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Diplomata assume governo da Áustria depois de escândalo de jornalismo derrubar premiê

Oposição diz que ex-ministro Alexander Schallenberg, 52, seguirá adotando políticas do antecessor Sebastian Kurz

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Viena | Reuters

Dois dias após Sebastian Kurz, envolvido em investigações de corrupção e suborno, renunciar ao cargo de premiê da Áustria, um novo nome assumiu o posto nesta segunda-feira (11). Trata-se do ex-ministro das Relações Exteriores Alexander Schallenberg, 52.

O presidente austríaco, Alexander Van der Bellen, chancelou a escolha de Schallenberg. Diplomata de carreira, o novo premiê não tem longa trajetória na política institucional. A oposição, cética em relação a mudanças estruturais no governo, argumenta que ele apenas cumprirá as ordens de Kurz.

O ex-ministro das Relações Exteriores Alexander Schallenberg, novo premiê da Áustria - Leonhard Foeger - 11.out.21/Reuters

"Todos os partidos da oposição concordam que não há mudança. Kurz ainda tem todas as cartas em suas mãos, e o premiê designado faz parte desse sistema", disse Kai Jan Krainer, dos sociais-democratas, que integrou uma comissão parlamentar que investigou um possível caso de corrupção no governo anterior de Kurz, quando a coalizão se dava com o Partido da Liberdade (FPO).

Em um comunicado à imprensa, Schallenberg confirmou, em partes, os argumentos da oposição austríaca. O premiê disse que pretende trabalhar "muito próximo" de Kurz. "É claro que vou trabalhar em estreita colaboração", afirmou. "Acredito que as acusações que foram feitas [contra Kurz] são falsas e estou convencido de que, no final, vão descobrir que não houve nada."

O agora ex-primeiro-ministro, por sua vez, tuitou dizendo que não será um "premiê nas sombras". Ele é investigado por supostamente ter usado recursos do ministério das Finanças do país, entre 2016 e 2018, para financiar pesquisas e coberturas jornalísticas favoráveis a ele —à época, Kurz era ministro das Relações Exteriores. Também pesa sobre o político uma investigação de que teria dado declarações falsas a uma comissão parlamentar.

Ele nega as irregularidades e deve permanecer líder do Partido Popular (OVP) no Parlamento austríaco.

O presidente, ao confirmar o nome de Alexander Schallenberg para premiê, disse que "o governo, agora reorganizado, tem uma grande responsabilidade não apenas de continuar com sucesso os projetos nacionais, mas também de restaurar a confiança do público na política".

Schallenberg também terá o desafio de reorganizar a inédita aliança governista com o Partido Verde, de centro-esquerda, enfraquecida após o início das investigações contra Kurz.

O líder dos Verdes e atual vice-premiê, Werner Kogler, disse estar "feliz que haja a possibilidade de abrir um novo capítulo no trabalho da coalizão", que termina sua legislatura em 2024.

Analistas também projetam que o novo governo será de continuidade e que Kurz, fora do posto de premiê, mas dentro da arena política, seguirá ditando as regras. À agência de notícias AFP o cientista político Patrick Moreau descreveu Schallenberg como alguém íntegro e com ampla capacidade de comunicação.

Como não tem experiência em política doméstica e, além disso, deve a maior parte de sua carreira a Kurz, acrescentou o analista, o premiê seguirá aconselhado por seu antecessor. Os dois compartilham de bandeiras semelhantes, como a retórica nacionalista e anti-imigração.

A queda de Kurz, além dos impactos diretos para a aliança governista, pode simbolizar também o cenário de mudanças da centro-direita na Europa, de acordo com analistas ouvidos pelo jornal americano The New York Times.

Jovem e carismático, o ex-premiê remodelou seu partido, tradicional na Áustria, numa guinada para a ultradireita e, com isso, angariou apoiadores.

Atento à demanda de uma parcela da população austríaca insatisfeita com a crise dos refugiados na Europa, Kurz, em 2018, cortou benefícios sociais para estrangeiros, deixou de financiar cursos de alemão essenciais à integração deles e ordenou que só fossem avaliados pedidos de asilo de cidadãos que ainda não tivessem adentrado o país.

A abertura das investigações contra o líder do Partido Popular, porém, quebra o argumento da moralidade que a sigla tentava adotar.

“O que estamos vendo na Áustria é o colapso de uma nova narrativa para os partidos conservadores na Europa”, disse Thomas Hofer, consultor de política em Viena, ao New York Times. “Internacionalmente, o modelo Kurz foi algo que outros olharam de perto como uma possível resposta aos populistas de ultradireita.”

O cenário austríaco, diz, acende mais um alerta para a necessidade —e os desafios— da reinvenção da centro-direita europeia. Com um cenário político muito mais fragmentado do que no pós-guerras, as legendas desse espectro se veem no desafio de atrair pautas próprias. A estratégia de Kurz parece não ser um bom exemplo.

“Kurz é alguém que pegou um partido tradicional de centro-direita, arrastou-o para o modo populista e agora está em apuros”, disse o professor da Universidade de Oxford Timothy Garton Ash.

Com The New York Times

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