Dinamarca muda de ideia e vai repatriar 'noivas do Estado Islâmico'

Mulheres estão em campos de refugiados na Síria; governo agora teme radicalização das crianças

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Bruxelas

Um relatório da agência de inteligência da Dinamarca fez o governo mudar de ideia e aceitar repatriar as chamadas “noivas do Estado Islâmico” —europeias, na maior parte adolescentes, que na década passada foram cooptadas pelo grupo terrorista, muitas vezes sob falsas promessas de boas condições de vida.

Após o desmantelamento da organização jihadista, muitas ficaram detidas em campos de refugiados na Síria e pediram a seus países de origem que as recebessem de volta. Contrário ao retorno, o governo social-democrata da Dinamarca cedeu após o serviço de inteligência apontar riscos de radicalização que poderiam ficar mais graves no futuro, caso as crianças recebessem treinamento terrorista.

Organizações humanitárias têm alertado para a superlotação e as más condições nos campos de Roj e al-Hol, sob domínio curdo, no norte e nordeste da Síria, e relatos de tentativa de fuga têm crescido. Segundo o relatório, mais da metade dos 19 filhos de "noivas do EI" dinamarquesas está no início da adolescência, faixa etária considerada vulnerável à doutrinação extremista.

Em março, órgãos de informação afirmaram que os curdos estavam perdendo o controle do campo de al-Hol, que abriga mais de 64 mil pessoas. Em Roj estão cerca de 2.000 refugiados.

Após o anúncio da decisão, a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, afirmou que a medida não a deixa feliz: “Essas pessoas deram as costas à Dinamarca. São terroristas. Mas a situação nos campos piorou, e somos forçados a tomar esta decisão, até mesmo para a segurança do país”.

Segundo o Ministério do Interior (responsável por segurança), é melhor promover um “retorno controlado” do que assumir o risco de que as famílias escapem e voltem por conta própria à Dinamarca, onde poderiam entrar livremente, por serem cidadãos dinamarqueses. O Ministério das Relações Exteriores afirmou que serão repatriadas três mães que possuem cidadania e seus 14 filhos, entre 1 e 14 anos de idade.

Ainda está em aberto o destino de outras cinco crianças, filhas de três mulheres que eram naturalizadas dinamarquesas, mas foram destituídas de sua nacionalidade ao partir para a Síria.

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O governo não pretende recebê-las de volta, e as mães se opõem ao retorno apenas dos filhos, o que inviabiliza a viagem tanto pelas regras das autoridades curdas locais quanto pelas convenções internacionais e pela própria legislação dinamarquesa.

Após voltarem, as “noivas do EI” podem pegar de três a cinco anos de prisão. “Elas devem enfrentar as consequências das ações e tentaremos prendê-las assim que colocarem os pés em solo dinamarquês”, disse o ministro da Justiça, Nick Haekkerup. Os filhos passarão por programas de desradicalização.

A discussão sobre o destino das viúvas ou mulheres de combatentes islâmicos ocorre em vários outros países europeus, entre os quais Reino Unido, Irlanda, Bélgica, Holanda, Alemanha, Noruega e Finlândia.

Neste ano, uma norueguesa de 30 anos que se casou com três diferentes membros do Estado Islâmico entre 2013 e 2019, na Síria, foi condenada a 3,5 anos de cadeia após ser repatriada do campo de al-Hol.

No Reino Unido, a Suprema Corte britânica negou em fevereiro o pedido de retorno de Shamima Begum, ex-cidadã britânica que fugiu aos 15 anos para entrar no grupo terrorista.

No final do ano passado os governos alemão e finlandês afirmaram ter repatriado 18 crianças e cinco mulheres dos campos de refugiados. Um tribunal de Bruxelas também ordenou que o governo belga ajudasse a repatriar dez crianças nascidas na Síria, filhas de belgas que lutaram pelo Estado Islâmico.

No início de março, a Bélgica anunciou que tentaria trazer cerca de 30 crianças dos campos de refugiados e algumas de suas mães.

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