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Coreia do Norte: por que país tem feito tantos testes de mísseis em janeiro

Regime comunista de Pyongyang lançou uma série de mísseis de curto alcance, que podem ser respostas a pressões dos EUA e ao cenário interno

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A Coreia do Norte disparou dois mísseis balísticos de curto alcance sobre o mar que banha o Japão, na mais recente série de testes. Segundo as Forças Armadas da Coreia do Sul, relatos indicam que os mísseis foram lançados de um aeroporto próximo a Pyongyang nesta segunda (17), no horário local.

O Japão também confirmou a realização do teste. Foi o quarto lançamento de mísseis pela Coreia do Norte em duas semanas. A Organização das Nações Unidas (ONU) proíbe a Coreia do Norte de realizar testes balísticos e de armas nucleares, além de ter imposto duras sanções ao país.

Sul-coreanos em estação de trem de Seul assistem a noticiário sobre teste de mísseis na Coreia do Norte - Jung Yeon-je - 17.jan.22/AFP

O país asiático, no entanto, descumpre a proibição com frequência, e o líder Kim Jong-un prometeu fortalecer as defesas norte-coreanas. Na sexta-feira, Pyongyang disse que havia disparado mísseis balísticos de curto alcance, enquanto dias antes conduzira dois testes do que alegou serem mísseis hipersônicos, que são mais difíceis de detectar.

Por quê?

A frequência dos testes e o momento, neste mês de janeiro, são incomuns. A Coreia do Norte tende a conduzir seus lançamentos para marcar eventos de grande importância política no país ou como um sinal de sua insatisfação com exercícios militares realizados em conjunto pela Coreia do Sul e pelos EUA.

Os lançamentos geralmente servem para o desenvolvimento de capacidades na área de mísseis e para manter sua prontidão operacional. Segundo Ankit Panda, especialista do instituto Carnegie Endowment for International Peace, os mais recentes testes parecem confirmar a tendência.

Ao mesmo tempo, "Kim Jong-un também tem considerações domésticas: numa época de dificuldade econômica, esses lançamentos lhe permitem passar a mensagem de que as prioridades de defesa nacional não serão negligenciadas", afirmou Panda à BBC.

A Coreia do Norte tem enfrentado dificuldades com uma escassez de alimentos e uma economia fraca. São consequências de um bloqueio imposto pelo próprio regime, para manter a Covid-19 longe de suas fronteiras, o que suspendeu o comércio com a China, seu maior aliado econômico e político —embora tenha havido relatos de que esse comércio possa ser retomado em breve.

Kim admitiu recentemente que seu país enfrentava "uma grande luta de vida ou morte" e também afirmou que aumentaria seu poderio militar, incluindo o desenvolvimento de mísseis hipersônicos.

As negociações com os EUA, que querem que a Coreia do Norte abandone suas armas nucleares, ficaram paralisadas desde que o presidente Joe Biden tomou posse. Washington impôs suas primeiras sanções à Coreia do Norte na semana passada, em resposta a alguns dos testes realizados no início de janeiro.

O lançamento de segunda-feira poderia, então, ser "uma reação mais dura" às punições, mostrando que "o Norte não tem intenção de se deixar intimidar pelos EUA", afirmou Park Won-gon, professor de estudos norte-coreanos da Ewha Womans University, da Coreia do Sul.

Tem a ver com a China?

Os lançamentos acontecem apenas semanas antes dos Jogos Olímpicos de Inverno, evento extremamente sensível politicamente e de grande prestígio para a China e que está previsto para começar em 4 de fevereiro, em Pequim. "Eu imaginaria que a China não gostaria de ver a Coreia do Norte testando mísseis em sua vizinhança às vésperas de Pequim abrir sua Olimpíada", disse no Twitter o analista Chad O'Carroll, especializado em Coreia do Norte. "Se isso continuar, não devemos eliminar a possibilidade de [a Coreia do Norte] estar incomodada com a China por alguma coisa."

Panda, porém, disse que, embora "Pequim possa não estar feliz com esses testes, eles provavelmente serão suficientemente toleráveis", considerando que não envolvem o ensaio de armas nucleares nem de mísseis de longo alcance, que ele chamou de "limites da China".

Com relatos recentes de que a Coreia do Norte possa estar retomando o comércio com a China em breve, "o momento escolhido sugere que Pequim esteja mais do que conivente com as provocações de Pyongyang; a China está apoiando a Coreia do Norte economicamente e coordenando [com os norte-coreanos] militarmente", disse à BBC o especialista em Coreia do Norte Leif-Eric Easley.

"Considerando sua relação estratégica com a China, a liderança norte-coreana provavelmente vai encerrar seus testes de mísseis e exercícios militares deste início de 2022 antes do Jogos Olímpicos de Pequim."

"O momento escolhido também sugere que a Coreia do Norte não deseja ficar quieta antes da eleição presidencial na Coreia do Sul [marcada para 9 de março] ou parecer enfraquecida enquanto a China envia ajuda por meio da fronteira."

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