Descrição de chapéu Fake News YouTube

Organizações de checagem de 46 países cobram ações do YouTube contra desinformação

Medidas sugeridas incluem mais transparência e parcerias com agências

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São Paulo

Mais de 80 organizações de checagem de fatos, de 46 países, enviaram nesta quarta-feira (12) uma carta à presidente-executiva do YouTube, Susan Wojcicki, solicitando que a empresa tome ações efetivas para combater a desinformação na plataforma, que pertence ao Google.

Uma das medidas sugeridas é que o YouTube estabeleça parcerias estruturadas com checadores e assuma a responsabilidade de investir sistematicamente em iniciativas independentes de verificação de informações ao redor do mundo.

Outros passos apontados como prioritários são dar transparência a como a desinformação se propaga na plataforma, medidas contra violadores reiterados e ampliação dos esforços para idiomas que não o inglês.

Mãos de manequim seguram smartphone com aplicativo do YouTube ligado
Gabriel Cabral/Folhapress

No documento, as organizações signatárias pedem uma reunião com Wojcicki para discutir as sugestões e uma colaboração com a plataforma. "Esperamos que considere a implementação dessas ideias para o bem público e para fazer do YouTube uma plataforma que realmente dê seu melhor para evitar que a desinformação e os boatos sejam usados como arma contra seus usuários e a sociedade", diz o texto.

Entre as mais de 80 organizações que assinam a carta, há duas representantes brasileiras —Aos Fatos e Agência Lupa—, além de veículos de outros países da América Latina, como Argentina, Bolívia e Colômbia.

Também subscrevem o documento organizações dos EUA, incluindo a unidade de checagem do jornal The Washington Post, e de nações como Alemanha, Espanha, Itália, Reino Unido, Nigéria, Etiópia, África do Sul, Índia, Mianmar, Filipinas e Austrália. "Todas essas agências chegaram à mesma conclusão: o YouTube é um dos principais canais de desinformação no mundo e as políticas atuais que a plataforma diz estar aplicando não estão funcionando", afirma Carlos Hernández-Echevarría, do veículo espanhol Maldita.es.

Na avaliação das signatárias, a política de moderação da plataforma deveria estar mais voltada a fornecer contexto aos usuários, para além da decisão de remover ou não determinado conteúdo.

"Isso só pode acontecer se houver uma colaboração significativa e estruturada entre os checadores de fatos e o YouTube, com a plataforma assumindo a responsabilidade e investindo sistematicamente em esforços independentes de verificação de fatos em todo o mundo", diz a carta.

No final de 2019, o site anunciou que passaria a exibir painéis de checagem de fatos para determinadas buscas, de acordo com a verificação de veículos do tipo. A classificação usada pelo YouTube vem da plataforma de código aberto Schema.org ClaimReview.; nela, agências inserem por um código HTML os dados de sua apuração, possibilitando que diferentes veículos identifiquem conteúdos checados.

As organizações veem a medida como insuficiente. Hoje, quando o painel aparece, ele se refere ao termo da pesquisa como um todo; para os checadores, as verificações deveriam aparecer no vídeo específico. Eles dizem ainda que há pouca transparência sobre como a plataforma usa conteúdo verificado.

"A questão não é prioritariamente financeira, é discutir o modo de operação do YouTube que privilegia a disseminação de conteúdos desinformativos e que é totalmente contraditório com o discurso de que existe uma parceria com fact-checkers [checadores de fatos]", diz Natália Leal, diretora-executiva da Lupa.

Em nota, o YouTube afirmou ter investido em políticas e produtos em todos os países em que opera "para conectar as pessoas a conteúdo qualificado, reduzir a disseminação de informação limítrofe e remover vídeos que violam as políticas" da plataforma. Segundo a empresa, o site mantém o "consumo de desinformação limítrofe recomendada significativamente abaixo de 1% de todas as visualizações no YouTube". "Estamos sempre procurando maneiras significativas de melhorar e continuaremos a fortalecer nosso trabalho com a comunidade de checagem de fatos."

Diferentemente da Meta, grupo do qual faz parte o Facebook, o YouTube não possui um programa estabelecido de parcerias com agências de checagem. A carta desses veículos aponta ainda que a plataforma deve agir contra infratores reincidentes, sugerindo que o algoritmo deixe de recomendar vídeos de canais que reiteradamente têm conteúdo classificado como desinformação ou boato. "Especialmente aqueles que monetizam esse conteúdo dentro e fora da plataforma."

No ano passado, em meio a uma intensa campanha de desinformação sobre o processo eleitoral e as urnas, o ministro Luís Felipe Salomão, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), determinou a suspensão de repasses a páginas de determinados perfis e canais bolsonaristas. Segundo relatório enviado pelo Google ao órgão, o valor pago desde 2019 aos investigados por disseminar fake news somaram US$ 3 milhões, conforme mostrou a Folha.

De acordo com as regras atuais, vídeos que violam as diretrizes das comunidades são removidos. No caso de violações, a plataforma possui um sistema de três avisos: se o canal receber os três em 90 dias, é removido permanentemente; cada aviso expira 90 dias depois de emitido.

Os checadores também consideram que o YouTube precisa se comprometer com a transparência sobre como a desinformação se propaga na plataforma. Nesse sentido, apontam como possíveis medidas o apoio a pesquisas independentes sobre o alcance e o impacto de campanhas de desinformação.

Os signatários da carta ainda defendem a ampliação dos esforços para línguas além do inglês, bem como o fornecimento de dados específicos por país e idioma. Os únicos dados apresentados por país hoje nos relatórios de transparência da empresa se referem ao total de remoções. Conforme mostrou a Folha, uma regra do YouTube que prevê remoção de conteúdos com alegações infundadas de fraude eleitoral era, até o primeiro semestre de 2021, restrita aos EUA e depois foi ampliada apenas para a Alemanha.

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