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Aposentadoria de Raúl Castro e reformas marcam congresso do Partido Comunista cubano

Encontro deve confirmar Díaz-Canel no comando da sigla e discutir mudanças econômicas na ilha

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Buenos Aires

O Partido Comunista de Cuba (PCC) realiza a partir desta sexta-feira (16) um congresso que promete ser histórico: o evento deve marcar a aposentadoria da velha guarda da legenda, incluindo a do atual primeiro-secretário —cargo máximo da instituição—, Raúl Castro, 89.

Assim, pela primeira vez desde a Revolução Cubana, em 1959, a ilha não terá um integrante da família Castro na cúpula —Raúl assumiu o cargo em 2011, substituindo seu irmão mais velho, Fidel (1926-2016).

Mulher passa em frente a cartaz em Havana com imagens de Fidel Castro, Raúl Castro e Miguel Díaz-Canel e a frase 'nós somos a continuidade'
Mulher passa em frente a cartaz em Havana com imagens de Fidel Castro, Raúl Castro e Miguel Díaz-Canel e a frase 'nós somos a continuidade' - Alexandre Meneghini - 12.abr.21/Reuters

Ainda não está claro quem assumirá o comando do partido ao final dos quatro dias de congresso, mas o favorito para o posto é Miguel Díaz-Canel, 60, que atualmente já lidera o regime no cargo de presidente.

No complexo sistema político cubano, duas estruturas coexistem: a do Estado e a do partido. Em 2018, Raúl cedeu a Díaz-Canel o comando oficial do país, mas manteve a liderança da sigla em suas mãos.

Assim, a expectativa agora é a de que essa transição termine, com Díaz-Canel enfim acumulando os dois cargos mais importantes —o de presidente do país e o de primeiro-secretário do partido—, enquanto Raúl afirma querer passar mais tempo com a família.

Além da troca na cúpula, o encontro também tem outros dois itens em pauta: a implementação de reformas econômicas e a criação de medidas para ampliar a base de integrantes da sigla. "Ainda que Díaz-Canel insista no lema de que ele é a continuidade, a terrível situação do país o pressiona cada vez mais a realizar uma reabertura da economia mais rápida do que deseja a atual direção do partido", diz à Folha o analista Peter Kornbluh, pesquisador do National Security Archive dos EUA.

Em 2020, Cuba viu o PIB encolher 11 pontos percentuais, e a escassez de comida, que já existia antes da pandemia de coronavírus, é visível nas grandes filas nos mercados. A Covid também afetou o turismo, principal fonte de renda da ilha. "A legitimidade de Díaz-Canel está em jogo e será definida por sua capacidade de recuperação nesta crise", afirma Kornbluh. "É possível que o partido não queira anunciar mudanças nos dias do Congresso, mas a pressão popular vem aumentando, e algum gesto de que o governo pretende realizar avanços por abertura é necessário."

Desde 2008, quando Raúl começou a substituir Fidel, algumas reformas foram realizadas, o que permitiu a abertura à iniciativa privada de um número limitado de setores, além da distribuição de subsídios para incrementar a produção para exportação. Atualmente, cerca de 600 mil cubanos trabalham no setor privado, o que corresponde a 13% da população economicamente ativa no país.

"As mudanças econômicas mais estratégicas já foram definidas em congressos anteriores, mas falta muito para colocar [as decisões] em prática, e é possível que isso seja assunto neste encontro, sob pressão da situação de crise", diz o cientista político Arturo López-Levy.

Em dezembro, o regime unificou suas duas moedas e aumentou salários, pensões e aposentadorias. Mas a medida provocou uma desvalorização de 2.000% do peso. A inflação também disparou e alcançou 160%, enquanto tarifas como a de energia aumentaram 500%.

Ao mesmo tempo, grupos de jovens que pedem mudanças no regime chamaram a atenção nos últimos meses. Não são numerosos, até para não provocar reações da ditadura, e são formados, em geral, por artistas, cantores e poetas. O mais importante deles é o movimento San Isidro, cuja bandeira é a liberdade de expressão —recentemente, alguns de seus membros foram detidos por alguns dias. Uma de suas estratégias é realizar suas reuniões cada vez em uma cidade diferente, para confundir as autoridades.

Na cidade de Santiago, um grupo fará uma greve de fome durante os quatro dias do congresso do PCC.

Outro grupo, o Patria y Vida, lançou um vídeo que viralizou. No Twitter, eles narraram passo a passo as detenções de seus membros e o tratamento recebido na prisão. A ampliação do acesso à internet na ilha permitiu que essas ações fossem coordenadas e que as mensagens dos ativistas corressem o mundo.

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