Descrição de chapéu The New York Times

Entenda em 8 pontos por que o arsenal de foguetes de Gaza preocupa Israel

Número de projéteis disparados a cada dia na onda mais recente de hostilidades é incomum

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Mona El-Naggar
Cairo | The New York Times

Eles contrabandeiam as peças ou as fabricam eles próprios, com a ajuda do Irã.

Reutilizam canos de esgoto encontrados em assentamentos israelenses abandonados e componentes tirados de bombas israelenses que não explodiram. Montam os foguetes em locais subterrâneos ou em áreas densamente povoadas que os israelenses relutam em atacar.

Apesar da divulgada capacidade de vigilância de Israel e de seu poder de fogo esmagador, militantes palestinos na Faixa de Gaza conseguiram acumular um grande arsenal de foguetes de longo alcance nos 16 anos passados desde que Israel saiu do enclave costeiro que ocupara após a guerra de 1967.

Foguetes disparados de Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza, são visto no céu de Israel
Foguetes disparados de Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza, são visto no céu de Israel - Anas Baba/AFP

O grupo militante Hamas, que administra Gaza desde 2007 e não reconhece o direito de existência de Israel, tem convertido esse arsenal em uma ameaça cada vez mais letal, conforme visto no mais recente recrudescimento das hostilidades com as forças israelenses. Segundo autoridades de Israel, até quinta-feira (13) os militantes já haviam disparado cerca de 1.800 foguetes.

Esse arsenal é insignificante quando comparado ao enorme poder destrutivo da força aérea de Israel.

Mas, para os israelenses, os foguetes são as ferramentas de uma entidade que seu país e muitos outros encaram como um grupo terrorista arraigado entre os quase 2 milhões de habitantes da Faixa de Gaza. Para muitos palestinos, os foguetes simbolizam resistência justa ao domínio e ocupação israelenses.

Quantos foguetes o Hamas e seus aliados acumularam?

A inteligência israelense estima que o Hamas, a Jihad Islâmica e outras organizações militantes palestinas possuam conjuntamente cerca de 30 mil foguetes e projéteis de morteiro armazenados na Faixa de Gaza. Os foguetes têm alcances diferentes e não possuem sistemas de orientação, mas os militantes têm conseguido aprimorar sua precisão.

O que há de novo nas saraivadas mais recentes lançadas da Faixa de Gaza?

O número de foguetes disparados a cada dia na onda mais recente de hostilidades é incomum. Embora a maioria dos foguetes pareça ter como alvo centros populacionais no sul e no centro de Israel, foguetes de alcance mais longo foram disparados contra Tel Aviv e Jerusalém. Para especialistas, isso é um sinal de que o Hamas não apenas conseguiu reabastecer seu arsenal como aprimorou suas capacidades.

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Alguns comandantes israelenses estão surpresos com a intensidade e o alcance dos foguetes disparados de Gaza

Uma análise feita por Michael Armstrong, professor-adjunto de pesquisas sobre operações na Universidade Brock, no Canadá, constatou um aumento importante na intensidade dos lançamentos. Usando números das Forças de Defesa de Israel, Armstrong, que estuda essas armas, citou 470 foguetes disparados de Gaza nas primeiras 24 horas da escalada mais recente de hostilidades. A título de comparação, a maior intensidade de disparos em 2014 foi de 192 foguetes em um dia, e em 2012, de 312.

Segundo Armstrong, o Hamas também lançou mais ataques de longo alcance, disparando 130 foguetes contra Tel Aviv na noite de terça-feira (11) –17% de todos os foguetes lançados até aquele ponto. Em 2014, esse número foi de 8%, e, em 2012, não chegou a 1%.

Por que as forças israelenses não conseguem destruir todos os foguetes quando ainda estão no ar?

Com seu sistema de defesa antimísseis Domo de Ferro, Israel já destruiu muitos dos foguetes antes de eles caírem. Mas cada vez mais foguetes vêm atingindo o território israelense, alguns com efeitos fatais. Especialistas dizem que os militantes agora sabem que a intensidade das salvas, além do fato de os foguetes serem lançados em direções múltiplas, expuseram vulnerabilidades na defesa israelense.

“Parece que estão querendo sobrecarregar ou saturar o sistema de interceptação de Israel, que só consegue lidar com certo número de ataques ao mesmo tempo”, disse Armstrong.

Quais são os alcances desses foguetes?

Acredita-se que uma parte considerável do arsenal seja formada de foguetes de curto alcance, conhecidos como Qassams, nome derivado da ala militar do Hamas. Eles têm alcance aproximado de 10 quilômetros, e sua fabricação é mais fácil e barata que as armas de alcance maior. Suas trajetórias são imprevisíveis; alguns caem dentro da própria Faixa de Gaza.

