Descrição de chapéu The New York Times refugiados

Nos EUA, cadeias superlotadas na fronteira dão lugar a abrigos cheios de crianças migrantes

Governo Biden considerou vitória, mas documentos mostram que problema foi transferido de lugar

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Washington | The New York Times

Autoridades do governo Biden afirmam estar controlando melhor a onda de crianças migrantes que inundou os centros de detenção na fronteira dos Estados Unidos com o México.

Documentos obtidos pelo The New York Times mostram, contudo, que o problema foi transferido para outras instalações, como centros de convenções em Dallas, San Diego e Long Beach (Califórnia), que estão com capacidade quase totalmente ocupada devido à escassez de verbas para mais espaços.

As crianças migrantes são muito mais bem cuidadas nas novas instalações operadas pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS, na sigla em inglês) do que eram nas cadeias lotadas sob comando da Alfândega e Proteção de Fronteiras do Departamento de Segurança Interna, segundo autoridades.

Mas dirigentes do departamento de saúde estão levando cerca de um mês em média para tirar as crianças e adolescentes da custódia do governo e colocá-las sob cuidados de um parente ou patrocinador nos EUA.

A Casa Branca autorizou nesta semana o HHS a redirecionar US$ 850 milhões (cerca de R$ 4,6 bilhões) para assistência a crianças, segundo um documento interno datado de 6 de maio.

Outros US$ 850 milhões, aproximadamente, poderão estar disponíveis nas próximas semanas. Antes que essa transferência fosse concluída, o governo avaliou que precisaria de mais US$ 4 bilhões até o fim do ano fiscal, em 30 de setembro, segundo o documento.

Ao todo, na última semana, mais de 21 mil crianças estavam vivendo em abrigos sob assistência do governo, deixando os abrigos cerca de 80% completos. Um deles, no Centro de Convenções Kay Bailey Hutchison, em Dallas, com capacidade para 2.270 crianças, está com 1.990.

As 1.450 camas do Centro de Convenções de San Diego estão ocupadas. O ginásio Freeman Coliseum, em San Antonio, está perto do limite de 2.100 ocupantes, com apenas 90 vagas, e anunciou na sexta-feira (7) que vai parar de aceitar crianças migrantes depois deste mês.

O Centro de Convenções e Entretenimento de Long Beach está igualmente cheio, segundo o documento.

Lá Fora

Receba toda quinta um resumo das principais notícias internacionais no seu email

O relatório indica que faltam US$ 366 milhões para cobrir as despesas até este mês, o que vai "piorar rapidamente até julho".

As autoridades projetam que o custo de todo o ano fiscal de 2021 pode superar US$ 8 bilhões. Membros do governo Biden pintaram sua resposta ao surto de migrantes como uma vitória da logística do governo. Em questão de semanas, a administração conseguiu montar uma dúzia de novas instalações para abrigar e cuidar dessas crianças que, durante março e grande parte de abril, chegaram sozinhas aos milhares e foram obrigadas a ficar em instalações lotadas da Patrulha de Fronteiras, dormindo em ginásios, sobre colchonetes de ginástica com cobertas de alumínio, muitas vezes sem tomar banho.

Alejandro Mayorkas, o secretário de segurança interna, visitou a fronteira nesta semana para percorrer instalações do departamento muito menos ocupadas, que se destinavam originalmente a abrigar adultos apanhados tentando entrar no país sem a documentação necessária. O departamento divulgou fotos "antes e depois", mostrando o progresso que foi feito na transferência das crianças.

"Nós reorganizamos o processo para o tratamento de crianças desacompanhadas —com transferência para abrigos do HHS, que é o lugar delas", disse Mayorkas na sexta, quando falou a agentes da Patrulha de Fronteiras em Donna, no Texas. "Uma delegacia da Patrulha de Fronteiras não é lugar para crianças."

Mas o governo Biden ainda não resolveu um dos gargalos mais preocupantes do sistema na fronteira: liberar com rapidez e segurança os menores dos abrigos para patrocinadores selecionados nos EUA.

O processo garante que crianças sejam levadas para situações seguras e reduz o tempo que passam sob custódia do governo, diz Krish O’Mara Vignarajah, CEO do Serviço Luterano de Imigração e Refugiados.

O governo Biden também disse que muitos patrocinadores hesitam em se apresentar para receber menores depois que um programa da era Trump exigiu que o Departamento de Saúde compartilhasse informação sobre todos os adultos em um lar prospectivo de uma criança com a Polícia de Imigração e Alfândega (ICE). O presidente Joe Biden cancelou o programa.

Na sexta, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos disse que o tempo sob custódia do governo melhorou significativamente, de 42 dias em média quando Biden assumiu para os cerca de 30 dias atuais.

Na quinta, 775 crianças foram liberadas da assistência do governo, cerca de 300 a mais do que foram liberadas na semana passada. Mas as autoridades na fronteira relatam a necessidade de mais gerentes para ajudar a liberar as crianças, enquanto funcionários de outros órgãos federais já foram mobilizados para preencher as lacunas.

Biden culpa as políticas de imigração restritivas do governo Trump por deixar sua equipe pouco capacitada para cuidar do surto de imigrantes nesta primavera no hemisfério Norte.

Quando os migrantes —na maioria da América Central, que fogem da pobreza, violência e desastres naturais— começaram a chegar à fronteira sudoeste em grande número, o governo não tinha abrigos suficientes e seguros para as crianças que chegavam sozinhas.

"É política. Não se trata de substância ou de processo. Se o governo precisa de dinheiro para administrar a fronteira, deveria conseguir esse dinheiro", diz Theresa Cardinal Brown, diretora de políticas de imigração e fronteiras do Centro Bipartidário de Políticas. "É uma emergência. Não estava planejado ou no orçamento que eles teriam um número recorde de crianças desacompanhadas."

Na sexta, a deputada democrata Nanette Barragán, da Califórnia, presidente do subcomitê da Câmara para segurança nas fronteiras, percorreu o abrigo no centro de convenções em Long Beach e disse que o governo Biden está dando aos menores condições muito mais humanas nas instalações do departamento de saúde do que tinham sob a custódia da Patrulha de Fronteiras, onde, segundo ela, os jovens dormiam sobre esteiras no chão e não tinham atendimento médico.

"Vamos tirar as crianças da custódia da Patrulha de Fronteiras o mais rapidamente possível", disse Barragán em entrevista depois de visitar o abrigo, que tinha 728 crianças migrantes, com espaço livre para apenas 72 mais. "Na custódia do HHS, e até nos centros de emergência, elas têm equipe médica, têm camas, televisão, têm atividades." Mesmo assim, a deputada disse estar "preocupada" com dados que mostram que o programa precisará de mais dinheiro nos próximos meses.

E abrigar as crianças migrantes não é o único desafio do governo Biden na fronteira. Os Estados Unidos também têm permitido que um número crescente de famílias migrantes entre no país devido aos novos empecilhos para abrigar as famílias no México. Em consequência, o governo americano se esforçou para encontrar espaço para elas e decidiu abrigá-las em hotéis antes de liberar sua entrada no país.

O governo deverá expandir o número de hotéis com famílias migrantes neste fim de semana, segundo uma autoridade, um sinal de que as entradas de migrantes poderão aumentar no futuro próximo.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.