Descrição de chapéu Governo Biden

Biden diz que não quer nova Guerra Fria, mas dá recados à China em discurso na ONU

Pressionado internacionalmente, presidente dos EUA tenta se colocar como líder global

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São Paulo

Sem citar especificamente o principal rival político e econômico dos Estados Unidos, o presidente Joe Biden afirmou em discurso na 76ª Assembleia-Geral da ONU, nesta terça-feira (21), que seu país não procura uma nova Guerra Fria, embora ele tenha enviado uma série de recados à China.

"Defenderemos nossos aliados e amigos e vamos nos opor às tentativas de países mais fortes de dominar outros mais fracos, seja pela força, por coerção econômica, exploração tecnológica ou desinformação. Mas não estamos procurando uma nova Guerra Fria ou um mundo dividido em blocos rígidos", afirmou.

Biden disse ainda que o país defende a liberdade de navegação, em referência às reivindicações chinesas no Mar do Sul da China; posicionou-se contra ataques cibernéticos, que o país acusa os asiáticos de coordenarem; e citou Xinjiang, região de minoria muçulmana na qual os EUA consideram haver genocídio.

O presidente dos EUA, Joe Biden, em discurso na 76ª Assembleia-Geral da ONU - Eduardo Munoz/AFP

Na abertura da sessão, o secretário-geral da ONU, António Guterres, já havia alertado para os problemas provocados por uma "divisão global em dois sistemas". "Receio que nosso mundo esteja indo em direção a dois conjuntos de regras econômicas, comerciais, financeiras e de tecnologia, duas perspectivas de desenvolvimento de inteligência artificial e, no limite, duas estratégias militares e geopolíticas. Essa é a receita para problemas. Isso seria muito mais imprevisível do que a Guerra Fria", afirmou.

Apesar das críticas, o discurso de Biden focou a necessidade de os países trabalharem juntos para enfrentar o coronavírus e a crise climática. O americano defendeu esforços globais para ampliar a vacinação contra a Covid, incluindo o repasse de doses a nações com baixas taxas de imunização.

Biden prometeu também dobrar para US$ 11,4 bilhões (R$ 60,3 bilhões) as doações ao fundo internacional para países em desenvolvimento combaterem as mudanças climáticas. Ainda no campo de assistência, afirmou que pretende doar US$ 10 bilhões (R$ 53 bilhões) para combater a fome.

O democrata enfrenta forte pressão internacional. O episódio mais recente envolve a França, depois de os EUA anunciarem uma parceria com o Reino Unido para fornecer à Austrália submarinos nucleares —ação que visa conter avanços regionais da China. O acordo significou o fim de uma negociação australiana com a França, o que foi visto como uma "punhalada nas costas" pelo governo de Emmanuel Macron.

Sob desconfiança europeia, Biden usou o espaço na ONU, em seu primeiro discurso em uma Assembleia-Geral como presidente, para reafirmar a posição de que "os Estados Unidos estão de volta" ao cenário global, depois que seu antecessor, Donald Trump, abandonou fóruns e acordos multilaterais.

"Estamos de volta à mesa nos fóruns internacionais, especialmente na ONU, para focar ações globais e desafios comuns", disse ele, que fez também acenos à União Europeia e à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar ocidental). Biden ressaltou ainda que o país voltou ao Acordo de Paris e que vai retornar ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, do qual havia saído durante o governo Trump.

O presidente americano também procurou se defender de outro episódio pelo qual sofreu críticas da comunidade internacional: a conturbada retirada das tropas do Afeganistão após duas décadas de ocupação militar. A operação foi atacada pela atuação unilateral dos americanos e pelas cenas de caos vistas após a volta do Talibã ao poder, cujo ápice foram os ataques terroristas no aeroporto de Cabul.

"Encerramos 20 anos de conflito no Afeganistão e, à medida que encerramos essa era de guerra sem fim, estamos nos abrindo para uma nova era de diplomacia sem fim", disse Biden na ONU.

Quando a operação de retirada foi concluída, no entanto, o tom do presidente americano foi bem distinto. Na ocasião, lembrou que os EUA estão em uma séria competição com China e Rússia e que sua principal missão não é "proteger a América das ameaças de 2001, mas das ameaças de 2021 e de amanhã".

Além das críticas internacionais, o episódio, somado à piora da pandemia no país, custou popularidade a Biden. "Hoje, muitas das nossas preocupações não podem ser resolvidas com a força das armas", disse ele nesta terça, pedindo mais diálogo no mundo. "A força deve ser o último recurso, não o primeiro."

Apesar de o presidente da sessão, o chanceler das Maldivas, Abdulla Shahid, pedir que os líderes limitassem suas falas a 15 minutos, Biden discursou por mais de 30 minutos e foi aplaudido ao final, ao fazer um apelo por uma ação conjunta. "Nós vamos escolher construir um futuro melhor. Nós, vocês e eu."

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