O atentado no Aeroporto Internacional de Cabul que deixou quase 200 mortos nesta quinta-feira (26) contou com um homem-bomba, e não dois, afirmou o Departamento de Defesa dos Estados Unidos nesta sexta-feira, corrigindo informação que o próprio órgão havia dado no dia anterior.
Até então, acreditava-se que duas explosões tinham ocorrido, uma no portão Abbey, a principal entrada do aeroporto, e outra próxima ao hotel Baron, em afirmações feitas pelo Pentágono.
Uma segunda explosão, porém, não ocorreu, segundo o órgão. "Não acreditamos ter havido uma segunda explosão no hotel ou perto do hotel Baron. Foi um homem-bomba", afirmou o major-general William Taylor. Ainda não há explicações sobre o que teria indicado a existência de outro incidente.
Estimativas locais apontam que 170 afegãos e 13 militares americanos foram mortos no atentado, segundo o jornal The New York Times, com base em levantamento de autoridades afegãs e americanas.
Entre os afegãos, ao menos 28 eram membros do Talibã. O governo do Reino Unido afirmou que dois britânicos também morreram. Estimativas apontam ainda que mais de 200 pessoas ficaram feridas.
O ataque nesta quinta foi reivindicado pelo Estado Islâmico Khorasan, braço afegão do EI criado em 2014 e inimigo do grupo fundamentalista que tomou o poder no Afeganistão no último dia 15.
O presidente dos EUA, Joe Biden, prometeu vingança contra os autores do atentado e já começou a compartilhar informações de inteligência com o até agora rival Talibã para evitar novos ataques, o que o governo teme que aconteça já nesta sexta-feira (27).
Chefe do Comando Central dos Estados Unidos, o general Frank McKenzie afirmou que os militares americanos se preparam para novas ações terroristas, incluindo possíveis carros-bomba e lançamento de foguetes contra o aeroporto, segundo a agência de notícias Reuters. "Estamos fazendo tudo o que podemos para nos preparar", justificou o militar sobre a aliança ocasional com o Talibã.
O EI-K, ao assumir a autoria do atentado, afirmou que o homem-bomba mirou afegãos que trabalharam para os EUA de alguma maneira, como é o caso de muitos tradutores.
Vídeos feitos após o ataque mostram corpos empilhados em um canal próximo ao aeroporto, enquanto afegãos procuravam amigos e familiares. "Vi corpos e membros voando pelo ar, como se fosse um tornado carregando sacolas de plástico", disse à Reuters uma afegã que testemunhou o ataque. "Aquele fio de água que passava por esse canal de esgoto virou sangue."
Soldados talibãs bloqueavam as ruas da região, impedindo o acesso de civis às operações de evacuação. "Tínhamos um voo, mas a situação ficou muito grave, e as estradas foram fechadas", disse um morador.
Um homem que se identificou como Milad disse à agência de notícias AFP ter perdido na explosão os documentos que o permitiriam embarcar num voo para sair do país com a esposa e os três filhos. "Não quero voltar ao aeroporto nunca mais. Maldito sejam os EUA, a evacuação e os processos de visto", disse.
Em nota, o Conselho de Segurança das Nações Unidas afirmou que "mirar deliberadamente alvos civis e pessoas trabalhando na operação de saída é especialmente abominante e deve ser condenado" e que os autores devem ser responsabilizados.
Os atentados elevaram a pressão sobre Biden, criticado interna e externamente depois da rápida ascensão do Talibã ao governo. Na quinta, ele voltou a afirmar que tomou a decisão correta ao anunciar o encerramento da ocupação no país, o que, para ele, evitaria a perda de mais vidas americanas. O democrata também prometeu resgatar os americanos e os aliados afegãos que permanecem no país.
Os EUA, assim como seus parceiros ocidentais, correm para completar a retirada até a próxima terça (31), data limite prometida pelos americanos. A Casa Branca afirmou nesta sexta que 105 mil pessoas já foram retiradas de Cabul e, segundo o general McKenzie, ainda há cerca de mil cidadãos americanos no país.
Outras nações também aceleraram o processo de saída após o atentado. A Espanha afirmou que todo seu contingente diplomático já foi retirado do Afeganistão e está em Dubai. O Reino Unido, por sua vez, também entrou nos estágios finais de seu plano de resgate, com o Ministério da Defesa britânico dizendo que não convocará mais pessoas ao aeroporto de Cabul. A Suécia disse nesta sexta ter encerrado a operação, com 1.100 pessoas retiradas, incluindo funcionários da embaixada e suas famílias.
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