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Candidatos trocam ataques em debate presidencial no Peru

Em ambiente tenso, esquerdista Castillo enfrentou direitista Keiko Fujimori

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Buenos Aires

Tensão e troca de ataques marcaram o tom do primeiro debate do segundo turno presidencial no Peru.

Depois de desencontros sobre as regras e o local do evento, ambos os candidatos concordaram em realizar o debate na Plaza de Armas de Chota, cidade do departamento de Cajamarca, terra-natal do sindicalista e professor de esquerda Pedro Castillo, 51. Vencedor do primeiro turno, ele enfrentará na rodada final, em 6 de junho, a direitista Keiko Fujimori, 45, filha do autocrata Alberto Fujimori (1990-2000).

"Tive de vir até aqui para que o senhor aceitasse debater comigo. Espero que isso signifique que agora aceitará participar dos outros quatro debates estipulados pelo órgão eleitoral", disse Keiko, ao subir ao palco, sob vaias dos apoiadores de Castillo.

Pedro Castillo e Keiko Fujimori em debate de candidatos a presidente do Peru
Pedro Castillo e Keiko Fujimori em debate de candidatos a presidente do Peru - Sebastian Castaneda - 30.mar.21/Pool/Reuters

Castillo chegou ao local do debate dez minutos antes da 13h (15h no Brasil). Dançou, acenou ao público e passou a bater o dedo no pulso, para indicar que Keiko estava atrasada. A candidata encontrou dificuldades para chegar, primeiro porque ficou presa no trânsito e depois porque foi bloqueada pelos apoiadores de Castillo na caminhada para cruzar a praça e subir ao palco.

Havia apoiadores da candidata no local, mas em número menor. Segundo a rádio RPP, três quartos da praça estavam tomados por eleitores de Castillo. Regras sanitárias foram descumpridas, houve aglomeração e falta de uso de máscaras.

O moderador começou a apresentar o debate antes mesmo que Keiko chegasse, sob protestos de seus assessores, que já estavam no local, e o evento para valer teve início com 34 minutos de atraso. Depois, os candidatos trocaram farpas o tempo todo. "Para vir até aqui, eu apenas pedi licença no meu trabalho, enquanto a senhora teve de pedir uma permissão para a Justiça", afirmou Castillo, referindo-se ao processo de corrupção pelo qual Keiko responde.

"Como todos os comunistas, o senhor falta com a verdade e esconde que seu partido está ligado à corrupção", disse ela. A candidata também afirmou que os grupos de auto-defesa que Castillo defende, os chamados "ronderos", estão vinculados a "atos de terrorismo".

Quando discutiram a pandemia de coronavírus, ambos fizeram propostas ambiciosas. "Já conversei com o embaixador russo, e vamos ter 20 milhões de doses [da Sputnik V] para aplicar quando assumirmos", disse Castillo. Keiko também disse ter falado com o representante diplomático do Kremlin e prometeu vacinar todos os peruanos até o fim do ano.

Os dois vestiram-se com as cores do Peru. Ela com uma camiseta da seleção nacional de futebol, e ele com uma jaqueta branca com listras vermelhas e a palavra "Peru".

Quando debateram a estrutura de funcionamento do poder, Castillo voltou a afirmar que iria acabar com a Defensoria do Povo, com o Tribunal Constitucional e com a atual Constituição, estabelecendo uma assembleia para redigir uma nova Carta. Já Keiko afirmou que, "como não tem nenhuma ideia, o senhor Castillo quer apenas destruir as instituições que existem, em vez de apresentar propostas".

A candidata disse que vai propor o retorno de políticas assistencialistas, como o Prona, em vigor durante os anos do governo de seu pai, e que construiria 3.000 escolas, "assim como meu pai construiu". Castillo, por sua vez, afirmou querer reformar também a Justiça, com "eleições populares para os cargos de juiz".

Ambos defenderam em mais de uma ocasião a família como base da sociedade e prometeram combater a chamada "ideologia de gênero". Em relação à segurança, Keiko disse que teria a "mão firme das mães" e que construiria mais prisões. Já Castillo afirmou que, em sua gestão, os presos terão de trabalhar, mas que era preciso ver a delinquência "em vários níveis" e que era necessário punir "não apenas os delinquentes que estão nas prisões mas também os delinquentes que estão no poder".

Ambos coincidiram em aplicar restrições para a entrada de estrangeiros no país —o Peru é um dos que mais recebem imigrantes venezuelanos na região, depois da Colômbia. Keiko prometeu ser mais rigorosa na vigilância dos pedidos para permanecer no país, enquanto Castillo afirmou que "o estrangeiro que cometer um delito no Peru será expulso em 72 horas".

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