Milhares vão às ruas nos EUA em marchas pela defesa do direito ao aborto

Suprema Corte americana poderá rever a descriminalização da prática em julgamento de lei antiaborto do Mississippi

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Austin (Texas) e Washington | Reuters e AFP

Milhares de pessoas saíram às ruas neste sábado (2) em várias cidades dos Estados Unidos em uma série de atos em defesa do direito ao aborto.

As manifestações da Marcha das Mulheres, evento realizado anualmente desde 2017, foram convocadas por cerca de 200 organizações da sociedade civil em mais de 650 localidades em todos os 50 estados do país.

Pessoas seguram cartazes com prédio branco com cúpula redonda ao fundo
Manifestantes favoráveis ao direito ao aborto se reúnem em frente ao Capitólio, em Washington - Al Drago/Reuters

Neste ano, o foco é dar mais visibilidade à discussão acerca dos direitos reprodutivos, que os organizadores dos atos dizem estar sob ameaça nos EUA

“Este é um momento de urgência para pessoas em todo o país”, disse Rachel O’Leary Carmona, diretora-executiva da Marcha das Mulheres, à agência de notícias Reuters. “Muitas de nós crescemos com a ideia de que o aborto seria legal e acessível para todas nós, e ver isso sob risco real tem sido um momento de despertar”.

No Texas, estado em que entrou em vigor no início de setembro a lei antiaborto mais restritiva do país, os manifestantes se reuniram em frente ao Legislativo estadual, em Austin. O grupo carregava cartazes com críticas à legislação e ao governador Greg Abbott, do Partido Republicano.

Já na capital americana, Washington, o trajeto da manifestação incluiu a Suprema Corte, tribunal que garantiu o direito ao aborto nos Estados Unidos em 1973 e que poderá rever a decisão em um julgamento que será retomado durante a próxima sessão anual da corte, iniciada na próxima segunda-feira (4).

A Suprema Corte marcou para 1º de dezembro o início do julgamento sobre a validade de uma lei antiaborto do Mississippi que restringe a prática a partir da 15ª semana de gravidez. Caso o tribunal, que tem maioria de juízes conservadores, julgue que a lei estadual está de acordo com a Constituição, a decisão poderá significar um retrocesso no veredicto do caso Roe vs. Wade, que há 48 anos legalizou o aborto nos EUA.

Em um sinal de que a Suprema Corte pode estar disposta a restringir os direitos reprodutivos no país, o tribunal deixou de se pronunciar sobre um pedido de veto à lei antiaborto do Texas feito por entidades que defendem o direito à prática.

"As mulheres deveriam poder decidir o que fazer com seus corpos, ponto", disse Laura Bushwitz, 66, professora aposentada que compareceu ao protesto em Washington, à agência de notícias AFP. "Estou cansada que me digam o que posso ou não posso fazer. Ouviu, Suprema Corte?"

Atos em defesa do direito ao aborto também foram registrados em Jackson, capital do Mississippi, assim como Nova York, Los Angeles, Chicago, entre outras cidades.

Atos pelo mundo

Ao longo da última semana, manifestações encabeçadas por grupos de mulheres ocorreram em vários países, em ocasião do Dia Internacional do Aborto Seguro, celebrado em 28 de setembro.

Atos em defesa do direito ao aborto foram realizados em México, Peru, Brasil, El Salvador e Espanha nos últimos dias.

No México, os protestos comemoraram a decisão da Suprema Corte, que descriminalizou o aborto no país no último dia 7 de setembro. Os estados do país ainda precisam regulamentar a prática.

O direito ao aborto tem avançado em outros países da América Latina nos últimos anos. Na Argentina, a prática foi legalizada após decisão do Congresso em dezembro do ano passado. Já no Chile, a Câmara aprovou na última terça-feira (28) o direito ao aborto até a 14ª semana de gestação —o projeto segue para análise do Senado.

Na Europa, San Marino aprovou a descriminalização do aborto em referendo realizado no último domingo (26). San Marino é um principado católico cujo território está inteiramente dentro do da Itália, e as mulheres que queriam realizar um aborto geralmente iam a cidades italianas, onde o procedimento é legalizado há mais de 40 anos.

Já na Ásia, a China sinalizou que pretende limitar os abortos em meio à luta contra o envelhecimento da população. Um guia de políticas para mulheres e crianças nos próximos dez anos publicado na última segunda-feira (27) incluiu a seguinte diretriz: "Reduzir o aborto que não tenha indicação médica". O governo não deu detalhes sobre a iniciativa, e a menção gerou alarme entre especialistas e parte da sociedade chinesa, que temem retrocesso nos direitos das mulheres.

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