Descrição de chapéu Portugal União Europeia

Portugal inaugura cabo de fibra ótica de R$ 1 bi para ligação ultrarrápida entre Europa e Brasil

Conexão direta sem passar pelos EUA era desejo de setores europeus preocupados com privacidade de dados

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Lisboa

Um evento em Portugal nesta terça (1º) inaugurou um cabo submarino de fibra ótica cujo investimento foi de mais de 150 milhões de euros (cerca de R$ 1 bilhão) e que promete conexão de alta velocidade entre o Brasil e a Europa. A ligação direta com o continente europeu tem como vantagem a redução da chamada latência –o tempo entre a solicitação de um comando e sua execução.

Com a mudança, há diminuição de 60 milissegundos em relação à rota atual, em que os dados passam primeiro pelos EUA para só então chegarem à Europa. Parece pouco, mas representa um salto para transações financeiras, transmissão de cirurgias remotas e até para o desempenho de jogos online.

Movimentação no porto de Sines, em Portugal
Movimentação no porto de Sines, em Portugal - Rafael Marchante - 21.fev.20/Reuters

A ligação entre a América do Sul e a Europa, sem passar pelos EUA, era também um antigo desejo de setores europeus mais preocupados com a privacidade de dados, já que as leis do continente para armazenamento e compartilhamento de informações são bem mais restritivas do que as americanas.

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“A nossa posição geográfica fez de nós no passado, faz de nós hoje e fará de nós, no futuro, uma ponte entre a Europa e outros continentes”, afirmou o premiê português, o socialista António Costa, destacando a importância estratégica de seu país, que ocupa a presidência rotativa da União Europeia.

A inauguração fez parte de uma programação mais ampla sobre a liderança digital europeia, que teve também a participação, por mensagem em vídeo, do secretário-geral da ONU, o também português António Guterres, e da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, representou o Brasil na cerimônia.

Batizado de Ellalink (mesmo nome da empresa que o construiu), o cabo submarino se estende por 6.000 quilômetros, saindo de Fortaleza e chegando até Sines, no litoral português, a 160 km de Lisboa.

Idealizado há quase uma década, o projeto começou a ser construído em 2018, e, segundo o presidente da EllaLink, Philippe Dumont, o cabo foi desenhado para ter uma vida útil de 25 anos.

A maior parte dos 150 milhões de euros da construção vem de investimento privado, embora haja um significativo aporte de dinheiro público. Cerca de 25 milhões de euros são financiados pelos chamados clientes-âncora do projeto, que investiram ainda antes de ele começar a sair do papel.

Entre eles está o consórcio científico Bella (Building Europe Link to Latin America), do qual fazem parte a rede de pesquisa Géant, do lado europeu, e a RedeCLARA, América Latina. A RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa), ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil, investiu 7,5 milhões de euros por meio da Rede CLARA. As outras instituições de pesquisas latino-americanas da rede estão bancando os cabos que vão ligar os países da América Latina até Fortaleza.

Em discurso na inauguração, o presidente da EllaLink disse apostar no rápido desenvolvimento da cidade de Sines, ancorado no investimento de empresas interessadas em aproveitar a nova ligação. De fato, nos últimos meses, o município tem estado no centro de uma corrida por recursos tecnológicos. Em abril, foi anunciado que a cidade receberá um grande centro de dados internacional —com cerca de 3,5 bilhões de euros (R$ 22,1 bi) em investimento, o projeto é o maior anunciado em Portugal em mais de uma década.

Até 2025, está prevista a criação de cerca de 1.500 empregos diretos e mais 8.000 indiretos na região.

Com a intensificação das transações online e a digitalização dos serviços, a demanda por fibra ótica de alta capacidade também disparou. A construção e a operação dessas conexões são alvo de disputa de gigantes de tecnologia, com destaque para o Google, e também estão sujeitas a desafios geopolíticos.

As iniciativas da China, por exemplo, são vistas com desconfiança por Washington e muitos países europeus. Pequim anunciou que pretende construir a “Rota da Seda Digital”, com uma extensa rede de fibra ótica entre as nações participantes. No mês passado, o Brasil aderiu a outra iniciativa de cabo submarino: o Humboldt, orçado em cerca de US$ 400 milhões (cerca de R$ 2 bilhões). Capitaneado pelo Chile, o projeto pretende ligar a América do Sul, a Ásia e a Oceania.

Erramos: o texto foi alterado

A RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa) foi chamada incorretamente de RPN. O texto foi corrigido.

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