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Ditadura da Nicarágua prende 4 candidatos da oposição em menos de uma semana

Félix Maradiaga e Juan Sebastián Chamorro García foram enquadrados em nova lei de soberania do país

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Manágua (Nicarágua) e São Paulo | AFP

O regime autoritário que controla a Nicarágua prendeu nesta terça-feira (8) dois pré-candidatos à Presidência do país, Félix Maradiaga e Juan Sebastián Chamorro García, levando a quatro o número de líderes da oposição detidos pelas autoridades em menos de uma semana.

A próxima eleição presidencial está marcada para o dia 7 de novembro, mas a expectativa é a de que a votação sirva apenas para confirmar mais um mandato para o ditador Daniel Ortega, que tem aumentado a perseguição aos opositores.

O opositor Felix Maradiaga acena para jornalistas antes de prestar depoimento ao Ministério Público; ele foi detido logo após deixar o local
O opositor Félix Maradiaga acena para jornalistas antes de prestar depoimento ao Ministério Público; ele foi detido logo após deixar o local - Inti Ocon/AFP

Maradiaga, 44, foi preso depois de prestar depoimento ao Ministério Público. A campanha do opositor afirmou que o carro onde ele estava foi parado logo após ele deixar o local do interrogatório.

Segundo nota divulgada pela polícia, Maradiaga é investigado por uma série de crimes contra o regime, incluindo terrorismo, em "ações que comprometem a independência, a soberania e a autodeterminação, por incitar a interferência estrangeira em assuntos internos e por pedir uma intervenção militar”.

Pouco antes de ser preso, o opositor tinha dito a jornalistas que as acusações contra ele têm motivações políticas. "O que temos feito é lutar junto com o povo da Nicarágua, e é isso que vamos continuar a fazer", afirmou o político de centro-esquerda.

Ele é pré-candidato a presidente pela União Nacional Azul e Branca, grupo formado a partir dos protestos contra o regime que eclodiram em 2018. Devido às declarações contra Ortega —ele chegou a testemunhar contra o ditador em uma sessão do Conselho de Segurança da ONU—, Maradiaga teve a prisão decretada há três anos e precisou fugir do país para não ser preso. Ao retornar, em 2019, chegou a ser recebido por policiais no aeroporto, mas não foi detido.

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A prisão de Juan Sebastián Chamorro García, primo de Cristiana Chamorro Barrios, outra pré-candidata presa, ocorreu sob a acusação de "incitar a ingerência estrangeira em assuntos internos", "organizar atos de terrorismo com financiamento de potências estrangeiras", entre outras razões alegadas, de acordo com um comunicado da Polícia Nacional à imprensa.

Os crimes pelos quais os opositores são investigados atualmente fazem parte de uma nova lei de soberania aprovada pelo regime em dezembro do ano passado —e que, segundo seus críticos, tem como principal objetivo atacar a oposição.

No sábado (5), o ex-embaixador Arturo Cruz, 67, também pré-candidato da oposição, foi preso no aeroporto da capital, Manágua, quando voltava dos Estados Unidos.

Assim como Maradiaga, ele foi enquadrado na nova lei, acusado de atentar "contra a sociedade nicaraguense e os direitos do povo", de acordo com o Ministério Público. Um juiz posteriormente ordenou que ele ficasse detido pelos próximos três meses, enquanto as investigações prosseguem.

Cruz, que foi embaixador da Nicarágua nos EUA entre 2007 e 2009, apresentou há dois meses sua candidatura às eleições pela Aliança Cidadã pela Liberdade (CLX), de direita.

Antes de sua detenção, o regime já tinha colocado em prisão domiciliar na última quarta (2) a jornalista Cristiana Chamorro, filha da ex-presidente Violeta Barrios de Chamorro (1990-1997) e apontada como principal nome da oposição na eleição.

Vice-presidente de um dos maiores jornais do país centro-americano, La Prensa, Chamorro é acusada de gestão abusiva, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, bens e ativos. A ordem de prisão foi emitida por um juiz de Manágua, após pedido do Ministério Público.

Ela começou a ser investigada depois de o Ministério do Interior a acusar de irregularidades na administração da fundação que leva o nome de sua mãe (FVBCH) —a organização se dedica à defesa da liberdade de expressão. Violeta Barrios derrotou Daniel Ortega nas urnas em 1990, quando ele tentou a reeleição após o primeiro mandato (1985-1990).

Cristiana Chamorro, que não é filiada a nenhum partido, tem 21% de intenções de voto, atrás apenas de Ortega (30%), segundo pesquisa do Instituto Cid Gallup divulgada na semana passada.

O ditador retornou ao poder ao vencer a eleição presidencial de 2007 e, aos poucos, foi corroendo a democracia no país. Ele acabou com grande parte da imprensa independente, prendeu opositores e, em 2014, acabou com o limite de uma reeleição, abrindo o caminho para se eternizar no poder.

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