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EUA e países aliados acusam China de espionagem digital

Governo americano diz que país asiático estimula atuação de hackers para roubar segredos industriais

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Washington | Reuters

O governo dos Estados Unidos e países aliados acusaram nesta segunda (19) a China de estar por trás de uma campanha global de ciberataques e espionagem digital, em um raro movimento amplo e coordenado contra Pequim.

Além dos EUA, as queixas também foram apresentadas pela Otan (a aliança militar ocidental), Reino Unido, Austrália, Japão, Nova Zelândia e Canadá.

A Casa Branca recorreu a uma linguagem dura e pouco usual para atacar o rival asiático. "O Ministério de Segurança do Estado da China tem fomentado um ecossistema de hackers criminosos que realizam tanto atividades patrocinadas pelo Estado quanto crimes digitais para seu próprio lucro", disse Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA. "Isso é uma grande ameaça para nossa economia e segurança nacional".

Membro do grupo Red Hacker Alliance opera computador em Dongguan, China - Nicolas Asfouri - 4.ago.20/AFP

Os EUA apontaram Pequim como culpada por vários ataques, inclusive um contra servidores da Microsoft. Funcionários do governo americano identificaram mais de 50 técnicas que seriam usadas por chineses em ações do tipo.

As operações teriam como objetivo o roubo de segredos industriais e de informações confidenciais em áreas como aviação, defesa, educação, governo, biomedicina e produção naval. Os alvos estariam em países como África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Áustria, Camboja, EUA, Indonésia, Malásia, Noruega, Reino Unido e Suíça.

Ao mesmo tempo em que o secretário de Estado criticava Pequim, o Departamento de Justiça dos EUA anunciou que abriu um processo contra quatro cidadãos chineses —três funcionários de segurança e um hacker— por ações contra dezenas de empresas, universidades e setores do governo americano e de outros países.

"Meu entendimento é de que o governo chinês, ao contrário do governo russo, não está fazendo isso ele mesmo, mas está protegendo aqueles que fazem", disse o presidente Joe Biden, ao comentar a questão, a jornalistas.

Depois, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que o governo americano não faz diferença entre Rússia e China na questão dos ataques digitais, e que busca atuar da mesma forma contra os dois.

A embaixada chinesa em Washington não comentou o caso. Em ocasiões anteriores, autoridades da China disseram que o país é contra ataques digitais, e que também costuma ser vítima deles.

Especialistas, no entanto, apontam que as acusações podem não dar em nada se não houver medidas concretas. "Foi um esforço bem-sucedido de amigos e aliados para atribuir as ações a Pequim, mas não é muito útil se isso não for seguido por ações concretas", afirmou Adam Segal, especialista em cibersegurança do Council on Foreign Relations.

Nos últimos anos, os EUA já tinham acusado a Rússia de estar por trás de ataques digitais a empresas e ao governo do país —Moscou sempre negou participação nas ações.

Os ataques a servidores digitais estão cada vez mais frequentes e os Estados Unidos foram particularmente afetados nos últimos meses por operações que tinham como alvo governos e hospitais locais, além de grandes empresas. A lista inclui, por exemplo, ações contra o gigante da carne brasileira JBS e a operadora de oleodutos Colonial Pipeline.

A acusação contra a China ocorre um dia depois da divulgação, feita por um consórcio de imprensa, de que governos de ao menos dez países estariam usando um software de espionagem contra jornalistas, opositores e ativistas.

China, Terra do Meio

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A tensão entre os dois países ganhou força desde o governo de Donald Trump, que promoveu uma guerra comercial com a China, com a adoção de mais tarifas e controles de exportação de produtos chineses. Biden, que venceu Trump na eleição de 2020, manteve a postura rígida contra o país asiático.

Um dos pontos de embate é justamente a tecnologia. Empresas chinesas têm avançado muito em inovações, como as redes 5G, e ameaçam tomar o lugar de gigantes americanas.

Neste mês, a relação entre a Bolsa americana e as "big techs" chinesas desandou após o regime de Xi Jinping abrir uma investigação contra a empresa Didi, de transportes por aplicativo, dona da 99 no Brasil. A empresa havia acabado de abrir capital na Bolsa americana, e a investigação congelou o funcionamento da plataforma, levando suas ações a perderem valor.

Também em julho, grandes empresas americanas —incluindo o Facebook, Twitter e Google— ameaçaram deixar de operar em Hong Kong caso Pequim aprovasse uma lei de proteção de dados que, para as plataformas, poderia permitir que a China perseguisse seus funcionários e usuários. O regime do país asiático negou que a lei tenha essa intenção.

Outros temas também geram confronto. O governo americano considera que a China comete um genocídio pela forma como lida com os muçulmanos uigures. Segundo denúncias de ativistas, eles seriam monitorados com uso da tecnologia e forçados a viver em campos de trabalho. Pequim diz que possui apenas centros de reeducação e que não aceita intervenções estrangeiras em assuntos internos.

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