Os foguetes de alcance médio do arsenal, baseados em designs iranianos e russos, podem alcançar alvos a até 40 km de distância, atingindo alvos israelenses tão distantes quanto os subúrbios de Tel Aviv. Acredita-se que versões dessas armas sejam produzidas na Faixa de Gaza. Os foguetes de alcance mais longo são capazes de atingir Tel Aviv, Jerusalém e o aeroporto Ben-Gurion.

Eles incluem o M-75, um foguete de fabricação local com tecnologia fornecida pelo Irã, e o J-80, de fabricação local e que deve seu nome ao célebre comandante militar do Hamas Ahmed al-Jabari, morto em 2012 em um ataque aéreo israelense. Os números são uma referência a seus alcances estimados em quilômetros. Na quinta-feira (13), o Hamas declarou em comunicado que possui um míssil com alcance de 250 km que pode atingir qualquer ponto em Israel.

Como os militantes da Faixa de Gaza preservaram e até ampliaram seu arsenal?

No passado, foguetes de alcance médio e mais longo geralmente eram contrabandeados por meio de túneis cavados ao longo da fronteira sul da Faixa de Gaza com o Egito. Em alguns casos, eram transportados em partes e então montados em Gaza.

Mas nos últimos anos, com o Egito fazendo esforços maiores para bloquear e destruir os túneis, o contrabando de foguetes inteiros tornou-se muito mais problemático. Assim, o Hamas e suas entidades afiliadas na Faixa de Gaza desenvolveram sua própria capacidade de produção.

Michael Herzog, membro internacional baseado em Israel do think tank The Washington Institute for Near East Policy e general brigadeiro aposentado das Forças de Defesa de Israel (FDI), disse que os militares e a inteligência israelenses estão muito mais preocupados com a capacidade de produção de foguetes dos militantes do que estavam no passado com sua capacidade de importá-los. Segundo Herzog, “o foco das FDI agora é atacar as instalações de produção, para que quando esta rodada de combates terminar, não apenas haja menos foguetes como também menos capacidade para produzi-los”.

Quem está ajudando o Hamas e seus aliados a conquistar essa capacidade?

Os militantes da Faixa de Gaza atribuem seu êxito abertamente à ajuda prestada pelo Irã, que Israel vê como seu maior adversário externo. E autoridades iranianas tampouco relutam em falar de seu relacionamento com o Hamas. Em uma reunião grande em maio de 2019, o líder do Hamas na Faixa de Gaza, Yahya Sinwar, não poderia ter sido mais explícito ao reconhecer o papel crucial do Irã.

“Não teríamos estas capacidades se não fosse pelo apoio do Irã”, disse ele. Além de fornecer armas e equipamentos contrabandeados, o Irã vem dando treinamento para ajudar o Hamas a melhorar sua produção local, ampliar o alcance dos foguetes e aprimorar sua precisão. A informação é de autoridades e especialistas tanto palestinos quanto israelenses. “Passar do lançamento de um ou dois foguetes por vez para 130 foguetes em cinco minutos é uma melhora tremenda”, disse o especialista militar baseado em Gaza Rami Abu Zubaydah, sobre a frequência de disparos vista nos últimos dias.

“Hoje a maioria das armas é produzida em Gaza, usando conhecimento técnico do Irã.”

De que outra forma os fabricantes de foguetes de Gaza vêm contornando o bloqueio?

Embora ainda tenham que contrabandear peças e matérias-primas, líderes do Hamas dizem que a organização encontrou maneiras criativas de contornar a vigilância e os controles de fronteira endurecidos. Um documentário de 50 minutos divulgado em setembro pela emissora qatariana Al-Jazeera mostrou cenas raras de militantes do Hamas recuperando dezenas de mísseis israelenses remanescentes de ataques anteriores a Gaza e que não haviam explodido.

Eles levaram os remanescentes para o que parecia ser um local de manufatura oculto, extraíram cuidadosamente os explosivos de dentro dos mísseis e reciclaram algumas das peças. O mesmo documentário também mostrou militantes desenterrando tubulações de água antigas de locais antes ocupados por assentamentos israelenses e reciclando os cilindros vazios para uso na produção de novos foguetes. Em outra reunião em 2019, Sinwar falou da utilização dos canos de esgoto reaproveitados, dizendo: “Há ali material suficiente para fabricar foguetes pelos próximos dez anos”.

Tradução de Clara Allain

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