto foi corrigido. 

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