Viúva de presidente haitiano se pronuncia sobre assassinato e pede que país não 'perca o rumo'

'Estou viva, graças a Deus', afirmou Martine em mensagem de áudio em creole publicada em rede social

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Porto Príncipe e Bogotá | AFP e Reuters

Martine Moïse, viúva de Jovenel Moïse, presidente do Haiti assassinado na quarta (7), fez neste sábado (10) suas primeiras declarações públicas desde o ataque e pediu que o seu país não "perca o rumo".

A fala ocorre três dias depois de ela ter sido transferida de avião a um hospital em Miami para se recuperar dos ferimentos graves sofridos durante o ataque na madrugada de quarta, quando atiradores invadiram a residência particular da família em Porto Príncipe.

Homem e mulher com roupas sociais se olham com árvores ao fundo
O presidente do Haiti, Jovenel Moïse, assassinado na quarta (7), e a primeira-dama, Martine - Chandan Khanna - 12.jan.20/AFP

"Estou viva, graças a Deus", afirmou Martine em uma mensagem de áudio em creole publicada em uma rede social. O ministro da Cultura e das Comunicações do Haiti, Pradel Henriquez, confirmou à agência de notícias AFP que se trata de uma gravação autêntica.

Até o momento, não está claro o motivo do ataque, e as autoridades buscam desvendar quem foi o mandante do magnicídio. Martine apontou vários possíveis motivos: disse que os assassinos foram enviados por pessoas que estavam contrariadas com os planos do marido de proporcionar "estradas, água e luz, um plebiscito [constitucional] e eleições no final do ano".

Ela sugeriu que as pessoas por trás do assassinato talvez "não queiram ver uma transição no país".

"Estou chorando, mas não podemos deixar que o país se perca", afirmou. "Não podemos deixar que seu sangue [de Moïse] tenha sido derramado em vão. Em um piscar de olhos, os mercenários entraram na minha casa e metralharam o meu marido [...] sem nem sequer dar a ele a chance de dizer uma palavra."

De acordo com as autoridades haitianas, um esquadrão de 28 homens —26 colombianos, muitos dos quais militares reformados, e dois cidadãos haitianos-americanos— invadiu a residência e abriu fogo contra o casal. As forças de segurança prenderam 17 suspeitos e mataram pelo menos outros três. Os demais seguem foragidos, de acordo com a polícia.

A irmã de um dos suspeitos de origem colombiana morto pelas autoridades haitianas afirmou que ele havia sido contratado como guarda-costas. "Há alguma coisa que não bate", disse Jenny Carolina Capador, irmã de Duberney Capador, 40, à agência de notícias Reuters.

"O que eu sei e posso assegurar para o mundo inteiro é que o meu irmão era uma pessoa correta e meu irmão não fez aquilo do que está sendo acusado." Ela disse que Duberney tinha treinamento em contraterrorismo e se aposentou em 2019, após 21 anos de carreira militar. Ele tinha dois filhos e criava galinhas e peixes quando um ex-colega lhe ofereceu trabalho, de acordo com a irmã.

"Eles lhe fizeram uma oferta para trabalhar no ramo de segurança, para fornecer segurança e colaborar com a proteção de pessoas importantes. E, para isso, seria bem remunerado", disse Jenny.

Na sexta-feira (9), outra mulher, que disse ser a esposa de Francisco Eladio Uribe, um dos suspeitos detidos no Haiti, disse a uma rádio colombiana que seu marido havia ficado sabendo do trabalho por meio de uma pessoa a quem ela se referiu somente como "Capador".

O assassinato do presidente agrava a crise institucional em que o Haiti está mergulhado. Moïse, que havia praticamente inabilitado o Congresso e governava o país por decreto, mantinha-se no cargo apesar de opositores reivindicarem que o mandato dele deveria ter se encerrado em fevereiro passado.

Com a morte do presidente, o premiê interino, Claude Joseph, assumiu o comando do país e declarou estado de sítio durante duas semanas, medida que amplia os poderes do Executivo. Joseph deverá ficar encarregado de realizar as eleições parlamentares e presidenciais marcadas para setembro.

O governo haitiano pediu na sexta que os Estados Unidos e a ONU enviem tropas militares para ajudar a proteger peças-chave da infraestrutura local, como aeroporto e reservatórios de gasolina.

O governo americano não confirmou o envio das tropas, mas a Casa Branca afirmou que mandará agentes do FBI e do Departamento de Segurança Interna, além de vacinas contra a Covid ao único país das Américas que ainda não começou a imunizar sua população.

Já o pedido à ONU traz à memória a Minustah, missão que reuniu, entre 2004 e 2017, tropas para tentar estabilizar o Haiti. A operação teve protagonismo do Brasil, que, excetuando-se breves intervalos, comandou um contingente internacional que chegou a ter mais de 7.000 militares de 22 países.

Lá Fora

Receba toda quinta um resumo das principais notícias internacionais no seu email

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.