Cidade americana retira estátua confederada que motivou ato racista há quatro anos

Prefeitura de Charlottesville derrubou monumento em homenagem ao general Robert E. Lee

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Charlottesville (Virgínia) | Reuters e AFP

A estátua de um general confederado que motivou uma violenta manifestação racista de extrema direita em Charlottesville, no estado americano da Virgínia, quase quatro anos atrás, foi removida de seu pedestal neste sábado pela manhã (9).

De acordo com a prefeita da cidade, a independente Nikuyah Walker, a retirada da homenagem ao general Robert E. Lee significa “um pequeno passo em direção ao objetivo de ajudar Charlottesville, a Virgínia e os EUA a lidarem com o pecado de querer destruir os negros para obter ganhos econômicos”.

Remoção da estátua do general Robert E. Lee - Win McNamee -10.jul.21/Getty Images/AFP

Além da estátua de Lee, também foi retirado um monumento que homenageava o general Thomas “Stonewall” Jackson após o município votar nesta semana, por unanimidade, para que US$ 1 milhão (R$ 5,2 milhões) fossem destinados à remoção ou cobertura de estátuas ligadas ao movimento escravocrata.

Apenas as estátuas serão removidas, não seus pedestais de pedra. Os monumentos serão guardados até que a Câmara Municipal decida o que fazer com eles. Os espectadores, que estavam no parque Market Street desde as 6h, aplaudiram quando a figura foi colocada em um caminhão e levada embora.

Os monumentos em homenagem a líderes confederados geram controvérsia há anos. O general Robert E. Lee (1807-70) comandou as tropas confederadas na Guerra Civil dos EUA (1861-65), durante a qual os estados do Sul do país lutaram para se separar do Norte abolicionista e manter seus escravos. Centenas de estátuas em alusão a esse período estão espalhadas pelo país. Há quem as veja como símbolos da história americana e defenda sua preservação, mas para outros elas são uma ode à escravidão.

Lá Fora

Receba toda quinta um resumo das principais notícias internacionais no seu email

Os planos iniciais para remover a estátua de Lee levaram a um protesto nacionalista branco em agosto de 2017, em defesa de sua manutenção. Houve uma manifestação antirracismo simultaneamente, e uma das participantes, Heather Heyer, de 32 anos, foi assassinada por um manifestante que dirigiu um carro contra a multidão. Ele foi condenado à prisão perpétua. O protesto de supremacistas brancos teve a presença de centenas de neonazistas, nacionalistas e membros da Ku Klux Klan. Três pessoas morreram, e dezenas ficaram feridos nas brigas entre os manifestantes dos dois lados.

A cidade continuou a pressionar pela remoção da estátua de Lee após os protestos, mas foi impedida por uma ação legal. Cidadãos, incluindo a Divisão dos Filhos dos Veteranos Confederados da Virgínia, processaram o município devido aos planos de derrubada do monumento. Em abril deste ano, a mais alta corte da Virgínia determinou que a cidade poderia remover as duas estátuas confederadas, anulando uma decisão de um tribunal estadual que tinha dado vitória para os defensores dos monumentos.

Mike Signer, advogado que era vereador e prefeito quando o comício “Unite the Right” foi realizado em 2017, chamou a remoção de “um verdadeiro passo adiante” e disse que as estátuas se tornaram “totens para esses terroristas”. “De muitas maneiras, Charlottesville foi um microcosmo do que aconteceu no país: o advento do nacionalismo branco flagrante, aberto e violento nas ruas públicas. O protesto foi claramente um prólogo para a insurreição de 6 de janeiro”, afirmou, em referência à invasão, por parte de apoiadores de Donald Trump, do Capitólio, em Washington, durante a certificação da vitória de Joe Biden.

Charlottesville é uma cidade universitária de 47 mil habitantes, e o protesto em 2017 foi a maior manifestação de supremacistas brancos do passado recente dos EUA. A decisão da remoção da estátua seguia a de outras cidades do Sul, de retirarem símbolos confederados de prédios e parques públicos.

No protesto, vários manifestantes carregaram a bandeira vermelha com a cruz azul estrelada. O ato também teve a presença de um pequeno grupo que se identificava como uma milícia, vestindo roupas camufladas e carregando escudos e armas de grosso calibre.

Já os manifestantes antirracismo fizeram um contraprotesto diante de uma estátua do presidente Thomas Jefferson (1743-1826), que fundou a universidade local e cuja fazenda fica nos arredores.

Os supremacistas —que já haviam realizado uma marcha na noite anterior com tochas e palavras de ordem contra negros, homossexuais, judeus e imigrantes— planejavam atrair 6.000 pessoas. Mas após um site de locação de quartos para hóspedes boicotar os interessados em comparecer ao ato, eles conseguiram reunir apenas algumas centenas.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.