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EUA atacam com drone no Afeganistão e dizem ter matado membro do Estado Islâmico

Comando militar americano chama de contraterrorismo primeira reação a atentado em Cabul

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Washington | Reuters

Em sua primeira resposta militar ao atentado terrorista cometido pelo Estado Islâmico em Cabul, os Estados Unidos realizaram um ataque com drones contra o grupo na província afegã de Nangahar na noite desta sexta-feira (27), já madrugada de sábado no horário local.

O ataque ocorre na sequência à promessa feita pelo presidente Joe Biden em pronunciamento após o atentado de quinta (26): "Vamos caçá-los até o fim e fazê-los pagar". A explosão no aeroporto matou 13 militares americanos e pelo menos 170 afegãos. Cerca de 200 pessoas ficaram feridas.

O porta-voz do Comando Central dos EUA, capitão Bill Urban, chamou de contraterrorismo a reação americana. "As indicações iniciais são de que matamos o alvo. Não temos conhecimento de vítimas civis", disse. O ataque teria sido direcionado a um membro do EI que participava da organização de atentados.

O presidente Joe Biden durante entrevista após pronunciamento sobre a crise afegã - Jim Watson - 26.ago.21/AFP

Segundo uma autoridade do Departamento de Defesa que conversou com a agência de notícias Associated Press, a ação foi autorizada por Biden e ordenada pelo secretário de Defesa, Lloyd Austin.

As informações iniciais fornecidas pelo governo não deixam claro se o alvo morto esteve envolvido no atentado organizado pela célula afegã do EI, denominada EI Khorasan. Ele estava em um carro com outro militante do grupo e, de acordo com uma autoridade à Reuters, a segunda pessoa também estaria morta.

Em Jalalabad, capital de Nangarhar, moradores relatam ter ouvido várias explosões na madrugada —mas não está claro se elas foram causadas pelos drones americanos. Um líder comunitário, que disse ter sido convocado pelo Talibã para investigar o incidente, afirma que três pessoas foram mortas e quatro ficaram feridas. "Há mulheres e crianças entre as vítimas", disse Malik Adib, sem divulgar a identidade das vítimas.

Representantes do grupo fundamentalista, que retomou o poder no Afeganistão, não quiseram comentar a ação militar americana. Segundo eles, membros do Estado Islâmico Khorasan foram presos por ligação com o ataque do aeroporto e estão sendo interrogados. Pouco antes de os EUA confirmarem a ação, a embaixada em Cabul voltou a orientar cidadãos americanos a evitarem o Aeroporto Internacional Hamid Karzai —alerta semelhante havia sido feito antes do ataque de quinta.

O receio é de que o local seja palco de novos atentados em meio aos esforços para a retirada de pessoas. Autoridades americanas disseram que o pedido para que os cidadãos deixem o aeroporto não está relacionado ao ataque feito contra o EI em Nangahar, na fronteira com o Paquistão.

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No comunicado, a embaixada citou ameaças de segurança e pediu que cidadãos americanos que estivessem próximos aos portões Norte, Leste, Abbey e o novo portão Ministério do Interior do aeroporto deixassem imediatamente esses locais.

Mesmo após o ataque do EI-K, multidões continuam tentando acessar o terminal de passageiros, e, segundo o Pentágono, 5.400 pessoas permaneciam no local esperando vagas em voos humanitários.

O prazo final estabelecido para a saída das tropas americanas do Afeganistão é a próxima terça (31).

A noite de quinta e a madrugada de sexta foram tensas na capital afegã. Mensagens de uma rede de ativistas afirmam que ao menos seis explosões foram ouvidas em bairros da capital, algo que não pôde ser aferido. Já na manhã desta sexta, enquanto voltavam os voos de resgate americanos, ainda sob o medo de novos ataques, a maioria dos países que participavam da retirada —incluindo Reino Unido, Canadá, Alemanha e França— informou que suas operações estavam encerradas.

O risco havia sido citado pela porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, que afirmou que outro atentado em Cabul era provável. "A ameaça está em curso. Nossas tropas ainda estão em perigo", declarou.

Num início de aliança que parecia improvável até então, o governo americano diz esperar a colaboração do Talibã para a retirada de cidadãos com segurança. "A realidade é que o Talibã controla grandes áreas no Afeganistão, incluindo algumas ao redor do perímetro do aeroporto [de Cabul]."

Autoridades dos EUA também estão em alerta máximo para ameaças domésticas. Uma das principais preocupações é a de que membros do Estado Islâmico ou da Al Qaeda aproveitem o processo de retirada do Afeganistão para se infiltrar entre os passageiros e entrar em território americano, de acordo com informações obtidas pela emissora CNN.

"Para neutralizar isso, há um amplo processo de triagem em vigor para aqueles que estão sendo realocados nos EUA", disse John Cohen, chefe de inteligência do Departamento de Segurança Interna. Outro oficial acrescentou que um pequeno número de indivíduos está sendo investigado.

Na capital afegã, o desespero dominou quem ainda não conseguiu sair. Segundo uma rede de apoio a ex-funcionários diplomáticos da Alemanha, cerca de 5.000 pessoas elegíveis para sair ficaram para trás, ante 5.437 retiradas (4.100 afegãs). Cerca de 300 cidadãos do país europeu também não saíram.

Antes das explosões, 12,5 mil pessoas haviam sido retiradas da capital, elevando para cerca de 105 mil o número de evacuados desde que o Talibã chegou às portas da cidade, na noite do dia 14.

Ao fim, provavelmente apenas americanos, que já começaram a retirar parte dos 6.000 militares enviados para a operação de saída, deverão operar voos até terça. O Departamento de Estado estima em cerca de mil o número de cidadãos do país que deverão ficar no Afeganistão, a maioria por laços familiares.

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