Descrição de chapéu Coreia do Norte

Coreia do Norte celebra aniversário em desfile com ditador calado e sem armas nucleares

Ausência de mísseis balísticos e de discurso de Kim indicam foco do regime em questões domésticas

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Seul | AFP e Reuters

A Coreia do Norte comemorou seu 73º aniversário com um desfile militar marcado pelo silêncio do ditador Kim Jong-un e pela ausência de mísseis balísticos —elementos que com frequência eram exibidos em celebrações semelhantes nos últimos anos.

As imagens divulgadas pela agência de notícias estatal KCNA nesta quinta-feira (9) mostram uma multidão de soldados perfeitamente enfileirados, carros militares, fogos de artifício e uma ala inteira de pessoas vestidas com trajes de proteção contra materiais tóxicos, como armas químicas e radiação.

A KCNA disse ainda que as autoridades de saúde norte-coreanas "estavam cheias de entusiasmo patriótico para exibir em todo o mundo as vantagens do sistema socialista, enquanto protegiam firmemente a segurança do país e de seu povo contra a pandemia mundial".

Desfile militar em celebração do 73° aniversário da Coreia do Norte, em Pyongyang - KCNA - 9.set.21/AFP

Apesar da declaração, nenhuma das milhares de pessoas reunidas na praça Kim Il-sung, na capital Pyongyang, usava máscaras de proteção contra o coronavírus nas fotos e vídeos divulgados pela KCNA —com exceção do grupo que usava os trajes de segurança de cor laranja.

A Coreia do Norte não confirmou oficialmente nenhum caso de Covid-19, mas fechou fronteiras e impôs medidas de prevenção rígidas. Kim Jong-un compareceu ao evento e assistiu ao desfile das forças paramilitares e de segurança pública dos Trabalhadores Camponeses da Guarda Vermelha, a maior unidade de defesa civil do país. O contingente estimado em quase 6 milhões de soldados foi uma força de reserva criada após a retirada das tropas chinesas que lutaram pelo Norte na Guerra da Coreia (1950-1953).

Em 2020, o ditador gabou-se das capacidades nucleares da Coreia do Norte e exibiu mísseis balísticos intercontinentais nunca vistos durante um desfile militar no país. Em janeiro deste ano, na véspera da posse de Joe Biden na Casa Branca, outra parada apresentou projéteis semelhantes para submarinos, que foram descritos pela KCNA como "a arma mais poderosa do mundo".

Neste ano, porém, Kim saudou a população, mas não discursou —ou ao menos sua fala não foi divulgada.

Já a exposição de materiais bélicos ficou limitada a armas convencionais, lançadores de foguetes e tratores que carregavam outros tipos de mísseis, que, segundo a agência estatal, podem ser usados "para atacar os agressores e suas forças vassalas com poder de fogo aniquilador em uma emergência".

As imagens da KCNA também mostraram Kim cumprimentando com apertos de mãos um grupo de pessoas que o aplaudiam e jantando com outras autoridades do país.

Vestido com um terno cinza de padrão ocidental, Kim também estava visivelmente mais magro do que em aparições anteriores. Especialistas ouvidos pela imprensa americana destacaram também uma postura de mais energia por parte do ditador.

Para Yang Moo-jin, professor da Universidade de Estudos da Coreia do Norte em Seul, a percepção da ausência de armas estratégicas e o foco nas forças de segurança pública são indícios de que Kim está concentrado em questões domésticas, como o combate à Covid-19 e a economia do país.

"O desfile parece ter sido estritamente planejado como um festival doméstico com o objetivo de promover a unidade nacional e a solidariedade do regime", disse Yang à agência de notícias Reuters.

Para ele, os fatos de não haver armas nucleares e de o ditador não ter discursado na celebração foram tentativas de "manter o evento discreto e deixar espaço de manobra para futuras negociações com os Estados Unidos e com a Coreia do Sul".

Desde 2019, as negociações para persuadir a Coreia do Norte a abrir mão de suas armas nucleares e de seu arsenal de mísseis balísticos estão paralisadas. À época, uma cúpula entre Kim e o então presidente americano Donald Trump no Vietnã fracassou.

O governo de Joe Biden disse que vai usar a diplomacia para alcançar a desnuclearização do regime, mas não mostrou disposição em atender às demandas norte-coreanas pela flexibilização das sanções ocidentais impostas ao país.

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