Descrição de chapéu oriente médio

Após ataque em usina nuclear, Irã anuncia que vai enriquecer urânio a 60%

Governo iraniano responsabiliza Israel por incidente e promete vingança

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Dubai, Viena e Washington | Reuters

O Irã anunciou nesta terça-feira (13) que vai começar a enriquecer urânio a 60%, colocando o país numa margem mais próxima dos 90% necessários para a fabricação de uma bomba nuclear.

A notícia vem dois dias após uma explosão na usina nuclear subterrânea de Natanz, onde foram inauguradas novas centrífugas avançadas de enriquecimento do elemento químico.

A instalação, localizada no deserto da província de Isfahan, é a peça central do programa nuclear do Irã e é monitorada por inspetores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), órgão ligado à ONU (Organização das Nações Unidas). A agência disse, pouco após o anúncio, que foi informada por Teerã da decisão. O negociador chefe para assuntos nucleares do país persa, Abbas Araqchi, também disse que o Irã ativaria mil máquinas centrífugas avançadas na usina em Natanz.

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, passa pelas bandeiras iraniana e russa antes de se reunir com o chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, em Teerã
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, passa pelas bandeiras iraniana e russa em Teerã - Reuters

O governo iraniano acusa Israel de estar por trás do incidente de domingo —israelenses já sabotaram a indústria nuclear do país persa em outras oportunidades, tanto com ciberataques quanto com o assassinato de cientistas nos últimos anos. Teerã prometeu vingança.

Os israelenses não negam a ação, mas a rádio pública Kan citou fontes de inteligência para afirmar que o Mossad, a agência de espionagem do país, havia realizado um ataque cibernético contra a instalação de Natanz. A emissora disse ainda que os danos à usina eram maiores do que os relatados pelo Irã.

Numa entrevista coletiva nesta terça, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Zarif, disse que o ataque às instalações foi uma "aposta muito ruim" de Israel. O chanceler, que estava ao lado de seu homólogo russo na capital iraniana, também afirmou que o episódio fortalecerá Teerã nas negociações para reviver o acordo nuclear de 2015, abandonado pelos EUA sob Donald Trump há três anos.

Na semana passada, representantes dos dois países iniciaram negociações indiretas mediadas pelos europeus em Viena, na Áustria, onde o pacto foi firmado originalmente —e as conversas devem ser retomadas na quinta-feira (15). Estavam presentes representantes de Reino Unido, China, França, Alemanha e Rússia (os outros membros atuais do acordo) e o coordenador-chefe da União Europeia.

Sem negociações cara a cara —o Irã se recusou a se encontrar diretamente com os EUA—, os europeus trabalham numa espécie de diplomacia intermediária, deslocando-se entre as delegações dos dois países.

As discussões em Viena visam restaurar os pontos centrais do acordo —restrições às atividades nucleares do Irã em troca da suspensão das sanções impostas pelos EUA.

Oficialmente, tanto Irã quanto EUA insistem que querem voltar ao tratado, mas discordam sobre quem deve dar o primeiro passo. Por isso, as negociações atuais também têm como objetivo criar um roteiro para um retorno sincronizado ao cumprimento do pacto. Mesmo que haja acordo, a verificação ainda pode demorar algum tempo devido às complicações técnicas e à falta de confiança de ambas as partes.

A Casa Branca, porém, afirmou que os EUA estão preocupados com o “anúncio provocativo" de Teerã. A porta-voz do governo, Jen Psaki, também disse que o Conselheiro de Segurança Nacional americano, Jake Sullivan, reafirmou nesta terça o "compromisso inabalável do governo Biden com a segurança de Israel e com a garantia de que o Irã nunca obterá uma arma nuclear" durante reunião virtual de um grupo de consultoria estratégica dos EUA e de Israel.

O Irã diz que nunca procurou obter ou desenvolver armas nucleares e que busca tecnologia nuclear para fins civis nas áreas de medicina ou energia. O anúncio desta terça, porém, não é inesperado. Em fevereiro deste ano, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, já havia dito que o limite de enriquecimento de urânio não seria apenas de 20% e que o país atuaria de acordo com suas necessidades, podendo “aumentar para 60%”.

As declarações ocorreram na véspera da entrada em vigor de uma lei que pretende limitar a inspeção da ONU na atividade nuclear do Irã enquanto as sanções americanas forem mantidas.

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