O governista Partido Popular da Áustria (ÖVP) designou nesta sexta-feira (3) o ministro do Interior do país, Karl Nehammer, como novo líder da legenda, o que deve levá-lo ao cargo de primeiro-ministro do país.
Conservador e conhecido por ser linha-dura em políticas anti-imigração, Nehammer, 49, deve governar em coalizão com os Verdes, sócio do governo de direita no Executivo desde janeiro de 2020, e já anunciou uma reforma ministerial. A data da posse ainda não foi definida.
Nehammer acumula no currículo polêmicas como a expulsão de crianças imigrantes no meio da noite e a tentativa de enviar cidadãos afegãos de volta a Cabul quando o Talibã estava prestes a retomar o poder.
Em entrevista após ser nomeado líder do partido, ele disse que planeja manter os temas centrais de segurança do atual governo. "É importante para mim, como novo líder do Partido Popular, que mantenhamos nossos valores, que digamos claramente o que é necessário quando se trata da questão da migração e do asilo, quando se trata da questão da segurança para as pessoas em nosso país", disse.
Ele deve assumir o lugar de Sebastian Kurz, que anunciou na quinta-feira (2) sua aposentadoria da política após uma carreira meteórica frustrada por suspeitas de corrupção —ele nega irregularidades.
Kurz, que assumiu o cargo de primeiro-ministro com 31 anos, renunciou em outubro após a abertura de investigação contra ele, mas se manteve no comando do partido. Na despedida, nesta quinta, ele afirmou que deseja iniciar "um novo capítulo" e afirmou que está "exausto" das acusações.
A renúncia como líder do partido dividiu a legenda e levou dois de seus aliados mais próximos, Alexander Schallenberg, que assumiu o cargo de primeiro-ministro de forma interina em outubro, e Gernot Bluemel, ministro das Finanças, a deixarem seus cargos.
Bluemel está sob investigação em um outro caso de corrupção e também nega irregularidades. Ele e Kurz disseram que ter filhos recém-nascidos motivou as decisões. "Kurz esperava, a princípio, voltar rapidamente e por isso seu partido colocou Schallenber, que nunca teve a ambição" de liderar o governo, diz o cientista político Thomas Hofer. A situação é "diferente com Karl Nehammer, que deve imprimir sua marca e indiretamente romper com a equipe de Kurz" para colocar gente nova no gabinete, afirma.
Para Julia Partheymuller, pesquisadora da Universidade de Viena, a chegada do novo premiê "confirma o fim da era Kurz", que comandou o país pela primeira vez em 2017 em coalizão com o Partido da Liberdade, de extrema direita. Desde que começou a investigação contra o ex-premiê, a maioria das pesquisas de opinião mostra que o ÖVP perdeu uma vantagem de pelo menos dez pontos percentuais sobre seus rivais mais próximos, os sociais-democratas da oposição, que agora dividem a preferência da opinião pública.
Nehammer iniciou sua carreira no Exército, no qual chegou a ser tenente, antes de ir para a TV, dar uma guinada para a comunicação política e ser eleito deputado em 2017. Em janeiro de 2020, foi nomeado ministro do Interior. Os especialistas o consideram um dirigente leal ao seu partido, mas ressaltam que ele não é próximo de Kurz. Ele deve assumir o comando da Áustria em um momento em que a alta de casos de Covid-19 fez o país voltar a entrar em lockdown para tentar aliviar a pressão sobre hospitais. O político afirmou que o combate ao coronavírus será uma prioridade em seu governo.
O provável novo premiê afirmou ainda que trabalhará em estreita colaboração com o presidente Alexander Van der Bellen, que supervisiona períodos de transição, para nomear todos os seus ministros conservadores o mais rapidamente possível. É improvável que Van der Bellen se oponha a qualquer uma das escolhas de Nehammer. Os Verdes disseram que sua equipe permanecerá inalterada.
Magnus Brunner será nomeado ministro das Finanças, e Schallenberg retornará ao seu antigo cargo de ministro das Relações Exteriores, afirmou Nehammer.
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