Boris Johnson canta 'I Will Survive' em reunião com novo diretor de Comunicações

Premiê britânico renova equipe após demissões em meio a crise por festas durante a pandemia

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Londres | Reuters

Em meio à escolha de novos nomes para seu gabinete enquanto enfrenta uma crise política, o premiê britânico, Boris Johnson, cantou o clássico do pop "I Will Survive" (eu vou sobreviver), de Gloria Gaynor, com seu novo diretor de Comunicações.

Guto Harri, ex-jornalista da BBC nomeado pelo primeiro-ministro no sábado (5), relatou o caso em sua primeira entrevista, na qual afirmou ao site galês Golwg360 que Boris "não é um completo palhaço".

O dueto ocorreu quando Harri —que já havia trabalhado com o premiê na Prefeitura de Londres— se apresentou para o trabalho. "Estávamos rindo. Então eu perguntei: ‘Você vai sobreviver, Boris?’. E ele, em sua voz propositalmente profunda e lenta, começou a cantar um pouco enquanto terminava a frase: 'I Will Survive'."

Premiê britânico, Boris Johnson, visita centro de oncologia em Kent, no Reino Unido
Premiê britânico, Boris Johnson, visita centro de oncologia em Kent, no Reino Unido - Gareth Fuller/Reuters

O diretor de Comunicações contou que o premiê o convidou para emendar a próxima estrofe, que diz "você tem toda sua vida para viver", no que Boris continuou "eu tenho todo o meu amor para dar". "Então tivemos um pouco de diversão com Gloria Gaynor."

O porta-voz do líder britânico se recusou a comentar sobre o teor da conversa entre os dois e se houve de fato a cantoria. "Não vou entrar nos detalhes de conversas privadas", afirmou. "Mas, como se pode esperar, os dois são antigos colegas."

Boris enfrenta uma crise motivada pelas festas na sede do governo quando encontros eram proibidos pelas regras de confinamento impostas como contenção da pandemia. Na última semana, cinco assessores próximos renunciaram aos cargos, dos quais três estavam ligados aos escândalos.

Entre os demissionários estavam o chefe de gabinete do premiê, Dan Rosenfield, o diretor de Comunicações, Jack Doyle, e o secretário particular Martin Reynolds —o pivô de um dos casos do chamado "partygate", por ter enviado um email convidando funcionários do governo para uma festa, com a frase "por favor [...] traga sua bebida!".

As demissões vieram na esteira da publicação de um relatório feito pelo governo que apontou "falhas de liderança e de julgamento" de diferentes membros da gestão, ao permitirem a realização de eventos enquanto o país estava sob duras restrições —Boris prometeu uma revisão das regras de Downing Street após a divulgação.

O documento também descreveu o comportamento acerca das reuniões como "difícil de justificar", criticou os erros dos que estão "no coração do governo" —sem citar Boris— e recomendou políticas de proibição de consumo de bebidas alcoólicas em locais de serviço público, além da criação de canais de denúncia.

A apuração abrange 16 eventos distribuídos em 12 datas, entre maio de 2020 e abril de 2021, incluindo reuniões de servidores no jardim de Downing Street, despedidas de funcionários, noite de jogos às vésperas do Natal e até uma festa de aniversário para o premiê.

Os encontros também são investigados criminalmente pela Polícia de Londres, que, segundo o jornal britânico The Guardian, já recebeu 300 imagens e 500 páginas de documentos relacionadas aos eventos.

Boris tem pedido desculpas pelos episódios, mas sua popularidade vem caindo drasticamente —entre os britânicos, mas também no Parlamento e no seu partido. À insatisfação com os problemas políticos se somam, para os ingleses, o aumento no custo de vida e altas sucessivas na taxa de juros.

O próprio premiê piorou sua situação e vem sendo alvo de críticas por ter acusado, no dia 31, o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, de permitir que o ex-apresentador da BBC Jimmy Savile escapasse da Justiça. O jornalista morreu em 2011, aos 84 anos, e pouco depois foram reveladas denúncias de que ele teria abusado de centenas de pessoas, incluindo uma menina de oito anos. Saville nunca foi processado.

À época, Starmer​ estava à frente da Procuradoria britânica, mas não teve envolvimento direto no caso, embora mais tarde tenha pedido desculpas por eventuais falhas durante o episódio. A ligação entre o nome do ex-apresentador e do hoje líder do partido de oposição é popular em teorias da conspiração geralmente difundidas por grupos de extrema direta.

Nesta segunda (7), exatamente uma semana depois de Boris ter acusado seu opositor, Starmer teve que ser escoltado pela polícia de Londres após ser perseguido por manifestantes antivacina que o chamavam de "traidor" e questionavam sobre o caso Saville. Horas depois, o premiê condenou, em sua conta no Twitter, os ataques contra o líder trabalhista e chamou o episódio de " absolutamente vergonhoso".

A acusação sem provas também foi o motivo para o pedido de demissão de Munira Mirza, chefe de política do governo, que trabalhava com Boris havia 14 anos. Segundo ela escreveu em sua carta de demissão, o premiê fez uma "denúncia enganosa" e "não havia base razoável ou justa para essa alegação".

A quinta demissionária foi Elena Narozanski, especialista em política educacional e conselheira para mulheres, igualdades e extremismo. Antes disso, ela já havia trabalhado como assessora da ex-primeira-ministra Theresa May.

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