Descrição de chapéu Coronavírus Coreia do Norte

Kim Jong-un divulga 'erro grave' em luta da Coreia do Norte contra Covid-19

Mídia estatal não detalha problema, mas analistas veem pedido de ajuda internacional; dois dias antes, ditadura informara zero caso da doença no país

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Bruxelas

Dois dias depois de ter afirmado à OMS (Organização Mundial da Saúde) que não havia casos de Covid-19 na Coreia do Norte, o ditador Kim Jong-un demitiu vários membros da elite do Partido dos Trabalhadores devido a um "grave incidente” relacionado ao coronavírus, “o que criou uma grande crise para o segurança do país e de seu povo”.

O alerta foi feito em discurso durante reunião do comitê executivo do partido governante, segundo a agência de notícias estatal KCNA. Kim afirmou que os funcionários responsáveis “negligenciaram decisões importantes do partido, que apelou por medidas organizacionais, materiais, científicas e tecnológicas para apoiar o trabalho antiepidêmico prolongado em face de uma crise de saúde global”.

Desde o começo da pandemia, a Coreia do Norte, já então considerado o país mais fechado do mundo, isolou-se ainda mais, proibindo todas as viagens internacionais, inclusive para as vizinhas China e Rússia, e restringindo as domésticas.

O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, em reunião do Partido dos Trabalhadores em Pyongyang
O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, em reunião do Partido dos Trabalhadores em Pyongyang - 29.jun.21/KCNA/KNS/AFP

O objetivo era evitar que a entrada do coronavírus agravasse ainda mais a já abalada situação humanitária do país, embora seja quase impossível verificar a afirmação, feita pelo governo, de que os norte-coreanos estavam livres de contaminação, como questionou à época Chad O’Carroll, principal executivo do Grupo Korea Risk (GKR), consultoria e serviço de informação especializado na Coreia do Norte.

Quinhentos e dezesseis dias após fechar ainda mais o país, Kim afirmou que as restrições impostas para frear a pandemia seriam mantidas, embora analistas apontem que a medida gera um forte impacto sobre a frágil economia local, para a qual o turismo é uma das poucas possibilidades legais de obtenção de moeda forte.

O fechamento de fronteiras afeta também o comércio com a China, majoritariamente ilegal, mas permitido extra-oficialmente pela ditadura norte-coreana, por substituir falhas de abastecimento da economia estatal. Em outro discurso neste mês, Kim afirmou que a Coreia do Norte passava pela “pior situação de todos os tempos”.

Com estimados 26 milhões de habitantes, o país espera receber 1,7 milhão de doses de vacinas por meio do consórcio Covax, da OMS, que compra e distribui imunizantes para países em todo o mundo.

A entidade, no entanto, tem enfrentado atrasos nas remessas devido principalmente à falta de capacidade global de produção. A Covax também aponta falta de estrutura e preparo para receber, armazenar e distribuir os fármacos —que, a depender do fabricante, exigem ultracongelamento.

Na semana passada, Kim pediu reforço das medidas de controle para criar uma “luta antipandemia perfeita”, relatou o serviço noticioso independente NK News, editado por O’Carroll. A agência também citou a mídia oficial alertando para o perigo da variante delta, cerca de 60% mais contagiosa que a alfa.

A divulgação nesta terça de que o expurgo incluía membros do órgão máximo de decisão (o chamado “presidium”), segundo a KCNA, e “uma importante figura militar”, segundo a NK News, corresponde a uma admissão de que há Covid-19 na Coreia do Norte, de acordo com dissidentes ouvidos pela agência de notícias AFP na Coreia do Sul.

Um deles, o pesquisador do Instituto Mundial de Estudos da Coreia do Norte em Seul Ahn Chan-il, afirmou que a divulgação pela agência estatal norte-coreana das advertências feitas por Kim indica que o país precisa de ajuda internacional. “Caso contrário, eles não teriam feito isso, pois inevitavelmente envolve o reconhecimento do próprio fracasso do regime em seus esforços antiepidêmicos”, afirmou ele.

A última vez que a Coreia do Norte admitiu publicamente um possível surto de Covid-19 foi em julho de 2020, quando um homem cruzou a mais patrulhada fronteira do país, com a Coreia do Sul. A cidade de Kaesong, onde ficam as principais bases de controle da divisa, ficou fechada por 20 dias. Um suposto surto, porém, não foi confirmado oficialmente.

Também não há certeza sobre os dados relatados pelo país à OMS, sobre o estágio da pandemia. O relatório semanal da entidade não tem, por exemplo, informações sobre quantos norte-coreanos estão em quarentena, dado não compartilhado pela ditadura desde dezembro do ano passado.

Até aquele momento, o país informara ter isolado mais de 32 mil habitantes e 382 estrangeiros, todos liberados da quarentena sem contaminação confirmada.

Na última segunda (28), o regime de Kim afirmou que até 17 de junho foram realizados testes em 31.083 pessoas e que nenhum caso do coronavírus foi encontrado. Os últimos exames incluíam 149 pessoas com doenças semelhantes à gripe ou “infecções respiratórias agudas graves”, segundo relatório da Coreia do Norte à OMS. Na semana passada, o Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Sul disse que o país estaria disposto a doar vacinas para seu vizinho do norte.

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