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De facada em Bolsonaro a morte de Bin Laden, livro explora crimes contra políticos

Entre perfis dos autores, desdobramentos e teorias da conspiração, historiador inglês narra diversos atentados

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Carlos Graieb

Circulam três versões sobre a facada que quase matou Jair Bolsonaro na campanha de 2018.

Uma delas, recente, diz que tudo não foi mais que encenação. Trata-se de fake news tão sórdidas quanto as piores invenções do bolsonarismo digital.

Outra sustenta que uma conspiração comunista está por trás do atentado. Como Adélio Bispo de Oliveira, o homem que desferiu o golpe, já foi filiado ao PSOL, é natural que ele tenha sido apenas o instrumento de inimigos mais poderosos. É uma história que o próprio Bolsonaro continua a propagar, a despeito de todas as provas em contrário.

A terceira versão é a da Polícia Federal. Está calcada no interrogatório de quase 90 pessoas e na leitura de milhares de emails de Adélio Bispo. Conclui que ele agiu sozinho, corroborando o resultado de outra investigação, feita logo depois da facada.

A conclusão é consistente com a longa história dos assassinatos políticos, tema de "Day of the Assassins" (dia dos assassinos, sem edição no Brasil), o novo e vigoroso livro do historiador inglês Michael Burleigh.

Segundo Burleigh, por mais que seja tentador buscar explicações ocultas para crimes famosos, o fato é que para cada conspiração há um conjunto muito maior de crimes realizados por indivíduos solitários. Burleigh menciona o caso Bolsonaro —e não hesita em descrever Adélio Bispo como "um maníaco que afirmava agir em nome de Deus".

Outros padrões emergem do livro. Algumas épocas foram mais adeptas do assassinato político do que outras: aquelas dominadas por paixões religiosas ou ideológicas.

Capa do livro "Day of the Assassins" (dia dos assassinos, sem edição no Brasil), do historiador inglês Michael Burleigh
Capa do livro "Day of the Assassins" (dia dos assassinos, sem edição no Brasil), do historiador inglês Michael Burleigh - Divulgação

Nos séculos 16 e 17, católicos e protestantes recorreram a doutrinas filosóficas ou eclesiásticas para justificar diversos "tiranicídios". Uma segunda epidemia de assassinatos ocorreu no final do século 19, quando o anarquismo, o socialismo ou o niilismo guiaram as mãos de assassinos. Foi a era da "morte por -ismo", segundo Burleigh.

O autor cita, com alguma ambivalência, uma frase do estadista inglês Benjamin Disraeli (1804-1881): "Um assassinato jamais mudou a História". Parece que deseja concordar com ela, lastimando a loucura de quem acha que um único ato de violência simbólica pode transformar o mundo.

Mas, ao mesmo tempo, ele aceita que muitos assassinatos causaram transformações radicais (como o de Júlio César, em 44 a.C.) e até especula sobre as consequências de atentados que falharam (e se Hitler tivesse morrido na explosão da bomba preparada por Georg Elser, um carpinteiro, no começo da Segunda Guerra, em 1939?).

Seria errado, no entanto, dar a impressão de que a graça do livro está na formulação de uma "teoria do assassinato" ou mesmo de uma tipologia. Sua força vem da narrativa ágil de algo como duas dezenas de casos célebres, do Duque de Guise a JFK, de Franz Ferdinand a Osama bin Laden.

Especialmente detalhados são os perfis dos assassinos —exceto, é claro, quando a tarefa de matar é assumida por profissionais (como os espiões russos) ou se torna impessoal (como nos ataques por drone). Nesses casos, o autor cuida de explicar como o assassinato se converte em assunto para burocratas.

Burleigh menciona a certa altura a atmosfera "clara e fria" dos escritos de Maquiavel, e essas talvez sejam boas palavras também para o seu livro, que é pontuado por alguns julgamentos ácidos, mas em geral prefere deixar que os fatos falem por si. Como ao relatar, por exemplo, que os assassinos da jornalista maltesa Daphne Caruana Galizia cobraram 150 mil euros pelo serviço: 30 mil à vista e o saldo para dez dias.


Day of the Assassins: A History of Political Murder

  • Preço R$ 100,71 (capa comum), R$ 184,54 (capa dura) e R$ 79,16 (e-book)
  • Autor Michael Burleigh
  • Editora Pan Macmillan
  • Págs. 448
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